SOberba ORAção dos SERes da FLOResta parA IANEJAR, o heRÓI – Por Fernando Canto

 


Eu te agradeço Ianejar pelo teu sangue de borboleta avoante. Por seres a distorção da história fútil do homem branco que aqui chegou fincando sobre a terra seus valores.

Ianejar, eu te agradeço pelo fogo – o cataclismo devastador – mais que necessário para proteger teu povo do intrépido inimigo e de suas armas cuspidoras do brilho do infortúnio.

Todos os dias quando o sol se agiganta como um raivoso pai lá no horizonte, eu penso que tu estavas certo em provocar a fuga-exílio do teu povo sofredor por dentro de uma casa-argila, onde tantos faleceram de calor e de frio.

E era Mairi que flutuava pelas margens do Grande Paraná à deriva e à procura de uma terra em que houvesse paz.

Eu te agradeço, Ianejar, por conduzires com grandeza a dignidade do povo Wajãpi na sua memória ímpar, por enormes espirais que o nosso povo representa em ciclos míticos.

Sei que foi preciso destruir uma parte da Floresta-Mãe para depois fazer a roça e ver medrar a folha verde dos campos.

O cacique Piriri fuma seu charuto enquanto outros wajãpis celebram com cantos tradicionais. Nessas festas, eles costumam consumir caxiri, uma bebida típica com forte teor alcóolico preparada da fermentação da mandioca.Foto: Victor Moriyama

E mesmo antropizada como hoje diz o karaiko /o homem branco/ a floresta é a tua dádiva. É a cornucópia do nosso cabeludo povo, dada a nós por um demônio manso que hoje deita na tua rede no teu céu, lá onde estão as borboletas e a estrela em que tu te tornaste quando saíste pelo buraco do final da Terra.

Eu te agradeço, Ianejar, eu te agradeço.

Fernando Canto

* Publicado no livro EquinoCIO, de 2004.

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