Escápula
[escápula]
tinha um nome esse lugar que eu me inventava. es.cá.pu.la. lá eu te prometi nenhuma eternidade que escapasse da palma da mão. você não escutava. dizia que sim com a cabeça e eu via teus olhos brilhando em outros rostos que não o teu.
– não sou dado a permanências.
te ouvia dizer fazendo boca, voz, rosto e palavra de um desses personagens emplumados de livros moles. mas em seguida você sorria e era você.
não suportava teus silêncios. fosse só o da palavra vez ou outra ainda me colocaria de pé. era o de não dizer o que havia pra ser dito. ainda que a coisa e a dor e a clareza de um trovão te tropeçassem a língua, você não diria. os olhos baixos afundando no prato.
– tu nunca vai me olhar nos olhos? – como se ainda houvesse esperança.
– nunca é um tempo muito grande. – tua cabeça nem moveu pra dizer isso. cada palavra uma estocada em mim. tua escápula dançava muito nessa luz amarela que eu detestava.
tua ausência crua. minhas precariedades servidas quentes. o calço no pé da mesa me ajudando a sumir dali. minhas desimportâncias enormes caindo no chão. você deu de ombros. tua escápula falava. eu esquecia seu nome por dias.
lembrei… joão.
Leo Coutinho – Imagem e voz: Áquila Emanuelle.
2 Comentários para "Poema de agora:Escápula – Leo Coutinho (na voz de @manudosertao )"
Valeu, Elton! A arte de Áquila melhora a minha muito! Abraço
Por nada, poeta. Sou fã. Sucesso!