ELLA POR ELA
Quando eu te achei pintada à luz da Renascença,
Estremeceu-me a base frágil de uma crença
Redesenhada e retocada aqui e ali.
E a cada pincelada, estavas diferente,
Até que te perdeste lânguida e fluente
No tempo derretido e instável de Dali.
Quando eu peguei tua mão, repleto de Fellini
(La Dolce Vita, eu sei, em ti não se define),
Tomaste a minha mão, riscaste outro destino.
Puseste Lars von Trier, Gavras, Glauber Rocha
Na mão que segurava a flor que desabrocha
Hoje, encharcada de vermelho Tarantino.
Quando eu te quis Cecília, Coralina, Espanca,
Fizeste-te maldita, mallarmaica e franca
E trituraste as letras destes olhos meus.
Privado para sempre de rever o dia,
Quis tatear em ti o contorno da poesia
E me afoguei na lava azul do olhos teus.
Quando eu pensei te amar no passo de uma valsa,
Perdi o compasso no revés da dança falsa,
Dancei sozinho e tropecei nos próprios pés.
A dança decorada não surtiu efeito,
O som que eu procurava estava no teu peito,
Então te amei, querida, improvisado em jazz.
Ori Fonseca
2 Comentários para "Porma de agora: ELLA POR ELA – Ori Fonseca"
Belamente Valsa!
Muito obrigada, caro poeta, por ilustrar teu lindo poema com uma de minhas pinturas! É uma honra para mim.
Abraços azuis.