Vexame no restaurante


Todo mundo já passou vexame em restaurante, né? Eu sou campeão dessa modalidade. Chego ao restaurante e lá vem o garçom:

– Vai querer o quê, patrão?

Eu já fico mordido. Como é que eu, chegando muito confortável na minha condição de cliente, sou recebido com esse xingamento? O cara, sem a menor cerimônia, já me recebe com esse palavrão: patrão! Tenho vontade de dizer:

– Se eu fosse teu patrão, já estarias demitido!

Há um tipo de garçom que já vem dizendo aquela frase, que me deixa inquieto:

– Fique à vontade!

Como assim ficar à vontade? Estou me sentido muito à vontade, por que diabos o garçom me pede pra ficar à vontade? Será que não pareço suficientemente à vontade?

Certa vez entrei num restaurante bem pé-sujo. O garçom nem notou minha presença. Ficou lá no fundo do balcão discutindo futebol com um cliente. Fiquei sentado por mais de oito minutos, rigorosamente cronometrados, até que alguém se atreveu a me atender. Era a dona da espelunca que veio da cozinha com um avental engordurado, com sujeira acumulada desde a Idade Média, e me disse à queima-roupa:

– Vai querer o quê?

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela disparou a frase, junto com um resto de catarro que espirrou no balcão:

– Só tem carne assada. É pegar ou largar. Quem manda chegar tarde? Tá pensando que isso aqui é uma bodega? 

Com toda aquela delicadeza só me restou aceitar. Ela acionou o garçom, que me encarou furioso, mas se acalmou logo em seguida, por força da profissão. Abriu o velho baú de utilidades, tirou um sorriso forçado, colocou no rosto barbado e trouxe uma carne assada só o filé. De dura!

Pra quebrar o gelo, elogiei a tatuagem que ele tinha na mão. Ele respondeu que não era tatuagem. Era uma ferida crônica.

Abaixei a cabeça e enfrentei aquela coisa disforme que o cardápio deles classificava como carne assada de panela. Panela suja, claro!

Depois de me regalar com tal acepipe, pedi um palito de dente. O garçom me pediu pra esperar um pouco. No momento, os palitos estavam todos sendo usados. Pedi um cafezinho e ele me mandou tomar cafezinho na casa da minha mãe.

Paguei a conta, mais apimentada do que o tempero, mais salgada do que a batata frita. Paguei com ticket-alimentação e o garçom não gostou. Pegou o baú de utilidades e tirou de lá uma cara mais feia do que o bife de carne de sol, especialidade da casa, pintado na parede ao lado do banheiro. Sim, senhores! O restaurante tinha banheiro!

Engoli os desaforos em seco e sai correndo daquele lugar. Recomendo aos meus desafetos mais íntimos.

Ronaldo Rodrigues

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