Vamos brindar e agradecer, porque eu já me livrei de situações piores, e não foi um pedaço de carne que me derrubou!

Entre uma cerveja, risos e conversas, um pedaço de picanha quase interrompe toda programação que fiz para o final de ano, e para os demais anos que espero passar por aqui. O pedaço não era tão grande, mas tinha com um pedacinho de nervo, mastigada entre um bom papo, e passou apertado na garganta. Tentei fazê-lo voltar, mas falando, bebendo e rindo, é difícil, foi descendo e ficou ali, no início do esôfago, sem ir nem vir. Pedi calma a mim mesma, e a Deus para ajudar a sair, porque não é justo uma vida cheia de aventura e emoções, acabar assim, com um pedaço de carne na garganta. Fique imaginando os comentários: morreu de quê? Entalada com carne….de goludice….gordice…..doidice….


A carne parada, mas eu respirava, me deram um copo de água, que automaticamente voltou, dor, parecia rasgando por dentro. Meu sobrinho bombeiro queria fazer o procedimento básico, minha irmã evangélica, fazia orações, alguns acalmavam mamãe, outros nem se dava conta do que estava acontecendo, afinal era a festa de aniversário da minha irmã Valda, e não fiz escândalo. Nos minutos de agonia, com aquela coisa estranha rasgando meu esôfago, mentalizava que teria que sair de algum jeito, não era possível, não podia ser aquele meu fim. Esperei o filme da minha vida passar diante dos meus olhos, mas nada. Sem filme, a esperança aumentou e resolvi esperar.


Deu tempo de lembrar dos apuros em que vi a morte de perto. Quando fui assaltada por duas meninas que me ameaçaram com uma faca enorme apontada no meu rosto, e o que eu fiz? Livrei meu braço da faca e com as duas mãos, empurrei o peito da que estava na garupa da bicicleta, e elas caíram me xingando, e deu tempo de sair correndo. Outra vez que a morte me olhou, foi em outra tentativa de assalto, desta vez na orla, enquanto caminhava de manhã cedo, e fazia fotos no celular com poucos dias de uso. Três moleques em duas bicicletas desceram a ladeira do Parque do Forte e me ameaçaram com uma suposta faca enrolada em uma camisa. Gritei, mas os poucos caminhantes olhavam e davam a volta, então resolvi blefar, e disse que viessem pegar o aparelho, pra dar tempo de sair correndo enquanto desciam das bicicletas. Deu certo, até um deles me alcançar e derrubar, foi quando apareceram uns senhores e os colocaram para correr, antes de começarem a me bater, ou sei lá o quê. Tudo isso foi em 2013. Irresponsabilidade, e como disse uma vez a amiga Gilvana, instinto de defesa e sobrevivência, adquirido quando era casada.


Ano de 2015, em casa sozinha com mamãe, não levei o celular para o banheiro e justo nessa noite, aconteceu algo absurdo, de filme. Mamãe na sala assistindo TV, e a energia foi embora. Tentei abrir a porta, e a chave travou. Não podia entrar em desespero, por causa dela, cardiopata, com risco cair e quebrar um osso por causa da osteoporose, e de hemorragia, por causa do anti-coagulante. Rezei, suada, pedi para que aquilo fosse um sonho. Depois de um tempo a energia voltou e “calmamente” gritei à mamãe que abrisse o portão automático, e chamasse algum vizinho. A ouvia apertando o interfone, seu andar arrastando a sandália na casa, e rezava para que não caísse, mas quando conseguiu chegar no portão e gritar para o vizinho, a energia foi-se novamente. Caí em desespero. O portão iria bater, ela ficaria presa para fora, ia morrer de susto lá fora no escuro, e eu morreria dentro do banheiro. Mas um vizinho veio saber porque ela chamava, antes que o portão os trancassem para fora da casa. A vizinha cuidou da mamãe, um chaveiro foi chamado, e eu saí do banheiro parece quem sai do meio de um furacão, e com uma claustrofobia instalada na cabeça, que me persegue até hoje.


Sobre a carne: com muita fé e calma, e medo de morrer daquele jeito, consegui com que subisse de uma vez, e foi expelida de uma só vez, sem eu esperar. Passei o domingo com gosto de azeite de andiroba na garganta, pra sarar os ferimentos. As lições: quando ando na rua, dois passos e uma olhada para trás. Celular escondido. Nunca sem celular no banheiro. Em vez de chave, trinca na porta do banheiro. E agora, carne, só em pedaços muitos pequenos e sem gargalhadas nem cerveja no meio. E nunca sozinha em lugar que corro o risco de ficar presa.

E aqui estou, em mais um final de ano pra comemorar e agradecer, esperar meus irmãos e sobrinhos pra festejar, meus amigos pra brindar, porque ainda estou por aqui. Amém!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *