Poesia de agora: Prelúdio para a Catedral – Luiz Jorge Ferreira (um belo poema sobre amizade e o Círio de Nazaré)

Prelúdio para a Catedral

Encontro com Fernando Canto, parece que foi Ontem esses dez anos.
Aumentamos o grau dos Óculos.
Estou ileso, chamuscado , teso e ‘liso’, porém pareço eterno.
Ele fala. Eu falo. Bebe-se.
O tempo adoece.

Conversamos então sobre a solidão pousada no prato de azeitona, temo que sejamos herdeiros da mesma angústia que fala de canoas.
Digo-lhe que amaremos a mãe de nossos filhos, ele acha que Cuba pode vir a produzir mamão Papaya.
Divagamos sobre o fim de Tróia, e a glória de estarmos embriagados.
Bebo Conhaque e lhe segredo que sempre amei Helena.
Ele refere-se as Sereias como Sardinhas.
Diz que Deus é brasileiro, acho que tudo começou com um Símio.
Conhece uma Marcha Turca que termina em palmas, canta e eu aplaudo ritmicamente.

Belém está afônica.
Ele imita Sancho, eu imito o Capitão Gancho e Brizola.
Um Padre passa para a Igreja, atiro nele um caroço de azeitona.
Fernando vê-me menino, eu o vejo imberbe, fazendo poemas para as meninas do Colégio.
Digo-lhe que amaremos os netos de nossos filhos.
Ele acha que postumamente.

Os poetas Fernando Canto e Luiz Jorge Ferreira, em algum lugar do passado.

Rimos a ‘bandeiras despregadas’.
Mais ou menos de pé, cantamos o hino, despidos como nascemos.
O dono do bar, nos xinga.
É Domingo, saímos do bar, para a Missa.

Luiz Jorge Ferreira

 

* Do Livro Thybum – Rumo Editorial – 2004 (Primeira Edição) – São Paulo.

 

 

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