Poema de agora: PRECE – Ori Fonseca

PRECE

Ó Deus, tira-me a mente
Para que eu te creia
Cega-me os olhos
Para que eu não veja
Corta-me as pernas
Pra que eu não me mova.
Sem isso, Pai,
Continuarei a pensar e duvidar
Continuarei a ver teus filhos abandonados
À miséria, à escravidão, ao terror de tiranos
Continuarei a caminhar em busca da verdade
Longe de tuas linhas tortas.

Senhor, desfaze-me, te peço
Não sou digno de mentir contigo
Não sei contar tuas histórias falsas
Não quero iludir com tua Palavra.

Tua Luz é fria para mim
Tua Luz é cega
Tua Luz não guia
Tua Luz não brilha
Tira-me o ar, Criador
Senhor da minha dúvida
Pai absoluto da minha certeza.

E perdoa-me, te peço
Por muitos que humilham te louvando
Por tantos que ferem em teu nome
Por todos os que matam te clamando
Não sabem eles, teus filhos órfãos, que não sabes nada.

Por fim, deixa-me em paz, ó Pai
Por ti houve fogueiras de gente
Houve guerras sangrentas
Houve gritos de horrores
Houve descaminho, mentira e morte
Houve outros deuses amparados em ti.

Dá-me o sono tranquilo da tua inexistência.

Amém!

Ori Fonseca

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