Crônica de Ronaldo Rodrigues
Estou a bordo do avião, indo para Belém. Nessa ocasião, sempre trago papel e caneta para anotar as impressões de viagem. Pois cá estão:
– O nome do comandante: Alexandre Braille. Claro que minha imaginação não perderia a chance de ver um piloto cego, tateando os controles.
– Sinto um sacolejar leve no avião. Turbulência, normal. Mas vejo que o avião ainda não decolou. Aí é preocupante.
– Zona de turbulência: uma aeromoça linda acaba de invadir meu espaço aéreo.
– As aeromoças, que hoje são chamadas de comissárias de bordo (perdeu a poesia), passam para lá e para cá, esbanjando aquela sensualidade indiferente à libido dos passageiros. Minha fantasia: me trancar no banheiro com uma dessas aeromoças e cair nas nuvens.
– Viajar de avião me faz descobrir superstições que ficam por muitos anos guardadas e só aparecem neste momento. Exemplo: descruzar as pernas quando o avião está decolando. Nesses momentos é preciso contar com todas as forças.
– Belém fica a pouco tempo de Macapá. Viagem curta. Não dá tempo nem de sentir medo.
– E lá vêm as instruções de como proceder em caso de acidente. Que acidente? Eu nem estava pensando em acidente! Socoooooooorro!
– Hora do lanche: peço coca-cola, mas, bem enfaticamente, peço que não se coloque gelo. A coca-cola sem gelo diminui o poder devastador do meu arroto. Meu arroto, em sua potência máxima, seria prejudicial à pressurização do avião.
– Viajar de avião, um objeto mais pesado que o ar. Vejo as caras dos passageiros simulando tranquilidade e penso na banalidade do absurdo, a simplicidade de correr o risco. Sei lá.
Consegui pousar em paz. A distância de Macapá a Belém parece diminuir cada vez mais. Estou em Santa Maria das Mangueiras. Marambaia me espera. Cuité, Buscapé, Mauro Vaz, Universidade, Praça da República, Theatro da Paz, estou aqui. Vamos à farra. Em breve, mando outro relato. Boas férias pra mim.