Um dia amante

Conto de Ronaldo Rodrigues
 
Uma vez, pelos idos de minha infância, fiquei apaixonado por uma garota. Falei isso para ela, propondo uma aproximação maior. Ela, entre risos de deboche, impôs uma condição: eu deveria levar-lhe o maior diamante que pudesse encontrar. Tal diamante deveria ser roubado de meu melhor amigo, a quem eu deveria assassinar. Depois disso, ela prometeu, nós voltaríamos a tocar no assunto. Falei que tudo bem.
 
Naquela época, as vacas estavam gordas. Todo mundo tinha muitos diamantes, encontrados facilmente pelos caminhos. Mas como roubar o diamante de meu melhor amigo se eu não tinha melhor amigo? Meu único amigo era meu avô, mas eu achava que não contava como melhor amigo. E seria loucura roubar meu avô. Ele tinha muitos diamantes, os maiores. Mas pensar em roubá-lo? Sei não…
 
Fiz o seguinte: admiti que meu avô, sendo meu único amigo, era também meu melhor amigo. Daí a assassiná-lo foi um passo. Já estava velho mesmo. Peguei o maior diamante que encontrei e levei para a garota imediatamente.


Sabe o que a garota me falou, na maior cara de pau? Que ela não gostava de homens que fazem tudo o que as mulheres pedem.
 
Nunca mais nos vimos. Entreguei o diamante a outra garota e fomos felizes para sempre até a semana passada.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *