Sobre poesia e vida na quarentena – Crônica poética de Pat Andrade

Crônica poética de Pat Andrade

Não sei ao certo como é pra maioria dos poetas, mas a poesia é sempre válvula de escape pra mim. Através dela me manifesto, me sentencio, me absolvo. Me mato, morro e me ressuscito todo os dias.

Nesta quarentena, a poesia tem sido também tábua de salvação. Agarrei-me a ela como nunca; mas, às vezes, me escapulia. Não havia braços, mãos ou dedos que me fossem estendidos de volta. Aí, ficava sem escrever. Simplesmente não conseguia.

Talvez porque minha poesia tem inspiração no cotidiano; na vida pulsante e corrida; no universo que me cerca. De uma hora pra outra, tudo isso mudou. O universo reduziu-se à casa – que é minúscula; meu tempo continuou correndo – mas de um jeito diferente – e o cotidiano também se modificou profundamente. Ainda bem que a gente tem a capacidade inata de se adaptar. Ainda estou fazendo isso.

Sobrevivo da poesia. Não só da minha poesia, bem entendido. Mas de toda a poesia que me chega. Pela janela aberta do quarto, pelo livro ao lado do travesseiro, pela obra vendida nas redes sociais, pelo olhar do meu gato (que não é meu de verdade), pela risada do meu filho, pela doce palavra de um amigo querido ou por um gesto mais ríspido que a vida me reserva. O fato é que sobrevivo.

*Republicado por conta do Dia Nacional da Poesia. 

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