Crônica de Flávio Cavalcante
Hoje, no sitio Macacos, distrito de Mangabeira, Município de Lavras da Mangabeira, visitamos um dos últimos engenhos de rapadura em funcionamento na região centro-sul do Ceará. Segundo o proprietário, senhor Gabriel Holanda Nunes, conhecido como Bié, de 79 anos, a “moagem” funciona desde à época do seu avô, quando ainda movida pela força animal, por juntas de boi. Dos 36 engenhos que funcionavam em Mangabeira, apenas o do sítio Macacos continua ativo, produzindo a tradicional e deliciosa rapadura.
Em meio roças, moendas e fornalhas, vários profissionais desempenham suas atividades na produção do saboroso tijolo, tais como os plantadores da cana, bagaceiro, caldeireiro e cacheador. Entre eles, o mestre, que, com sua experiência e prática, decide o momento exato em que o mel pode se transformar em rapadura.
Além dos conhecimentos práticos, adquiridos ao logo de séculos de observação e experiências, várias crenças e superstições envolvem o funcionamento do engenho. Uma delas consiste em parar toda a produção na primeira segunda-feira de agosto, pois esse dia é considerado de “má sorte” e pode causar um acidente ou uma pane nas máquinas.
No engenho dos Macacos, ao contrário de outras indústrias modernas, não há a adição de produtos químicos para aumentar o teor de sacarose na rapadura. Utiliza-se apenas as misturas tradicionais, como a cal, logo após a moagem da cana, que serve para limpar a garapa. No fim do processo, o mestre da rapadura também adiciona o sebo de gado, para endurecer o mel e fazer jus ao conhecido nome do produto final.
Ouvindo atentamente a explicação, meu tio Paulo Danúbio, professor aposentado, perguntou:
– Seu Bié, o sinhô vende esse balde de Sebo de Gado?
– E o senhor vai botar um engenho de cana? – indagou o simpático proprietário da moagem.
– Não, seu Biê, quero ver se esse sebo serve pra endurecer outras coisa…
1 Comentário para "RAPADURA – Crônica de Flávio Cavalcante (@PedraDeClariana)"
Obrigado pelo espaço no seu prestigiado Blog, meu caro Elton. Grande abraço a todos.