Resenha do livro “O Senhor das Moscas”, de Willian Golding – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

A natureza humana é extremamente complexa e curiosa. O que seria a matriz que nos segura enquanto sociedade? A Democracia? As regras e leis? Os costumes? Analisando a história da humanidade, nos deparamos com guerras, disputas, entre outros episódios, que trazem a reflexão do quanto já subjugamos, ou fomos subjugados, durante séculos. O que nos faz bons ou maus? Somos um produto do meio, sendo esta condição definidora de nosso caráter? Nascemos bons e somos corrompidos pelo meio? Ou nós somos seres maus que precisam de Leis como um freio para nossos desejos mais infestos?

Foi toda essa reflexão que me trouxe Willian Golding, em Senhor das Moscas. O autor da obra, que viu os horrores da Segunda Guerra Mundial – acredito eu – estava vivendo o confronto que faz o homem desacreditar da humanidade.

Golding, em sua obra, narra a história de garotos, entre seis e doze anos, que ficam isolados em uma ilha deserta após um acidente aéreo. A obra não dá muitos detalhes sobre a vida dos meninos fora da ilha. A única coisa que sabemos é que são evacuados da Inglaterra. Acredito que eram os evacuados da Segunda Guerra. Quando Londres foi bombardeada, crianças foram evacuadas para outras localidades mais seguras. Mas isso é uma suposição minha. Não fica claro no livro. Eram ingleses, e o orgulho inglês aparece em vários momentos quando os garotos buscam por motivação .

Ralf e Porquinho são as primeiras personagens a aparecer. Encontram uma concha que é tocada por Ralf, fazendo assim, os garotos que ainda estavam espalhados pela ilha, se agruparem. Logo os garotos começam a surgir. Entre eles, Jack, que surge com um grupo de garotos que logo se auto denominam, caçadores. Os meninos estabelecem que precisam de um líder, e que isso consistirá em regras. Uma das regras mais importantes estabelecidas por Ralf é que uma fogueira teria que estar constantemente acesa, para que um possível resgate pudesse vir até eles. Porquinho era a voz da razão em meio à imaturidade daqueles garotos, mas ninguém o levava a sério, simplesmente, pelas suas características físicas.

Os garotos enxergavam a ilha como algo mágico; todas as fantasias e aventuras que qualquer garoto deseja teriam se realizado. “A Ilha é nossa”, diz Ralf, em sua primeira visão. Mas logo isso mudaria. Ocorre que as divisões de tarefas começam a gerar conflitos, pois Jack e seu grupo de caçadores tinham a fixação na caça. “Precisamos de carne”, dizia Jack, quando interpelado por Ralf, em relação às tarefas que eram de sua responsabilidade. Jack havia despertado em si e nos demais meninos o prazer pela caça. A humanidade caça desde os primórdios, está embutido em nossa natureza. Mas até onde isto é justificável? Caçar para alimento e sustento ou caçar pelo prazer de subjugar o mais fraco? Estaria embutido em nosso DNA, algo animalesco que desencadeia o prazer em matar? Duas palavras: caça esportiva.

Dentro deste emaranhado, se inicia uma disputa pelo poder entre Jack e Ralf. Os meninos – agora antagonistas – representam características em nossa sociedade. A fragilidade da Democracia mediante a sedução da tirania. O senhor das moscas – ou, simplesmente, Belzebu – é a representação do mal que existe no âmago dos seres humanos. Algo que aparece o tempo todo nos mais variados formatos. No fim das contas, a única verdade, é que sim, somos animais.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de Literatura e devoradora compulsiva de livros.

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