Primeira de abril (crônica de Ronaldo Rodrigues)


Esta é a minha primeira de abril. Primeira crônica de abril. Não vai coincidir com o primeiro de abril, claro. Já estamos no dia 30… Demoroooou…

Decidi que minha primeira crônica será também a última. De abril!

Mas aí vai minha única crônica de abril. Antes de escrever a crônica, eu deveria cuidar da minha tosse crônica. Aliás, é isso que vou fazer. Só um momento, que vou tomar meu xarope.

Imagine uma ampulheta dessas que aparecem no computador quando ficamos esperando, esperando, esperando…

Voltei. Calma! A vida é assim mesmo e tu deverias estar acostumado com isso. As pessoas vão, as pessoas vêm. Assim caminha a eternidade.

Assuntos não faltam para uma crônica. Vejamos o que está rolando pelo mundo: tem um louco norte-coreano, liderando outros loucos, querendo fazer guerra nuclear. A Dama de Ferro enferrujou e se foi. Atentados em Boston (e desta vez não tem nada a ver com a torcida corintiana). O presidente da Comissão de Direitos Humanos querendo que o mundo volte à Idade Média. E os crimes do quotidiano: políticos roubando e cumprindo seus mandatos sem risco de mandados de busca e apreensão, sendo eleitos e reeleitos pelo resto dos tempos. Ah! Isso todo mundo já sabe. E Macapá ganhando ares de cidade grande. Já temos até assalto com refém!

Não é que a crônica está saindo? Já a iniciei e reiniciei várias vezes. Estou meio travado. Abril é o mais cruel dos meses, segundo T. S. Eliot, e estou comprovando isso. Pelo menos em relação à crônica.

Tive a ideia de escrever algo jogando com mentira e verdade. Já que o dia primeiro de abril é o Dia da Mentira, o último dia de abril poderia ser o Dia da Verdade. Nesse dia, todos diriam a verdade. O que daria numa confusão terrível. Como naquele filme, O Mentiroso, em que Jim Carrey promete ao filho, como presente de aniversário, passar um dia sem mentir. Lembram?

Pois é. Acabei desistindo da ideia por não conseguir imaginar a que loucura o mundo chegaria se todos falassem a verdade. Além do mais, o mundo já mente tanto. Exemplos: a cor da caixa-preta dos aviões é laranja. Um minuto de silêncio não dura mais do que vinte segundos. A novela das oito começa às nove. E por aí vai. A verdade está em baixa, mas é sempre bom lembrar daquele sábio das antigas que disse que só a verdade nos libertará.

Chego ao fim de mais uma crônica, que sai meio a fórceps, na marra. Eu me impus escrevê-la e creio que cumpri a missão. Talvez não a contento, mas tá valendo. Ou não.

Termino com Charles Bukowski: “Escrever é quando vôo, escrever é quando começo incêndios. Escrever é quando tiro a morte do meu bolso esquerdo, atiro-a contra a parede e a pego de volta quando rebate”.

É isso.

Ronaldo Rodrigues

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