Poema de agora: Ressaca dessa chuva de você – @juliomiragaia

Ressaca dessa chuva de você

Atravessar a rua sob o sol trevalescente
De uma tarde de janeiro,

Jogar no precipício da garganta
Qualquer droga que se aspire,
Que se beba ou que se fume,

Coar no filtro verde
O que se cinza, o que se enroxa,
O que se marca e o que se apaga,

Não rir do que se risca pelo labirinto porre
Dessa parede amarga,

Saltar da fantasia iluminada das questões
Fotografadas na utopia da floresta muda,

Nadar no rio do esquecimento
Com as mãos cheias de remos e de ventos falsos,

Cantar com esses ossos-arma para enfrentar as facas
De ecos do futuro,

Catar pela desordem dos lençóis e da ressaca do domingo
O ódio dessa sede em chama,

Cuspir no peito do poema imundo,
Engajado de ternura e nada,

Limpar o chão da casa com um pano
Sujo de canções embebecidas de
Preguiça e gozo,

Pensar que pés enamoravam pela madrugada
Enquanto a chuva ria.

Júlio Miragaia

* Belém-PA, janeiro de 2016.

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