Saudades do Afuá… – Crônica de Renivaldo Costa

Saudades de Afuá

Crônica de Renivaldo Costa

Felicidade existiu quando éramos pequenos e morávamos no Afuá. Num tempo onde chovia no domingo à noite e não levantávamos na segunda pela manhã. Em que meu pai me chamava à varanda, mostrava as nuvens e o vento e falava “vem chuva por aí”, naquele seu jeito de pensar que me ensinaria tudo para a vida. Ou, pelo menos, tudo que lhe era importante.

E um olhava para o outro, sorrindo, antevendo a diversão que se aproximava. Chover à noite era uma festa, naquele tempo. Todas as vezes, a energia elétrica acabava na vila inteira. Ficávamos conversando à luz de velas. Ouvindo “causos dos antigos”, como dizia minha mãe.

Às vezes, meus tios iam para lá, nos visitar, como era de costume as pessoas se visitarem uma vez por semana, e a chuva os surpreendia. Então dormiam todos lá em casa. E era uma mistura de primos e primas, numa alegria desbocada, quando os adultos preocupados com o dia seguinte precisavam levantar várias vezes na noite e nos mandar fazer silêncio. E tudo cessava, mudo. Até que um cochicho aqui, um riso escapado ali, um cutucão acolá, despertava a noite e a festa novamente.

Olho a chuva que cai numa noite de domingo e percebo que há muito não vejo a maioria dessa minha gente. Me bate uma tristeza sentida. Vontade de fechar os olhos e dormir. Dormir. Sem precisar acordar amanhã cedo. Sem precisar acordar nunca.

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