POR ONDE ANDA BELCHIOR

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Por Pedro Antônio (jornalista, compositor e intérprete, natural de Paracatu/MG)

“Estava mais angustiado que um goleiro na hora do gol, quando você entrou em mim como um sol num quintal. Aí um analista amigo meu, disse que desse jeito eu não vou ser feliz direito, porquê o amor é uma coisa mais profunda que um encontro casual…”

Deixando a profundidade de lado, hoje quero falar de um dos meus ídolos: o genial compositor e cantor cearense Belchior. Um dos maiores poetas da música brasileira!

Belchior tem sido notícia ultimamente. Não pelas suas músicas de sucesso, que são muitas! Mas pelo seu desapego à carreira e sumiço inexplicável. Há cinco anos ele abandonou tudo: carro, casa, papagaio, periquito, amigos, família e os palcos! Cansou da vida que levava! Saiu como quem sai para comprar cigarros e não voltou! Sempre tive uma afinidade muito grande com o trabalho do Bel813caso1-300x250echior. Uma das primeiras músicas que aprendi a tocar no violão é dele! Um dia ela me serviu muito: Na adolescência, quando saí de casa e fui morar em Brasília, a primeira namorada que arrumei por lá era muito família. Logo no primeiro encontro implorou que eu subisse ao seu apartamento para conhecer sua mãe. Do contrário não haveria namoro. Fui lá, todo tímido! A primeira pergunta da ex-futura sogra foi: Quem é você? Daí o poeta Belchior socorreu-me! Na maior cara de pau, respondi cantando: “Eu sou apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”! Ela caiu na gargalhada e ficamos amigos, pelo menos enquanto durou o namoro!

Um pouco antes dessa viagem insólita do Belchior, encontrei-o no aeroporto de Congonhas em São Paulo. Ele passava pelo detector de metais. Havia colocado na esteira vários talheres de inox. Estava em apuros! Não tive dúvidas: passando por ele perguntei: E aí Belchior, já perdeu o medo de avião? Ele deu uma risada e, com aquela sua voz grave, dele, me disse: “Ô nô, o pior é que não, viu, tremo até o bigode!” Para não parecer tietagem, passei e fui sentar-me na sala de embarque. Como estava com meu violão às costas, ele, após desembaraçar a bagagem, identificou-me e veio ao meu encontro. Sentou-se do meu lado 20140122163809518114ie começamos a conversar. Foram quase quarenta minutos de um bom bate papo. Tive então a oportunidade de revelar-lhe a minha grande admiração pelo seu trabalho. Após descobrirmos que tínhamos vários amigos em comum, fiquei mais íntimo. Tomei coragem e contei-lhe que gostava de imitá-lo em meus shows. Até cantarolei para ele: “foi por medo de lambreta, que segurei pela primeira vez na sua … (ops)… mão”! Ele levou um susto e caiu na gargalhada! Disse-me que continuasse a usar suas músicas. Que gostou demais! Achou o nosso timbre parecido. Contei-lhe que era compositor e ele, gentilmente, passou-me seu número de telefone e pediu-me que lhe ligasse assim que voltássemos de viagem, pois gostaria de conhecer mais o meu trabalho. Jurei que faria isto! Nunca liguei! Imagina: mostrar músicas minhas para o maior letrista da história da MPB! Amarelei! Agora é tarde! O número não existe mais! Há dois anos Belchior foi descoberto em um hotel no Uruguai. Saiu correndo outra vez. Recentemente foi visto em Porto Alegre andando pelas sombras, dizendo-se perseguido! Mas meu amigo, me diga: Quem é que não tem vontade de “chutar o balde” vez em quando e sumir? O problema são as consequências! Não fossem essas…! Agora o bicho tá pegando! Precisa voltar para pagar as contas! Ele ganhou vários processos judiciais nessa andança. Destes, o mais ameaçador é por pensão alimentícia. Pode ser preso a qualquer momento! Volte Belchior! Alguns shows e você paga tudo. Ainda mais você que recebe mais de trezentos mil reais por ano de direitos autorais. (Isto por que esse controle não é sério no Brasil). Vai ser fácil! Vamos cantar Paralelas: “passam carros, viadutos, nem te lembras de voltar, de voltar, de voltar”.

É Belchior: “…a vida realmente é diferente, quer dizer: a vida é muito pior!”

Quando cansar de caminhar, volte! “Nossos ídolos ainda são os mesmos”! Precisamos que sua genialidade continue jogando luz sobre os caminhos da música brasileira que atravessa uma fase de quase completo obscurantismo! Volte poeta!

Fonte: Página Cultural

Meu comentário: Como fã do compositor, sugiro que os músicos e produtores do Amapá, que organizam tributos de grandes artistas nacionais, façam um do Belchior. O conjunto da obra vale à pena, pois acho que esse ídolo nunca mais será o mesmo.

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