Sei lá onde foi parar meu último poema
Sei lá
Sei lá onde foi parar
Meu último poema
Ainda ontem o vi, adormecido
Nas paralelas da leopoldo com a mendonça furtado
Silencioso e tímido entre o trânsito abafado.
Depois, penso que se escondeu
No ronco contínuo e macio do ar condicionado.
Nas colunas de concreto
Onde, comodamente, cultivam-se cactos
– E só habitam coisas plásticas
que não carecem de cuidados –
Eu sei, tu sabes
É só por amor às rosas
Que sentimos o verso de outros mundos
E a dor de ser e expandir…
Pode ser, poeta,
Que entre letras e verbos
Onde tudo pede os devidos contrapontos
Ande a esquecer de anotar encantamentos
E estender poesia no varal,
Após as chuvas que caem no quintal…
É que, neste mundo acelerado e moderno
É preciso ser atento
Não desistir de ver o céu, a lua
E a vida bem de perto.
Longe das telas e das correções
De cor, de som ou ortográficas
Neste mundo high tec
Onde não cabem as coisas imperfeitas e falhas
É preciso ter cá um pouco de coragem
E uma sutil falha de conexão
Para esquecer do clica-curte
Mergulhar num rio ou apenas dar as mãos…
Sei lá onde foi parar
meu último poema.
Jaci Rocha
5 Comentários para "Poesia de agora: Sei lá onde foi parar Meu último poema – Jaci Rocha"
Toda vez que visito esse blog, saio encantada e de alma leve, com esses poemas lindos, que me dão um orgulho danado de ser escritora e ver esses talentos.
Obrigado pelas visitas!
Muito obrigada, querida. Poesia une, refresca, revigora, salva!!!
🙂
Um poema bonito… sóbrio…reflexivo…
Fico feliz em ver muito bons poetas adultando em nosso Amapá…Sei lá onde foi parar seu último poema.
Torço para que nunca este seja o ultimo!
Muito obrigada por sentir a poesia.
Torço também para que não seja! 🙂