A última cruzada do Zerão/São Camilo – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Olha eu aqui outra vez esperando o ônibus Zerão/São Camilo. Se você não é usuário dessa linha, meus parabéns. Esta é a terceira crônica que escrevo esperando o tal ônibus. Prometo que será a última. Eu já não aguento mais, nem esperar o ônibus nem esse assunto. Não vou ficar enchendo a paciência dos meus leitores com mais uma lamúria. Na verdade, vou mudar o enfoque. Chega de palavrões destinados à empresa. Chega de culpar o funcionário encarregado de traçar os horários. De agora em diante, passo a reconhecer publicamente o grande serviço que o Zerão/São Camilo está prestando à minha carreira artística.

Graças à espera, estou escrevendo mais uma crônica. Isso deve ser entendido como uma coisa boa. A espera me inspira a escrever, me dá assunto e tempo suficiente para desenvolver um texto. Também já criei frases e roteiros nessa espera. Já resolvi páginas e páginas de palavras cruzadas, o que sempre me ajuda a relaxar e descolar uns temas legais. No campo do desenho, esperar o Zerão/São Camilo também já me rendeu boas ideias, que rascunhei esperando o ônibus e desenvolvi depois. A leitura também está ganhando impulso com essa espera. Acabei de ler um livro de trezentas e cinquenta páginas. Garanto que pelo menos trezentas dessas páginas foram lidas enquanto eu esperava o Zerão/São Camilo. Outra coisa que a espera possibilita é o papo com os outros passageiros. Fica-se tanto tempo esperando que algumas amizades se iniciam e outras vão se fortalecendo.

Pronto. Retiro tudo o que disse de ruim sobre essa linha e atribuo a ela o título de patrimônio cultural de Macapá. Quase patrimônio imaterial, já que está cada vez mais difícil avistar um ônibus.

Por falar nisso, lá vem ele, o agora maravilhoso Zerão/São Camilo. “Viva!”, gritam todos os meus companheiros de espera, arrebatados pela emoção. É hora de guardar papel e caneta e ficar esperto para não perder esse ônibus, que pode ser o último, pode ser o único. Caso eu não consiga embarcar, nunca se sabe quando poderei contar com ele novamente. Talvez só no próximo eclipse.

Obrigado pela paciência. Ponto final neste assunto.

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