Sobre tardes de sábado, luthiers e contrabaixos – Crônica de Manoel do Vale

Foto: Manoel do Vale

Crônica de Manoel do Vale

16h15.

Abro a grade do portão com os olhos procurando uma nuvem no horizonte que anunciasse chuva ou um tempo mais fechado. Nada, além umas patéticas nuvens esparsas ordenadas em finas colunas, se diluindo no azul, como se fossem as costelas de um carneiro bem magro.

Calculei tempo de deslocamento de bike do Centro até à rua Socialismo, indo pelo Pantanal, no Renascer. A missão: chegar à oficina do Helder Melo.

Baixista com lugar na história da trilha sonora da cidade de Macapá (e região amazônica), Helder é um dos mais novos e dedicados profissionais da luthieria aqui na cidade, arte que o ajudou a superar as crises e garantir saúde e uma renda que lhe assegura investir mais e melhor no oficio que é também uma paixão.

Foto: Manoel do Vale

Um amigo me presentou (compulsoriamente) com um meio zoado violão esquecido em meu ap. Gosto de violões e olhar aquele coitado pedindo um dono cortava meu coração. Decidi adotá-lo, pois estava precisando de cuidados profissionais. E isso faz um tempo já.

Tempo limpo, empenhei pedalada ao Renascer, onde iria dar vida nova ao instrumento. Pelos cálculos dava pra ir e voltar antes do apagão que aterroriza a cidade após cada novo crepúsculo.

Helder mora em uma casa de tez sóbria, onde as plantas ocupam bom espaço. Ali ele vive com a mulher e um filho e mais uns 30 instrumentos, entre contrabaixos e violões.

Foto: Manoel do Vale

O contrabaixista que desponta como um profissional de time grande na luthieria local, faz parte da história moderna da música amapaense, que, em meados da primeira década deste século, quando o rock e suas ramificações e influências caiam feito chuva na cabeça da juventude (hoje na faixa dos 40 anos) que botou o Amapá na trilha dos festivais, com Quebramar e Amapá Jazz, duas grandes vitrines da música do amapaense, e seu portal de acesso às experiências exteriores na cena da música contemporânea brasileira e mundial.

Legal quando você vai à oficina do profissional e lá o vê emergir do fundo de todos aqueles elementos que compõem seu universo, onde conserta e cria contrabaixos e também vai dar um up no meu combalido violão.

Helder Melo – Foto: Manoel do Vale

Em seu diminuto universo, Helder Melo falou de atitude, paixão e ídolos na constelação dos luthiers e me mostrou o som diferente de uma peça que ele estava trabalhando, uma aquisição totalmente restaurada. Tocou este e mais um baixolão. Instrumento que nunca tinha visto de perto.

Sai de lá pensando e fazer música.

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