Poesia de agora: Não enterrem meu coração na curva do rio – Luiz Jorge Ferreira

Foto: Floriano Lima

Não enterrem meu coração na curva do rio

Não enterrem meu coração na curva do rio.
Desaguem o rio no meu coração.
Ensinem a essa saudade quase moribunda.
Onde ficam meus pensamentos, que olham ao relento as estrelas pálidas de Syrius.
Varram para próximo aos meus passos todo o espaço que desenhei no caderno das primeiras letras quando fui ao Grupo Escolar Azevedo Costa.
Tudo para mim tinha o perfume que hoje paira sobre os poemas que desenho n’alma.

Não enterrem meu coração na curva do rio.
O rio secará um dia e meu coração ficará exposto a sede de sonhos e a dor dos ontens…

Esse rio que foi e é a rua de um Poeta.
Foi o berço das Pororocas que esculpem faces nas rochas, criam castelos de areia na praia…
E somem como as coisas que nos rodeiam.
Deixando lembranças no leito do rio… que são páginas de livros para os Poraquês , Arraias e Tralhotos.
Para mim que nem mergulho, nada dizem.
Vou acompanhar as Gaivotas lépidas que sobrevoam minha sombra…
E quando eu mergulhar com os Urubus que mancham de cor escura esse céu anil…
Usarei a abundância das lágrimas para sujar a dor.

Não enterrem meu coração na curva do rio…
Tenho medo das curvas, elas nunca chegam a qualquer lugar.
Elas nunca chegam aonde eu queria ter ido.
Pois dois cegos fazendo Selfie… jamais conseguirão registrar a dor do meu coração.

Tenho medo de ficar ao relento… coração exposto as pisadas tropegas da procissão dos solitários e a lambida inoportuna dos gatos que nos telhados abandonaram seus lamentos e miados para vir se apossar dos meus.
Não enterrem meu coração na curva do rio.

Luiz Jorge Ferreira

* Osasco (SP) – 25.09.2021

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