UM NOVO TEMPO – Crônica de Evandro Luiz

Crônica de Evandro Luiz

Naquele tempo a pequena vila do Taperebá tinha aproximadamente 70 famílias. Localizada na região norte do estado, elas viviam da pesca, da caça e também da agricultura. Para fazer qualquer mudança dentro da comunidade, o Conselho, composto por 12 moradores – os mais velhos, era quem tomava a decisão final sobre o assunto em questão. No aniversário da Vila, a prefeitura entregou à comunidade um gerador de energia elétrica com capacidade para atender 35 famílias.

Esse primeiro pacote atenderia aos que moravam na área sul da vila, região onde morava o prefeito. As outras 35 teriam que esperar mais um pouco. O caso foi parar na Justiça e até hoje nada foi resolvido. Em uma tentativa de acalmar os ânimos, a prefeitura entregou à comunidade como presente, um aparelho de televisão.

O seu Antonino Pessoa, homem respeitadíssimo na comunidade perguntou: onde a TV vai ficar? Um silêncio, que pareceu uma eternidade. Depois de muita discussão ficou decidido, que o aparelho de televisão, não iria ficar na casa de nenhum morador. Nem na casa do prefeito e nem na prefeitura. Ficou acertado que o aparelho ficaria na praça, onde todos teriam acesso. A ideia, que parecia boa, na realidade se transformou em um grande teste para paciência, tolerância e determinação da comunidade. Em dia de jogo, alguns querendo ver o seu time; ali mesmo, um outro jovem queria ver o seu e a maioria das mulheres queria as novelas. E por muito pouco, amigos de infância não foram às vias de fato.

Os programas de televisão eram o assunto principal dos adolescentes, mas os mais velhos tinham uma definição pra essa euforia: parecia coisa do diabo, diziam eles.

Foi criado assim – depois de muito tempo – o primeiro cisma na comunidade.

Seis meses depois, uma outra novidade chegava a Taperebá: o telefone celular. O aparelho veio com o objetivo de tirar Taperebá do isolamento. A novidade levou muita gente para a prefeitura. Eles desejavam falar com parentes que viviam em outras cidades. Mas não demorou muito para vir à tona um outro problema. O congestionamento para usar o telefone era grande. Mas a paciência de parte da população, não.

Houve momentos que o prefeito teve que chamar a polícia para colocar ordem na casa. Ficou acertado que cada morador tinha no máximo cinco minutos para utilizar o aparelho. Ainda assim, as discussões iam ficando mais acirradas. A situação por pouco não saiu do controle. O prefeito ameaçou desativar o telefone retirando a placa solar que alimentava as baterias. Mas as mágoas germinavam nos corações da maioria dos moradores.

No meio dessa crise toda uma coisa ficou constatada: com a população dividida, a Vila já não era a mesma de antigamente. O tempo passou e agora aqueles meninos e meninas tinham crescido e não queriam ter a vida que os pais levaram.

O acesso a novas oportunidades, a novas tecnologias encantavam os jovens de Taberebá. Voltar para lá, só em visitas aos pais. Estava decretado o fim da vila, que não resistiu as mudanças de uma nova era?

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