UNIFAP: reitoria é acusada de golpe em professores grevistas e legaliza calendário acadêmico paralelo

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Foto: Site Seles.Nafes.Com

A Universidade Federal do Amapá foi criada em 1992 e, desde então, a luta para se fazer da Universidade um lugar melhor nunca cessou. Não somente em Macapá, mas no Brasil todo, os movimentos pela melhoria do ensino público na educação sempre aconteceram. E hoje estamos vivendo mais um deles. Desde maio deste ano, docentes de 41 instituições federais de ensino superior, de todo país, entraram em greve com o intuito de formalizar um acordo com o governo federal para um reajuste linear de 27% no salário dos mesmos.

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Reitora Eliane Superti – Foto: Abinoan Santiago (G1 Amapá)

Nada mais justo que um professor, que seja totalmente dedicado ao cargo que exerce, ganhe melhor e tenha um ambiente de trabalho mais decente. Hoje, no país, o salário base de um professor de uma instituição como a UNIFAP é de 3 mil reais, mas, com as progressões e titulações, esse valor pode aumentar. O aumento de 15% já fornecido a eles, após a greve de 2012, foi totalmente “engolido” pela inflação. O Ministério da Educação já reuniu com o sindicato nacional dos docentes e a proposta apresentada até o fechamento da matéria era de 21% de reajuste sobre o salário.

Mas o acordo ainda não foi fechado, as negociações continuam sem data prevista para encerrar. Em entrevista à uma rede de televisão, a reitora da Universidade, Eliane Superti, informou que a greve tem previsão para encerrar em setembro deste ano, mas a representação do sindicato nacional no estado nega que exista previsão e diz que a greve continua.

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Foto: G1 Amapá

Desde que a UNIFAP aderiu à greve nacional alguns fatos tem chamado a atenção, não somente dos docentes e discentes, mas também da população em geral. Primeiramente, os cursos de direito e medicina não aderiram à greve e continuaram com as atividades até a conclusão do semestre. Sob muita pressão, através de acordos entre professores e estudantes desses cursos, concluíram os trabalhos, mesmo com os outros cursos em paralisação. Os alunos de Direito já informaram que o colegiado decidiu pela paralisação e que só retornarão com o final da greve.

Agora a polêmica é exclusivamente com o curso de medicina. A coordenação informou que pretende retomar as atividades em agosto, para todas as turmas, daqui a exatamente uma semana. A justificativa é que o curso de medicina tem metodologia diferente dos outros cursos a ponto de não se encaixar no sistema da Universidade, o SIGU, isto é, mesmo com o sistema fechado e o calendário suspenso, eles não têm dificuldades em fazer a rematrícula dos discentes, pois ela é realizada por fora do sistema.

Mas outra questão respalda o curso a continuar. A reitoria da Universidade emitiu um documento oficial que autoriza o curso de Medicina a continuar com as atividades acadêmicas, seguindo, normalmente, o calendário anterior à greve.Unifap-220x205

O professor doutor do colegiado de letras da instituição, também membro do comando geral da greve, Yurgel, explicou que o movimento será traído duas vezes, caso se confirme o recomeço das aulas dos cursos de Medicina. “Não tenho conhecimento desse recomeço das atividades em Medicina, ainda não chegou a informação oficial ao Sindufap, mas, se isso for real, é lamentável e nos sentiremos traídos. Em reunião do CONSU, quando foi decidido a suspensão do calendário acadêmico, um conselheiro do curso de Medicina afirmou que eles só queriam concluir o semestre e, após isso, o colegiado até entraria em apoio aos grevistas ”, contou. “Isso está registrado em ata, é só procurar”.

A maior parte dos alunos do curso concorda com a continuação, independente, das atividades acadêmicas, pois acreditam que, por terem metodologia diferente e atuarem na área médica, serão mais prejudicados que os outros, caso se juntem aos grevistas. “O nosso aluno precisa colar grau no tempo certo, caso contrário, ele ficará impedido de realizar a prova de residência médica que só acontece uma vez ao ano”, explicou a coordenação do curso de Medicina da UNIFAP. Porém, o curso não leva em consideração o fato de que alunos de outros colegiados ficaram impedidos de assumir suas vagas em concursos públicos nos quais forem aprovados, por não terem concluído o semestre e estarem dependendo do término da greve para colar grau e, assim, receberem o diploma.

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Foto: Jornal do Dia

A verdade é que eles se sentem diferentes dos outros estudantes, não por fazerem medicina, mas, como foi dito anteriormente, devido ao método educacional exclusivo deles na Universidade. O correto seria que a Universidade fosse uma unidade, onde todos os colegiados estivessem inclusos no mesmo sistema, para que casos de privilégios como este não ocorressem.

Ao ser questionada sobre um suposto privilégio do curso de Medicina, a coordenação respondeu: “mesmo que estivéssemos inclusos no sistema, daríamos um jeito de fazer a rematrícula, pois temos um documento da reitoria que nos permite continuar com as atividades”.10987315_747935231992978_4936930398644010264_n-220x205

O que deixa claro que houve um boicote por parte da instituição UNIFAP, ao movimento de greve.

“A Reitora da Universidade, figura membro do conselho e presidente do mesmo, estava na reunião do CONSU que decidiu pelo cancelamento do calendário. Como que após a decisão da qual ela participou, ela emite um documento que dá direito a um único curso continuar com as atividades? ”, questionou Yurgel.

“A universidade é um coletivo, é uma unidade. Nós entendemos que esses professores do curso de Medicina não precisam do salário que ganham como professores, isso é renda complementar para eles. Não querem aderir à greve dos docentes federais, mas quando é para fazer greve para melhorias no sistema de saúde pública do estado e do município, eles estão lá fazendo greve”, concluiu.

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Professor Yurgel Caldas

A coordenação de Medicina afirma que tem obrigação de entregar ao governo, ao final do ano, médicos responsáveis e aderir à greve seria um ato de irresponsabilidade do colegiado. Quando questionados pela primeira sobre o retorno das aulas em agosto, a coordenação afirmou ser verdade e deu a data de 7 de Agosto para o recomeço. Mas quando a reportagem foi expondo as questões do comando de greve, dos privilégios do curso, teve como resposta da coordenação “estamos pretendendo retornar as atividades, ainda não está certo”.

A UNIFAP, além de dar um golpe aos docentes em greve, está permitindo que a instituição esteja “funcionando” com calendário paralelo, o que é ilegal. “Essa está sendo a pior gestão dos meus 12 anos de UNIFAP”, concluiu Yurgel. Não podemos admitir mais esse golpe!

Fonte: Jornal do Dia

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