Sobre os Dias de Lorena – (Fernando Canto, sobre o ensaio “Sobre os Dias”, de Lorena Queiroz) – (@fernando__canto & @LorenaadvLorena)

Por Fernando Canto

Aprendo com Lorena que o chocolate se assemelha a um pêndulo, não o de Foucault ou o de Galileu ou de outro, ainda que imóvel (a massa), em sua forma imanente. Tratar o tempo viajante pelo sopro indispensável dos filósofos, remete a autora a uma ampla reflexão sobre sua própria contemporaneidade, na qual lida com a provocação do saboroso doce em época amarga como a nossa.

Ela atualiza o que todos querem, pois também aprendo com seu belo texto que a pandemia, independentemente dos cuidados e protocolos recomendados, nos reduz a nada, ou, quem sabe, a candidatos ao purgatório, Hades ou Valhalla, quem sabe ao inferno, que dantes não falávamos por pura frescura intelectual.

A mão da autora escolhe o lado do balançar do pêndulo e arrebata o brigadeiro sem hipocrisia. Isso é, a meu ver, quase tudo, emblemático na conduta de cada ser humano hoje e a antítese de um tempo em que somos proibidos de sermos o que somos à sombra de uma memória que aos poucos vai se apagando até virar deslembramento e silenciamento. Nos estamos, pois, mais propensos a receber como castigo levar, como Sísifo, de volta para a montanha a pedra que rola, ao invés de termos nosso fígado devorado por uma águia, como Prometeu acorrentado no Cáucaso.

Diria ainda que a tese de Lorena é pessimista, mas com um paradoxal fundo de esperança, talvez pelo receio de alimentar uma nova cultura civilizatória, com o fogo do Olimpo, em nosso combalido país de desalmados governantes.

Assim, ainda aprendo com Lorena que a finitude dos dias pode ter um caráter terno de quem gravita no silêncio do pensamento para instigar em seus leitores a capacidade vital de reagir pelo fogo da cultura contra os que tentaram nos fazer de reféns, enquanto oscilam os pêndulos, que são a oportunidade de resgatar os nossos chocolates e seguir a vida, mesmo com as notícias nada alvissareiras e fake news. Valeu, Lorena.

*Fernando Canto, sobre o ensaio “Sobre os Dias“, de Lorena Queiroz .

  • Eu me desobrigo a bater palmas sem o fundo musical de um pêndulo …
    A seguir fico muitíssimo feliz de abraçar esse texto agora…
    Para então rejubilar-me com os dois excelentes autores, fico de pé para aplaudir.

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