Poema de agora: OLHO NOS OLHOS* – Ori Fonseca

Ilustração: detalhe de São Jerônimo no Deserto, de Leonardo da Vinci.

OLHO NOS OLHOS*

Eu vejo a luz nos olhos de meu filho,
Aquele brilho, amado Deus, foi meu.
Não dei por mim de quando se perdeu,
De quando se fez treva o que era brilho.

O tempo em tudo é fogo de rastilho,
Trem sobre um trilho que se corroeu.
Não sei dizer de como se esqueceu,
Nalguma curva, de seguir o trilho.

Teus olhos, pobre filho, são passados,
Cheios do brilho que a loucura atrai,
Mas no pavio do tempo a luz se esvai.

Ontem, olhei meu pai de olhos cansados;
Hoje, os meus olhos são enevoados
Da mesma névoa que cegou meu pai.

Ori Fonseca

* A palavra “olho”, do título, não é substantivo, mas o indicativo presente do verbo “olhar” na primeira pessoa do singular.
16:44

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