Crônica de Evandro Luiz
As notícias vinham de uma província do outro lado da terra. E o mundo foi pego de surpresa. Pessoas eram infectadas por um vírus; e em um período entre três a sete dias, elas morriam. A praga se alastrava tão rapidamente que quebrou o sistema de saúde da cidade. Não havia leitos, não sabiam qual a vacina que poderiam tomar para conter o avanço desta doença.
A infectologista italiana Giovana Ferraz estava no povoado para participar de um encontro com a comunidade científica. Eles iam discutir sobre o aquecimento global. Mas por causa da (epidemia) ou pandemia, o governo da pequena província decidiu cancelar todos os eventos públicos.
A universidade Tuasung famosa pela sua tradição e que teve entre os seus alunos o atual primeiro ministro do país, seria o palco das discussões. Com a decisão do governo, a médica, no hotel começou a fazer as malas. Foi surpreendida por um militar, que a informou que ela não poderia deixar o país. Até quando? perguntou Giovana Ferraz. Ele respondeu: Eu não tenho autorização para dar a senhora essa informação.
A médica foi até o serviço de migração e ficou sabendo que todo estrangeiro teria que passar por uma quarentena que deveria durar de 15 a 20 dias. Ela foi ao consulado italiano e lá encontrou outros patrícios também querendo sair da pequena província. Além de agravar e aprofundar uma crise, o governo italiano emitiu nota informando que todos aqueles que estivessem fora do país teriam que cumprir quarentena. O país europeu não queria ser apontado como o responsável pela proliferação do vírus no velho continente. E a cada dia a situação piorava. As manifestações se tornavam comuns.
Em uma delas, Giovana Ferraz foi presa. Acusada de espionagem, se passando por uma palestrante, foi para um presídio feminino de segurança máxima. A cela onde ficou media em torno de 7 por 21 metros quadrados. Ela dividia esse espaço com mais outras 16 pessoas. Não havia privacidade nem na hora das necessidades mais íntimas. Banho de sol, sessões de espancamento e comida (se é que aquilo pode ser chamada de comida) que parecia uma papa sem nenhum gosto, faziam parte do cardápio de todos os dias.
Como todo preso, Ferraz, tinha na cabeça, como iria fugir da prisão. Um certo dia, no período da noite, Giovana começou a gritar; ela dizia ter fortes dores no estomago. Foi medicada e ficou em observação na enfermaria. A italiana viu naquele momento a oportunidade de fugir. Mas foi pega de surpresa por uma enfermeira chinesa que disse estar esperando o momento certo para fugir. Ela disse ainda que havia uma outra pessoa que também planejava não ficar o resto da vida ali. Era o jornalista italiano Francesco Barbieri.
Depois de um longo período observando saída e entrada de uma ambulância da penitenciária, o ponto vulnerável era às sextas-feiras à noite, depois da janta. Os guardas bebiam e fazendo o que mais gostavam: torturar os presos. Assim, eles deixavam alguns pontos do presidio vulneráveis. A enfermeira Wang Zhu sabia onde ficavam os remédios controlados destinados aos pacientes mais violentos.
Em uma sexta feira chuvosa, Zhu dissolveu mais de 50 comprimidos no café e mandou distribuir para a guarnição de plantão. Quando a maioria dos guardas de segurança estavam sobre o efeito do sossega leão, os três empreenderam a fuga.
O jornalista disse que já conhecia a “Rota da Seda” que era bastante usada e, por ela ter várias ramificações de saída da província, isso dificultaria a perseguição a eles. O objetivo era chegar a uma área portuária.
Depois de atravessarem mangais e florestas encontraram uma pequena aldeia. Wang Zhu conversou com o líder da comunidade e ficou acordado que a permanência deles ali seria rápida. Os três foram alimentados, receberam roupas e cortaram os cabelos. Depois de uma negociação com o capitão de um cargueiro, ficou acertado que eles fariam parte da tripulação.
No dia 12 de outubro o cargueiro Tsan Tsan deixava o porto de Ganzu da província e partia para o continente europeu. Foram setenta dias em alto mar. Quando avistaram a milhares de distância pequenas luzes, não se contiveram. Choro e risos vieram à tona. A liberdade já não estava tão longe assim.
Mas de manhã eles foram acordados com barulho de sirene. A guarda costeira informou que o cargueiro não podia atracar no porto. A embarcação vinha de um lugar onde o vírus tinha matado muita gente. E era muito provável que alguém da tripulação tivesse sido contaminado. Eles teriam que se retirar e irem para outro porto. Várias tentativas para atracar o barco foram negadas.
Quem olhava de longe via o barco parado no meio do oceano. Dizem os navegantes, que de vez em quando aparece de noite totalmente no escuro um navio cargueiro nessa rota.
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