Representação bicentenária da batalha entre mouros e cristãos marca Festa de São Tiago, no AP

Encontro entre cavaleiro cristão (de branco) e cavaleiro mouro (de vermelho) inicia confronto — Foto: John Pacheco/G1

Por John Pacheco

Olhos e ouvidos abertos de milhares de pessoas acompanharam atentamente uma tradição de 242 anos no interior do Amapá. A encenação a céu aberto da batalha entre mouros (muçulmanos) e cristãos marcou o ponto alto da Festa de São Tiago na tarde desta quinta-feira (25) na comunidade de Mazagão Velho, a 70 quilômetros de Macapá.

A representação histórica conta a trajetória do povo negro que deixou a África no século 18 após conflitos político-religiosos para viver na pequena comunidade em plena Amazônia.

Figuras de São Jorge e São Tiago que se lideraram vitória contra os mouros — Foto: John Pacheco/G1

A tradição de celebrar São Tiago foi trazida pelas primeiras famílias que colonizaram a região, após a desativação da colônia portuguesa de Mazagão, em Marrocos. O santo, segundo a tradição, se juntou aos cristãos anonimamente durante a batalha.

A figura de São Tiago, assim como dos personagens principais, fica a caráter dos próprios moradores. O personagem principal em 2019 ficou a cargo do bombeiro militar da Força Nacional Pedro Neto, de 30 anos. Ele interpreta o herói para cumprir promessa feita pela mãe.

“Passei por uma enfermidade, onde fiquei entre a vida e a morte, e a minha mãe com sua fé tremenda em São Tiago, pediu intercessão junto à Jesus Cristo, que se fosse estabelecida a minha saúde, eu faria a figura de São Tiago. E 20 anos depois estou aqui”, contou.

Bombeiro Pedro Neto representou São Tiago após promessa da mãe — Foto: John Pacheco/G1

A expectativa da organização era atrair 40 mil visitantes nesta quinta-feira em Mazagão Velho, onde além da encenação, acontecem festas e passeios turísticos. A programação iniciou em 16 de julho com missas e bailes, e ainda segue até 28 de julho. Confira as atrações.

Mesmo não sendo feriado, a empresária Terezinha Augusta, de 41 anos, deixou a venda de bijuterias para conhecer a tradição no interior do estado ao lado dos dois filhos.

“Já vim em outros anos e sempre gostei. Faço o programa completo: como, bebo e assisto. É algo nosso, que precisa ser valorizado sempre, e valorizado por nós amapaenses”, disse.

Encontro entre soldados mouros e cristãos durante a encenação — Foto: John Pacheco/G1

Batalha entre mouros e cristãos

Antes do ponto alto, que foi a batalha, a encenação iniciou na quarta-feira (24) com o baile das máscaras, que seria a comemoração dos mouros que pensaram ter matado os portugueses após terem lhes oferecido comida envenenada como suposto sinal de trégua.

Ao desconfiarem das intenções, os cristãos foram mascarados até o baile levando a comida e distribuindo para os animais dos mouros, que no dia seguinte amanheceram mortos. Alguns soldados também morreram, entre eles o chefe dos mouros, o Rei Caldeira.

Menino Caldeirinha vira rei dos mouros após a morte do pai, o Rei Caldeira — Foto: John Pacheco/G1

A partir daí iniciou a batalha, mas antes os mouros mandaram um espião ao acampamento dos cristãos, o “bobo velho”, que ao se aproximar foi apedrejado. Na encenação em Mazagão, a passagem é marcada pelo soldado montado em um cavalo, e ao invés de pedras, a comunidade atira bagaço de laranja no bobo.

O momento é um dos mais celebrados e reúne moradores da vila e visitantes. A partir daí inicia-se o confronto marcado pela morte do soldado Atalaia, um cristão mandado ao acampamento mouro que após roubar a bandeira inimiga é capturado, morto e tem a cabeça arrancada.

O momento é um dos que mais levanta o público, pois o Atalaia é manchado com tinta vermelha simulando sangue e em seguida tem o corpo erguido e levantado pela rua.

Passagem dos máscaras: parte do exército mouro fantasiado visando assustar os cavalos inimigos — Foto: John Pacheco/G1

No teatro à céu aberto, parte do exército mouro é vestido com máscaras visando assustar os cavalos inimigos. As batalhas seguintes são marcadas pela fé até a vitória dos cristãos. O ato final é o vominê, a dança da vitória dos soldados cristãos, entre eles o guerreiro Tiago e São Jorge, que se uniram aos devotos de Cristo nas lutas.

Fonte: G1 Amapá

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