Resenha do livro “Em algum lugar nas estrelas”, de Clare Vanderpool – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

“Lá em cima é como aqui embaixo, Jackie. Você precisa procurar as coisas que nos conectam. Encontrar os jeitos com que nossos caminhos se cruzem, nossas vidas se interceptam e nossos corações se encontram”.

Este trecho faz parte da lembrança do narrador da estória. Na minha opinião, o trecho em questão, demonstra como é singela e linda esta obra. Trata-se de um garoto do Kansas, Jackie, que ao despedir-se do pai que embarcava para lutar na segunda guerra, ouviu : “Cuide de sua mãe “. Acontece que a mãe do menino sofre um aneurisma e morre durante a ausência do pai. Isso perturba Jackie arduamente, pois o garoto imputa a si mesmo culpa, por ter deixado a mãe sozinha e estar no celeiro durante o ocorrido. Quando o pai de Jackie retorna, os dois não encontram mais familiaridade entre eles. A relação se torna difícil, então o pai do garoto resolve colocá-lo em um colégio interno da Marinha, no Maine, Estado americano conhecido por seu litoral. Lá ele conhece Early, um aluno que morava na sala do zelador. Early é autista, mas é tido apenas como um garoto estranho. Pois em 1945, ainda não se tinha o diagnóstico de autismo. Ele também perdeu alguém na guerra, o irmão. Early carrega hábitos bastante peculiares para um menino, mas completamente normais para um autista. Separa balas de goma por cores quando tenta se acalmar, e as enfileira quando quer pensar. A vida de Early tinha uma organização compreendida, inicialmente, só por ele, como sua seleção musical: Domingo, Mozart. Terça sem música. Quarta, Frank Sinatra. Quinta sem música. Sexta, Glenn Miller.

Sábado sem música e Billie Holiday em todos os dias de chuva. Early, principalmente, tinha uma fixação pelo número Pi. Ele dizia saber ler as cores e as texturas dos números e dizia ter uma história na sequência, A história de Pi. Através das atividades com os barcos, Jackie e Early ficam amigos. Durante as conversas entre os garotos, Early, narra para Jackie as aventuras de Pi. A narrativa sobre Pi ocorre simultaneamente à estória dos garotos. Um professor apresenta uma tese, onde havia um estudo que demonstra a finitude de Pi. Early não aceita a tese, dizendo que Pi não acabava, só estava perdido. Durante o feriado de fim de ano, o pai de Jackie tem um imprevisto e não vai buscá-lo. O que tem como consequência, a saída de barco dos garotos atrás de Pi. A Cruzada pertencia a Early, mas Jackie descobre tanto ou muito mais que o amigo durante a aventura.

Como em minha vida fora dos trilhos, em outra obra de Clare Vanderpool, a amizade é mostrada de forma muito bela. Pois a autora se preocupa com a construção, colocando cada tijolinho a cada diálogo e, principalmente, nos dias de chuva. Dentro da minha visão, o ponto alto está em saber lidar com a perda. Os dois personagens procuram preencher o vazio da perda que os atormenta. E percorrendo este caminho, se encontram com outros personagens, como Gunnar, Martin e Eustasia, que carregam, embora trágicas, lindas histórias de amor. A narrativa é simples, sensível e linda. Teria que fazer uso de desagradáveis spoilers para descrever quão agradável foi ler este livro.

Então, vou limitar-me a dizer uma única coisa: Quando chove, é sempre Billie Holiday.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

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