Poema de agora: Página Três – Luiz Jorge Ferreira

Pagina Três

Em minha’alma tem um criadouro para cães de guarda aposentados, e tartarugas míopes…
Meu coração…não…está com o guarda- chuva aberto, mas sem lugar para olhares dispersos, abraços frouxos e recordações oriundas de Abril.
A galope minha sombra corre atrás de mim…menino.
E embaraça meus cabelos com linhas de pipas com as quais colori o céu de Outubro.
Mas os cães e as tartarugas …me reconhecem na terceira estrofe do Hino Nacional, no quarto Girassol de Van Gogh, e no dedo médio de Cristo …contraído na cruz.

Sobre o guarda chuvas …não chuvas…tempo a galope…ontem estava eu…na mesma estrofe.

Hoje um senhor de tez descolorida, cabelos ralos, e diálogo em Birmanês com Tartarugas do Barigui, e cães saídos do Quadro de Matisse…
Faz esforço para lembrar o Canto dos Cantos de Marabaixo…aliembaixo …
onde a chuva adocica…as trevas criadas por uma lua pálida sonolenta debaixo do toldo rasgado do Circo Garcia.
O tempo é leão, domador, bela das facas, contorcionista, aplausos e solidão.

Foto: Rádio Câmara

É com ela que toco um dobrado.
Sob um guarda-chuva molhado.
De água morna do olhar, salgada de sal.

Luiz Jorge Ferreira

*Osasco…18.02.2021.

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