Sociedade dos Boêmios Mortos – Crônica de Ronaldo Rodrigues

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Crônica de Ronaldo Rodrigues

Noite dessas, saí agarrado à intenção de rever pessoas e situações. Até aí tudo bem, se as pessoas e as situações não estivessem para além da fronteira da vida, aquilo a que se convencionou chamar de “morte”.

Fui, então, a uma reunião de uma confraria que há muito suspeitava de sua existência: a Sociedade dos Boêmios Mortos.

Cheguei ao Quiosque Norte & Nordeste, na Praça Floriano Peixoto, que atendia pelo simples nome de Bar da Floriano. O som que me recebeu vinha de uma vitrola e quem estava no comando era o Gino Flex, colocando as músicas mais descoladas da imensa coleção de discos de vinil.

Logo em seguida, um poeta louco subiu numa cadeira e passou a declamar poemas de Vinicius de Moraes. Era o Fred Lavoura, que conhecia tudo do Poetinha e nem esperava que batessem palmas. Ele mesmo liderava os aplausos depois da apresentação de mais um poema.

Enquanto isso, o Brô contava uma história em que ele se destacava como o grande herói, é claro. Ao seu lado estava o Banana, que, sejamos justos com esse momento único, não aprontou confusão alguma. O Pururuca e o Foa passaram por lá, mas ficaram pouco tempo, já que tinham compromissos em seus trabalhos de mototaxista.

Uma turma mais antiga deu o ar de sua graça. Os poetas Alcy Araújo e Isnard Lima e o artista plástico Estêvão Silva. Claro que o trio nunca esteve no Bar da Floriano, que não existia quando estes grandes personagens viviam no mesmo plano que nós. Mas puxo da minha cartola esta licença literária e os coloco no mesmo ambiente para que a minha homenagem se estenda a essa geração de loucos geniais, sonhadores e personalidades ímpares que Macapá produz.

Eu não sei se, devido à instabilidade de temperamento de artistas e boêmios, seria possível um encontro dessas pessoas. Pode ser que alguns dos citados fossem desafetos de outros e jamais admitissem estar na mesma mesa ou no mesmo bar. Mas corro esse risco, mesmo porque, se houvesse alguma briga, ninguém mataria ninguém, já que todos estão mortos.

Ah, sim. Já ia esquecendo. O Valério Campos, mais conhecido como Kadáver, estava lá também, mas, apesar do nome artístico, era, além de mim, o único ser vivo.

Um dia vou te convidar, caro leitor, para dar essa volta. Topas?

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