Por acaso…Número 0 – Texto poético de Luiz Jorge Ferreira

Texto poético de Luiz Jorge Ferreira

Entrou aqui em casa uma saudade cigana
Que plantava bananeira e chutava de mentirinha meu cachorrinho de feltro…
Apagava meu reflexo do espelho.
E cuspia caroços de laranja em direção aos peixes do Aquário.
Era uma saudade louca por doce de leite, bambolê e figurinhas do Álbum dos jogadores brasileiros da Copa do Mundo de 1962.
Arrastava o sofá, jogava pião no tapete comprado por mamãe na Guiana Francesa.
Cheirou lança perfume e besuntou o rosto com AntiSardina plus blue…
Os gatos da esquina invadiram o quintal, a rosa da vizinha perfumou-se demais.
E eu por fim de braços dados com a saudade atravessei a rua pulando um Frevo entrecortado de refrãos,
topei com o dedão em um tijolo sujo de areia
escamas de sereias e percevejos…


Ela sumiu…
Não fui longe vim correndo voltando no tempo… tranquei as portas e as janelas e atirei as chaves ao vento.
Mas senti sua falta,
foi quando a lembrança entrou pela fresta espaçosa no banheiro…
E perguntou tímida…
Cadê sua amiga…?
…Fugiu.
– Fugiu?
Dá para chamar de novo?

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