Por Jhenni Quaresma
Acordei tarde. Mais cinco minutinhos e pelos meus cálculos já estou uma hora atrasada para minha primeira atividade. Banho rápido. Não vai dar tempo para o café, vou ter que esperar o almoço. Correria. Como pude dormir tanto no primeiro dia de uma semana tão importante? Essa vai ser uma semana extremamente complicada, campanha para o DCE da Unifap e ao que parece o nível das discussões irão de mal à pior, porque, segundo um amigo, minha decisão de me juntar a uma chapa foi “muito triste, mas fazer o que né?!”.
Meio caminho feito e vou imaginando como reorganizarei minhas atividades do dia, pensamento vai e vem, já estou dentro do ônibus. Sento próximo ao cobrador, terei alguns minutos de completa paz. Até que uma voz corta meu silencio quase monástico:
“No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.”
Eu conheço esses versos! Olho para trás e vejo um garoto de cabeça baixa e lendo alguns papeis em voz alta, viro novamente pra frente e passo a ser ouvinte do rapazinho que está ensaiando alguns poemas.
Ele tenta um da Cecília Meireles:
“Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.”
Vou acompanhando palavra por palavra, Canção de Outono!
E ele continua lendo pequenos poemas, alguns não sei de quem são, mas são bonitos, vou ouvindo… Faltam duas paradas para eu descer e ele está lendo Mário Quintana. Começo a ficar agoniada, será que ele não vai terminar logo esse poema? Uma parada para eu descer e ele está lendo algum que eu não faço idéia de quem seja. Ok, posso descer agora e já tive uma boa dose diária de poesia, e de uma forma bem inusitada, ou posso continuar no ônibus e ir escutando o garotinho, afinal, o dia começou tão mal por conta do meu atraso e já amaldiçoei minhas próximas três gerações pelo meus “cinco minutinhos” …
Conclusão: Pelos meus cálculos, estou agora duas horas atrasada para minhas atividades do dia, darei uma enorme volta dentro do ônibus e o rapaz da poesia já desceu. Fui tentar poetizar uma segunda-feira e me ferrei.