Poema de agora: Velho Balcão – Luiz Jorge Ferreira

Velho Balcão

E se sobre a pele dos caboclos o Sol desenhou tatuagens de outras paragens.
Nas suas fêmeas- riscou um Sol aceso, e uma lua apagada.
Já no meio da rua a noite cedeu a azulidade do céu para o breu.
Isso tudo eu escondo nas fotografias dentro da memória onde tenho as cédulas de identidade.

Na fotografia, o balcão da venda de Seu Bill.
Sofre de solidão, marcado dos sulcos deixados pelos cotovelos, e sobrevoado pelo vôo dos copos do balcão a boca.
É uma ilha.
Onde tropegas…sede e fome.
Dão as cartas.

Ele reflete o pôster de Rose de Primo, que estimula os desejos pregado na parede.
Na parede tem a cal que racha e fraqueja, repleta do odor nauseante de carne seca.
Tem a queda de cascas de tinta, e cada casca solitária, cai manchada do tempo que a colocou Ontem lá

Tem o barulho do sino da igreja que desce pela laje, e cai no bueiro.
Tem a negritude inteira da Noite.
É ela que toma assento nos degraus, sopra ventos mais frios, e cutuca para dentro.
A cor negra que orgulhosamente transborda. No bairro negro do Laguinho.

Indiferente a esse episódio rotineiro.
Vão-se os Janeiros, um a um para detrás da Igreja.
E se eu retiro os cotovelos do horizonte e os acompanho como ordena a vida.
Eu sumo!

Luiz Jorge Ferreira

* Do livro “Nunca mais vou sair de mim, sem levar as Asas”.

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