Por precárias condições de funcionamento, MP-AP recomenda interdição de duas enfermarias e da sala de vacinas do HE

Após inspeção realizada no Hospital de Emergências (HE), nesta terça-feira (29), a Promotoria de Defesa da Saúde do Ministério Público do Amapá (MP-AP) recomendou a imediata interdição de duas enfermarias e da sala de vacinas da unidade. A medida foi tomada devido às precárias condições de funcionamento do hospital, colocando em risco a saúde de pacientes, acompanhantes e dos profissionais que lá atuam.

Durante a inspeção, a titular da 2ª Promotoria da Saúde, promotora de Justiça Fábia Nilci, verificou o alto nível de insalubridade do Hospital, presenciou e ouviu relatos de médicos e enfermeiros atuando sem as mínimas condições de trabalho. Foi possível constatar que medicamentos básicos e insumos indispensáveis, como tramal, máscaras de nebulização e seringas de 10 ml e 20ml estavam em falta.

Além disso, no caso da enfermaria extra nº2, há um odor insuportável, devido a uma fossa transbordando ao lado da sala. Não há também pia para lavar as mãos, banheiro, tubulação de oxigênio e nem ventilação. Os pacientes estão acomodados em macas, muito próximas ao chão, dificultando o trabalho dos enfermeiros e técnicos de enfermagem.

A promotora estava acompanhada dos presidentes do Conselho Regional de Medicina (CRM), médico Eduardo Monteiro, e do Conselho Regional de Enfermagem (COREN), enfermeira Emília Pimentel; além de representantes da Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS) e do Conselho Regional de Farmácia (CRF).

Os dirigentes do CRM e COREN informaram que relatórios de inspeção pormenorizados, produzidos pelas entidades, já foram encaminhados aos gestores da Secretaria Estadual de Saúde (SESA), com pedido de providências.

“Estamos cansados de ver que nada muda. Os problemas são os mesmos ou piores. Atendemos os pacientes no chão, sem condições de aplicar corretamente uma medicação. Os enfermeiros correm sérios riscos também”, desabafou a presidente do COREN.

O CRM informou ao MP que fixou prazo de 30 dias para a SESA sanar uma série de problemas e deficiências apontadas pelos médicos. O próximo passo será a notificação do Estado. “A intenção é contribuir com a saúde pública, mas é nosso dever fiscalizar e cobrar as devidas providências. A cada dia fica mais difícil atuar nesse ambiente tão insalubre”, reforçou o médico Eduardo Monteiro.

Carências

As reclamações de inúmeros pacientes foram todas confirmadas pela equipe do MP-AP e demais entidades: faltam leitos; há demora no atendimento, dificuldade ou impossibilidade para a realização de exames, como Raio-X e tomografia; carência de medicamentos e correlatos; desconforto térmico; precárias acomodações nas enfermarias, paredes e teto com infiltrações, fungos e mofo e pacientes internados em macas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU).

No momento da inspeção foi constatado que 13 macas do SAMU estavam retidas no HE, o que compromete a capacidade de atendimento à população. As macas deveriam ser usadas para transportar o paciente e, em seguida, devolvidas para as ambulâncias. No entanto, devido a carência de leitos, acabam ficando no hospital para garantir as novas internações.

Sobre a falta de condicionadores de ar em diversas enfermarias, a direção do HE informou que os equipamentos “estão obsoletos e precisam ser trocados”. Porém, disse não haver contrato com nenhuma empresa para manutenção ou substituição.

Para aumentar o drama dos pacientes, os maqueiros em estão em greve e o Hospital de Emergência está funcionado sem duas salas essenciais: a de isolamento, para pacientes com doenças contagiosas, e a “sala vermelha”, onde deveriam ficar os doentes que necessitam de cuidados e vigilância intensivos enquanto aguardam a definição do diagnóstico, uma cirurgia de emergência ou transferência para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Profissionais de saúde relataram, ainda, que é impossível fazer manobras para ressuscitar um paciente, pois não há no HE os equipamentos indispensáveis ao atendimento de urgência, como desfibrilador, aspirador e respirador.

“A verdade é que os profissionais de saúde estão adoecendo tanto quanto os pacientes. O que mais nos chama atenção é que todos esses problemas são antigos, conhecidos por toda a gestão pública. Já fizemos outras inspeções e cobramos a solução dessas demandas, mas, infelizmente, o que vimos hoje é um quadro cada vez mais grave. Até quando haverá esse grau de negligência com a vidas dos nossos cidadãos?”, manifestou a promotora.

Providências

Logo após a inspeção, houve uma reunião no Complexo Cidadão Zona Norte com a presença dos dirigentes da SESA, da Secretaria de Infraestrutura (SEINF) e a direção do HE, momento em que a promotora deu ciência da Recomendação para interdição das salas, fazendo menção aos relatórios encaminhados pelo COREN e CRM. “A medida extrema da interdição foi necessária diante da estrutura das salas, as quais oferecem alto risco à saúde pública”, esclareceu Fábia Nilci.

Serviço:

Ana Girlene
Assessoria de Comunicação do MP-AP
Contato: (96) 3198-1616
E-mail: [email protected]

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