Sobre a passagem da Tocha Olímpica em Macapá, motivo de brincadeiras, chacotas, absurdos ditos, memes nas redes sociais, emoção, digo-vos: foi sim um momento histórico para a capital amapaense. Brinquei sobre a massificação da pauta em grupos de whatssap composto por jornalistas, mas sei da importância do evento e do trabalho de informar exaustivamente o glorioso dia de ontem. Parabenizo os colegas envolvidos na divulgação e reproduzo aqui quatro comentários de jornalistas amigos meus (com muito orgulho) que gostaria de ter escrito:
Do Renivaldo Costa
Cheguei a pensar em escrever um texto sobre o assunto, mas foram tantos comentários medíocres e imbecis sobre o fato de Patrícia Bastos conduzir a tocha no “Curiau” que resolvi não perder tempo com essa gente de ideias minúsculas.
Chamaram-na de “branca”, “de senhorinha”, “de sinhá”, e de outras coisas tão fúteis que eu sinceramente nunca esperaria de uma delegada de polícia e de um sociólogo, gente que demonstra não ter frequentado as aulas de Antropologia e não ter aprendido nada de etnia.
Em qualquer outro país, Patricia Bastos seria resguardada como patrimônio cultural. Aqui, é vilipendiada por gente que leu umas duas páginas sobre quilombo e acha que é especialista no assunto. Lamentável.
Da Mariléia Maciel
Ninguém pediu, mas vou dar minha opinião.
Acho que a Comissão organizadora tinha sim que ter colocado o José Maria desde o início na programação, não precisava haver pressão para isso. Mas acredito, não tenho certeza, que acharam que o Curiaú estava bem representado com a Esmeraldina e o seu Lino.
Mas não concordo com o sentimento de “apequenamento” de um povo lutador, dá a entender que os quilombolas do Curiaú são coitadinhos, mas não os vejo assim. O local foi valorizado sim, ganhou repercussão muito positiva, mas que pode ficar mais uma vez negativada se continuarem tentando colar essa imagem de “outra vez a história do negro e do branco”, até porque pra quem conhece o que se passa, sabe que não é bem assim.
Discordo mais ainda quando tentam impor que a Patrícia Bastos é uma branca, extraterrestre, que não representa o Amapá, nem nossa cultura.
Patrícia é respeitada no Brasil inteiro, leva nossas tradições para o mundo, em seus trabalhos sempre tem o Curiaú como referência, seja nos sons, na dança, no falar ou nas roupas. Mas não é uma artista que se aproveita de um povo, ao contrário, ela “vive” esse povo, convive com sua realidade e tem muitos amigos no Curiaú.
Ela representa o Amapá, os negros, brancos, pardos, o batuque e o marabaixo, o zouk e o brega, o samba e o indígena. Acompanhem seu trabalho e digam que estou errada. Seu último disco que será lançado, Batom Bacaba, é todo Curiaú. E está lindo.
Tem momentos em que mais importante que a cor da pele e o lugar em que nasceu, é o sentimento que está dentro da alma, e o amor que floreia o coração.
Conheço muitos negros que ñ gostam de dizer que são quilombolas, não gostam de batuque, nunca dançaram em uma roda de marabaixo, e muito menos entraram no Centro de Cultura Negra. Inclusive no próprio Curiaú e Laguinho.
Quando vocês falam discriminando uma “branca”, colocando nela o selo dos discursos: “elite”, eu poderia também me sentir ofendida, mas sou resolvida com relação a assim e exijo respeito com minha trajetória. Me sinto mais negra que muitos que carregam nas veias o sangue africano.
E se fosse eu no lugar da Patrícia? Seria e branca, de elite no lugar de um negro quilombola?
Da Rita Torrinha
Depois de tantos escândalos, pautas negativas e vergonha nacional, Macapá protagoniza um momento excepcional na mídia mundial, com um evento lindo que foi a passagem da tocha por nossa cidade!! Aí, neguinho recalcado vai pras redes ofender a organização do evento e ícones da nossa história e cultura. Poderia ter dormido sem essa. Querido, mete um sorriso na cara e fica feliz pelo nosso estado. Até pra ser do contra tem que ter argumento. Vai procurar uma lavagem de roupa!
Respeita nossa gente, nossa história, nossa cultura
Respeita quem tem legado e leva nossa arte para o mundo
Respeita nossa arte
Respeita nosso momento de alegria e viva a Patricia Bastos, Vovó Iaiá, Piedade Videira, José Maria Ramos, Hernani Vitor Guedes, Bira, Esmeraldina, Francisco Lino, Alcinéa Cavalcante, e todos os demais selecionados para serem condutores da tocha no Amapá , porque eles não construíram sua história de vida em um dia. Pronto, falei!!
Do Humberto Moreira
Meu Deus. Vivemos numa comunidade miscigenada. É assim aqui e no resto do Brasil. O problema é a dor de cotovelo. Os que participaram estavam nos representando. Até porque não dava pra contemplar a todos que mereciam carregar a tocha. O diabo é o mimimi. Amanhã todo mundo terá esquecido o assunto.
É como dizem: onde a bondade imperar, a malandragem se encosta. Depois de tantas verdades ditas e escritas, coloco a foto da jornalista, poeta, escritora e também condutora da tocha, Alcinéa Cavalcante e só assino embaixo:
Elton Tavares.