Unifap e Ubrock: uma cooperação Norte-Sul para estudos fronteiriços (Parte II) – Por Gutemberg de Vilhena

Por Gutemberg de Vilhena

Como dito na Parte I de nossa série de textos sobre os Grandes Lagos (https://www.blogderocha.com.br/unifap-e-ubrock-uma-cooperacao-norte-sul-para-estudos-fronteiricos-por-gutemberg-de-vilhena/), o uso racional da água doce é um dos grandes e complexos temas de nossa geração. No presente texto focaremos nossa atenção sobre características dos Grandes Lagos (Figura 1), um complexo hídrico de cinco lagos situados na América do Norte, entre Estados Unidos e Canadá, com área de aproximadamente 244 mil km² e cuja formação inicial foi cerca de 12 mil anos atrás, durante a última era glacial. Há um sexto lago, porém de dimensões menos volumosa entre o Huron e o Erie, o Lago St. Clair, que forma parte do complexo dos Grandes Lagos, mas não é oficialmente considerado parte constitutiva.

Aquela considerável massa hídrica é formada pelos lagos Superior (maior e mais profundo), Michigan (único totalmente americano), Huron (segundo maior em superfície), Erie (menos volumoso) e Ontário (o menor em superfície). Quando associados com o rio São Lourenço, seu canal de ligação com o oceano Atlântico, torna-se um dos maiores reservatórios de água doce do mundo. Possuem uma estimativa de 6 quatrilhões de litros de água, cerca de um quinto do suprimento de água de superfície doce do mundo.

Os Grandes Lagos constituem uma “rodovia marítima” de 3.700 km por meio dos quais mais de 200 milhões de toneladas de carga viajam na hidrovia anualmente e uma rede de transporte multimodal espalha-se pelo continente (Figura 1). Além disso, cerca de 40 rodovias e aproximadamente 30 linhas ferroviárias ligam os 15 principais portos do sistema com consumidores, produtos e indústrias da América do Norte e através do globo, facilitando o comércio com mais de 50 países.

Quem viaja da foz do rio São Lourenço até Duluth, Minnesota (Lago Superior), percorre uma distância maior do que atravessar o oceano Atlântico. Há algo como 2.038 milhas náuticas (3.700 km) o que representaria 8,5 dias de navegação para cruzá-lo de ponta a ponta. A hidrovia inclui cerca de 245.750 quilômetros quadrados (95.000 milhas quadradas) de águas navegáveis. Além disso, a região constitui o mais longo sistema de navegação interior do mundo, conectando mais de 110 portos comerciais no Canadá e nos Estados Unidos (Figura 1).

As cidades da região foram fundadas como postos de comércio ao longo de uma vasta “rodovia marítima” que facilitou o comércio em um momento pretérito a estradas de ferro e rodovias, sendo possível conferir um pouco dessa história no Museu da Canoa, em Peterborough, Canadá (https://canoemuseum.ca/, Foto 1). É uma região densamente habitada, com um centro econômico dinâmico e onde 40% da população regional mora em cidades importantes como Toronto, Montreal, Quebec (Canadá) e Chicago, Cleveland, Milwaukee, Rochester e Buffalo (Estados Unidos).

Essa relação com a água permitiu que a região prosperasse ao longo dos séculos. Hoje, os Grandes Lagos-São Lourenço constituem uma potência econômica e o centro industrial dos Estados Unidos e Canadá, com um PIB combinado de mais de 6 trilhões de dólares em 2017, tornando-se a terceira maior economia do mundo se fosse um país, atrás apenas de Estados Unidos e China.

A infraestrutura de eclusas na configuração dos Grandes Lagos é um capítulo à parte. Formando um elaborado sistema de elevação, permite que navios atravessem uma vasta extensão territorial, em que os níveis de água caem mais de 183 metros do Lago Superior para o Oceano Atlântico. Durante essa jornada, uma embarcação passará por 16 eclusas (Figura 2). Especialistas apontam que tal conexão é um dos mais complexos sistemas de engenharia já construídas na história.

Finalizamos este texto com alguns dados que nos convidam a conhecer e entender um pouco mais sobre a região. Do magnífico espetáculo das Cataratas do Niágara, ao charme vitoriano da Ilha Mackinac. De dunas ondulantes e grandes vistas, a quilômetros de praias de areia branca, das florestas verde-esmeralda ao pôr-do-sol escaldante que transformam o horizonte aquoso em chamas, passando pelos canais que conectam os Grandes Lagos, a região se mostra como um magnífico complexo natural, cuja ocupação passou fundamentalmente pelas pelo uso dos caminhos flúvio-marinhos para domar o extenso territorial que os Grandes Lagos ocupam.

* Gutemberg de Vilhena Silva é pesquisador e professor na Universidade Federal do Amapá e atualmente está como Visiting Scholar na Brock University, Canadá.

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