Resenha porreta do livro “O Estrangeiro”, de Albert Camus – (Por Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena)

Por Lorena Queiroz

O estrangeiro é um dos livros da trilogia do absurdo, de Albert Camus. A obra inspirou a música “killing an Arab”, da banda The Cure. O livro conta a estória de Mersault, um homem que vive completamente alheio á importância das coisas ao seu redor. O protagonista é indiferente a tudo, sendo que uma das palavras mais usadas por ele é ” tanto faz”.

No início do livro, Mersault, recebe a notícia do falecimento da mãe. E ele não sabe, sequer, precisar se a mãe morreu ontem ou hoje. Ficando claro o fato de que, pra ele, pouco importa quando o fato se deu, já que a morte é, irremediavelmente, o destino de todos .

Mersault não demonstra apego ou afeto por ninguém, mas ajuda um amigo, a fazer uma emboscada para uma mulher. Pra ele pouco importava se o ato era certo ou errado. O que me fez refletir se os danos causados pela maldade são equivalentes aos causados pela indiferença.

No enterro da mãe, Mersault, age com a sua costumeira mania de não se importar com a perda, aceitando, inclusive, um café que lhe foi oferecido e cochila durante o velório. Isso causa estranheza aos presentes. Mersault é o tipo de pessoa que vai ao cinema e assiste uma comédia no dia do enterro da mãe. Sim, ele faz isso.

Apesar de não demonstrar apego ou apreço por alguma coisa, fica evidente que ele gosta da vida que leva, pois não aceita uma promoção de trabalho que ocasionaria melhoras em seu orçamento, mas que, também implicaria em mudanças.

O ponto principal do livro é o assassinato cometido por ele. Mersault mata um árabe na praia. A vítima havia tido um desentendimento com um amigo de Mersault. O que pode levar a pensar que teria sido uma legítima defesa. Ocorre que, Mersault, desfere cinco tiros no Árabe, e o faz, com o corpo já imóvel. A única explicação dada por Mersault é que o dia estava muito quente. Durante o julgamento de Mersault, não é questionado como o crime foi praticado. Todo o questionamento se dá a cerca do comportamento de Mersault. Como alguém não chora no enterro da mãe?. Como pode, em sociedade, alguém ser tão indiferente ao que se classifica como “normal “?.

A conclusão de toda leitura, na minha opinião, é extremamente pessoal. Até mesmo porque esta obra não tem o compromisso de explicar muita coisa. Fica muito ao encargo do leitor entende-la. Foi um livro que me fez refletir sobre o julgamento de comportamentos, onde o sujeito tem que se adequar ao todo. Mersault é julgado pelo seu comportamento no enterro da mãe. Julgado não por ser um assassino, mas por ser diferente do que está estabelecido em sociedade. O “tanto faz ” de Mersault, que foi tão danoso aos olhos de todos no enterro, é usado pelas pessoas mediante ao assassinato que originou o próprio julgamento, já que o tema central do evento é o comportamento dele no enterro. Pois mais importante que o assassino era o cidadão que se negava a agir com um comportamento estabelecido socialmente. Teria sido absolvido se tivesse um comportamento usual?. Se tivesse feito uso de um choro hipócrita?. Temos Mersault julgado por ser diferente e não por ser um assassino.

É um livro curto, aproximadamente 120 páginas que não carregam firulas ou enfeites. É extremamente conciso,mas que traz uma reflexão enorme a cerca de vários questionamentos filosóficos.

Olhamos ao redor e julgamos pessoas e fatos sob a ótica comum, na perspectiva do que é aceito como normal ou anormal na esfera social. E muita coisa é mascarada e fica submersa no interior de cada um que reflete sobre a própria existência.

* Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além de prima/irmã amada deste editor.

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