OLHO NOS OLHOS*
Eu vejo a luz nos olhos de meu filho,
Aquele brilho, amado Deus, foi meu.
Não dei por mim de quando se perdeu,
De quando se fez treva o que era brilho.
O tempo em tudo é fogo de rastilho,
Trem sobre um trilho que se corroeu.
Não sei dizer de como se esqueceu,
Nalguma curva, de seguir o trilho.
Teus olhos, pobre filho, são passados,
Cheios do brilho que a loucura atrai,
Mas no pavio do tempo a luz se esvai.
Ontem, olhei meu pai de olhos cansados;
Hoje, os meus olhos são enevoados
Da mesma névoa que cegou meu pai.
Ori Fonseca
* A palavra “olho”, do título, não é substantivo, mas o indicativo presente do verbo “olhar” na primeira pessoa do singular.
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