Poema de agora: Sete – Arley Amanajás – @arley_amanajas

Sete

Todo dia é isso, a coisa se repete
o lixo no poder, e a gente engolindo o chorume
é a burguesa batendo na preta, e o diabo se diverte
o povo comendo osso, com maior pobreza de que de costume
se jogando na vida, no foço, do prédio, do cume
todo dia é assim, banheiro limpo e rosas pra ti
a custa do sal do rosto dela
essa migalha paga com desdém do teu espírito elevado
vai te custar caro, enquanto o futuro repetir o passado.

e se repete.
da tragédia de um genocida.
tragédia já escrita por muitas frases, atos e C.I.A
pelos gritos de amém
pelos trabalhadores de refém
pelo boi e pelo fuzil, também

genocídio desse e de outro povo.
genocídio do povo que era povo desde antes do branco saber o que era mundo novo
e lá na beira d’agua, do barranco seco, olha o rio desse dia
nem novo nem velho, só mais um, de 521 anos de resistência e rebeldia

mas há de custar caro
como custou pra quem pensava, que era só mudar o palácio e a cabana se adequava
como quem pensou que a chibata era mais forte que o dragão que no mar navegava
como quem pensou que poesia era só pra quem estudava

Mas é hoje que a arma vale mais que o feijão, não ontem
é hoje que a subsistência vale menos que a pátria, não amanhã
hoje que o país vale mais que o povo,
que a bandeira é orgulho e a geladeira apavoro
hoje que o passado se repete e o futuro se escreve

nesse dia, por mais que, muitas vezes mais que 7 nos lutamos
e 70 vezes 7 nos levantamos,
em um setembro, por enquanto perdido
vamos traçar nossos planos, sem capitães, nem milicianos

Engasgado com a podridão que escorre do centro para nossa goela, no celular a mensagem é clara: tudo está normal. Nada de novo nesse país continental
Os poderes resistem ao vento e as casas solidas construídas sobre ossos nativos seguem tranquilas: impávidos colossos de sofrimento e estabilidade.
Aqui de cima, pra onde todos olham com os mesmos olhos do passado, não consigo ver. Só sinto isto, neste instante, um estalo, um estopim, um estrondo
com manchas vermelhas no fim.

mas o hoje é só um.
é só mais um dia
de luta, de morte, contra mais um genocida.

Arley Amanajás

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