Poema de agora: Terceiro poema para João – Carla Nobre

Terceiro poema para João

Eu nem pude curtir teu aniversário, João
Tua partida repentina deixou os remédios da pneumonia inteiros
Não vai morrer por aí, João
O presidente fica falando essas besteiras
Que gripe não mata
Covid não mata
E você só pode estar acreditando, João
Quanta decepção com você
Quanto bolo não repartido
Quantos parabéns não ditos
Quanta saudade, João
Aquilo que não vivemos
Estala no meu peito
Como a flecha ancestral
Dos tupinambás


O presidente é insano
Mas eu sei o que mata
O amor mata, João
Tô morrendo devagar sem você
Eu sei que não devia
Mas todo amor tem essa agonia
Mas eu não vou dar esse gostinho ao presidente de me ver sofrendo por você
O presidente não merece minha nostalgia
Eu não vou dizer


Que vou sobreviver por você, João
Farei isso pela democracia
Vou chorar por ti mais uns dias
Te garanto que volto em outubro
Afinal o amor, João
Não pode ser maior que a revolução

Carla nobre

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