O “Ferinha” e carência de shows de qualidade em Macapá – Crônica de Elton Tavares

Ilustração de Ronaldo Rony

Macapá é rica em diversidade cultural, onde se mesclam as heranças afrodescendentes, cabocla, indígenas e dos imigrantes em uma identidade única. Só a musicalidade fruto disso tudo já é uma lindeza (quem acompanha este site, sabe que divulgo quase todos os nossos artistas). Imaginem se os empresários do ramo de entretenimento trouxessem artistas e bandas realmente porretas para este lugar no meio do mundo. Acontece sim, mas é raro.

Comecei esse texto/desabafo por conta de hoje rolar na cidade o show do “Moleque, o Ferinha” (ainda bem, não aguento mais aquele comercial na TV), mais um meia boca promovido pelo “Bar da Praia”, assim como os da “Comunidade do Texas”, duas entre muitas produtoras de eventos especializadas em jogar merda sonora (canções feitas somente para o cidadão sem qualquer tipo de acesso à cultura, daqueles que o mercado fabrica e empurra goela abaixo do povo) na capital amapaense e ainda cobrar por isso. Deveríamos ter muito mais acesso a shows de qualidade nestes eventos privados. Afinal, é pago. Então bora pagar por algo que preste.

Enquanto na capital vizinha, Belém do Pará, recebe artistas renomados da música brasileira, Macapá segue presa a um ciclo de repetição, onde os mesmos artistas de sertanejo, aparelhagens, sofrência, entre outros gêneros palhoças, ocupam os palcos locais e que nos deixam aquele gosto amargo de oportunidades perdidas. Sim, já que Titãs, Ira (em 2023), e agora em setembro de 2024, Caetano e Maria Bethânia, podem se apresentar no Estado do outro lado do rio e pra cá não vem nada.

A cultura de massa, impulsionada pelos interesses comerciais e pela busca desenfreada pelo lucro fácil, dá nisso. Os empresários, ávidos por garantir retornos financeiros rápidos, optam por trazer atrações de apelo imediato, mesmo que isso signifique sacrificar a oportunidade de enriquecer a cena musical local com apresentações de mais relevância cultural.

“Cultura não é elitista” ou “Cultura não é somente o que você gosta” dizem alguns defensores dessa merda. Nem vou me dar ao trabalho de explicar essa parte. Quem quiser saber mais sobre toda a questão histórica e social que impede, pode ler aqui: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2023/07/5107726-artigo-cultura-de-rico-cultura-de-pobre.html

Mas o que digo/escrevo aqui é como bem lembrou a advogada (minha prima/irmã), Lorena Queiroz, quando em uma conversa hoje mesmo, usou a citação da ministra da Cultura, Margareth Menezes: “a cultura é uma ferramenta de emancipação do pobre“. Sim, usem bons artistas, os que fazem pensar e para abrir mentes e iluminá-las como faróis na tempestade.

Em contrapartida, na mesma conversa, a Lorena lembrou algo também escroto:

Essa questão em Macapá é muito complexa. Ao mesmo tempo que as produtoras não acreditam no povo, digo na hora de trazer uma atração como Caetano e Maria Bethânia, quando tem um show de graça, como o do Zeca Baleiro, na virada de ano, a maioria da população preferiu ir para o de aparelhagem. Lamentável, pois talvez a cultura esteja empobrecendo. Talvez a boa música esteja fora de moda e a gente não aceita. Talvez o nosso problema seja velhice“, destacou Lorena Queiroz. Eu ri. Pode ser.

Em resumo, não que não tragam esses shows merdas, mas de vez em quando, tragam um bom. Público tem, afinal, todos pagam. É melhor do que ficarmos reféns somente das tais produtoras e seus shows escrotos. E olhem que nem vou falar do populismo. Isso pra ser gentil.

É uma dissonância gritante entre o que é oferecido e o que realmente se anseia, por boa parte da população. Pois é, meu caro leitor, aqui em Macapá, parece que estamos presos em um loop interminável de “shows ferinhas”, com um mar de melodias superficiais, letras simplórias e batidas previsíveis. Como se o refinamento e a profundidade musical fossem conceitos estranhos a essa terra, feita pelos cantadores e tocadores de fora. Sim, pois os daqui se garantem demais.

O problema reside na falta de equilíbrio e na ausência de variedade. É como se estivéssemos condenados a repetir incessantemente as mesmas apresentações ridículas.

Não é uma questão de elitismo, mas sim de acesso à cultura, à música que nos desafia, que nos faz refletir, que nos emociona. Como um dos maiores divulgadores da arte local, em todas as vertentes, sobretudo a música, posso reclamar sim. E mais, não tenho preconceito musical e sim conceito.

“Obrigado por enriquecer nossas vidas com encantamentos” – Frase do livro de Caetano Veloso, usada pela jornalista e apresentadora do Programa Fantástico, Maju Coutinho, ontem (17), ao encerrar a entrevista com ele (Caetano) e Maria Bethânia. É exatamente isso que nos falta nos shows que chegam ao meio do mundo: encantamento. E fim de papo!

Elton Tavares

Por um Teatro Municipal (*) – Crônica de Fernando Canto – @fernando__canto S

Teatro das Bacabeiras – Foto: Alex Silveira

Crônica de Fernando Canto

Há tempos a ideia de criar o Teatro Municipal causa grande expectativa nos meios artísticos macapaenses. Artistas com quem conversei disseram que o projeto vinha ao encontro de suas aspirações, principalmente agora que a cidade cresceu e que a maioria deles já tem consciência de que precisa valorizar cada vez mais seus trabalhos. Alguns já vêm desenvolvendo comercialmente suas atividades a partir da realização de cursos de empreendedorismo, que também os obriga a vender bons produtos. O teatro municipal é um sonho de muito tempo. A prefeitura tentou comprar o ex-cine Macapá em 2001 com esse propósito, mas infelizmente as negociações não avançaram. Agora é notório o aumento do mercado de bens culturais e estável o circuito de produtos culturais como teatros, bibliotecas e auditórios, em Macapá.

Para os artistas o teatro do município não só desafogaria a pauta do Teatro das Bacabeiras como daria apoio aos produtores culturais para desenvolverem seus trabalhos. Ao funcionar em consonância com a política cultural do município, o teatro daria ênfase às ações populares como espetáculos teatrais abertos ao público, shows com ingressos mais baratos, além de outros projetos internos que pudessem facilitar o desenvolvimento da arte, por meio de debates, reuniões de trabalho, simpósios, festivais e, sobretudo, com o processo educacional ao lado disso tudo, onde não se furtaria também a constante e imprescindível formação de plateia.

A criação e a implementação do teatro, antes de ser uma decisão que viria beneficiar os segmentos artísticos das artes cênicas e da música, é um princípio que norteará ações tais como o estímulo à formação cultural da população e dos agentes culturais do município. Sua configuração e funcionamento deverão ser regidos dentro dos padrões da política de cultura municipal, o que deverá possibilitar o acesso da população a esse bem cultural, de forma democrática, levando em conta a diversidade cultural, linguagens, identidades e formas de expressão do nosso povo.

No bojo dessa construção o maior interessado é o cidadão, aquele que goza dos bens e serviços efetuados pelos poderes públicos, dos direitos civis e políticos e do desempenho dos deveres para com ele. Este, então, é um princípio necessário ao desenho e à consecução de uma política cultural contemporânea: o dever das instituições políticas e administrativas para com o cidadão, considerando que ações governamentais devem ser feitas para todos e não só para uma elite. É papel importante o de ofertar produtos de acesso garantido ao cidadão, ávido de consumo de arte. Acesso físico e acesso econômico a produtos de boa qualidade.

É bom lembrar que quando falamos em cidadania e cultura estamos diante de abstrações, de conceitos, de uma ideia sobre as coisas. Assim o acesso, aquele que dignifica o cidadão, quer simplesmente dizer ingresso, entrada, chegada, aproximação, alcance de coisa elevada ou longínqua. Entretanto não se pode deixar de registrar que a palavra “acesso” também carrega um conceito de fenômeno patológico ou psicológico que é o chamado “ataque de raiva”, ou impulso, que é uma reação do cidadão ou da cidadã que não vê atendido o seu direito de cidadania.

Da nossa parte cantamos a melodia dos artistas com o mesmo entusiasmo porque acreditamos que um teatro para ser popular e de boa qualidade deve ofertar bons produtos, divertir, unir e corporificar os valores culturais de uma sociedade organizada, de uma sociedade plena de direitos e deveres satisfeitos, de uma sociedade cidadã.

(*) Publicado no JD, em 2007. Mas ainda não temos o tal teatro.

 

Nostalgia e Luz – Crônica de Natal de Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

Hoje de manhã me vi subitamente abatido por um ataque de nostalgia.

No meu caminho para o trabalho observei um homem ateando fogo no lixo. Tinha uma vassoura nas mãos e cuidava com atenção para que as chamas não se espalhassem sobre a calçada. Aquele ato, pensei, era um resquício da herança cultural indígena tão presente em nossa vida cotidiana.

De repente me veio a lembrança do tempo que Macapá caminhava lenta, em sua vivência pacata sob o sol do equador, quando vizinhos se respeitavam e eram amigos; quando cada um sabia das necessidades do outro e ninguém hesitava em pedir uma xícara de óleo, um pouquinho de farinha, um teco de colorau, de pó de café ou de pimenta-do-reino, ou quando trocavam gentilmente deliciosos pratos de comida, feita com abundância para a família.

Lembro que às vezes, pela manhã, minha mãe varria as folhas do cutiteiro que sombreava a frente de nossa casa e fazia a sua fogueira no lixo amontoado. Ele também era o alvo dos moleques da baixada que quebravam nossas telhas com as tentativas de apanharem os frutos jogando pedras e paus na árvore. A pequena fogueira fazia pouca fumaça, mas ia se juntando com a fumaça da vizinha e da outra vizinha e da outra vizinha. E ninguém se incomodava porque a fumaça era fugaz, se dispersava com o vento vindo das marés do Amazonas, lá adiante.

À noite trafegava em sua beleza estelar na escuridão. Crianças brincavam de roda à boca da noite e adolescentes gastavam suas energias na brincadeira de “pira” ou de “bandeirinha”, sob a luz da lua ou das lâmpadas pálidas dos postes da CEA. E, quando a luz se apagava, íamos até mesmo ouvir dos mais velhos as histórias de assombração, pregar peças de visagens aos poucos passantes da noite ou observar os satélites que cruzavam os céus do equador entre as estrelas.

Naquele tempo meu pai deixava aberta a porta de casa para que eu e meus irmãos não incomodássemos seu sono, certo de que ninguém ousaria abri-la para roubar. Era um tempo em que bastava a presença de um cãozinho para o possível gatuno se escafeder. E até as criações de galinhas e patos não eram protegidas da ousadia das “mucuras velhas” de plantão, que roubavam os animais para fazer tira-gosto de suas bebedeiras noturnas. Ah! E como eles sabiam fazer isso. Há casos em que roubavam a própria casa.

Os quintais não tinham cerca, tinham caminhos de atalhos, tinham campinhos, leiras de verduras e árvores frutíferas. As ruas eram tão nossas que ao fim da tarde viravam campos de futebol, em jogos que só terminavam ao anoitecer. Cada um respeitava seu cada qual: o dono da bola podia ser ruim no jogo, mas era o dono, e pronto. Ninguém furtava a merenda do colega nem caderno nem brinquedo.

Ainda que eu não queira culpá-la, mas depois que a televisão chegou nada mais foi igual. A molecada ia assistir a programação na casa do seu João de Deus onde havia o único aparelho de TV no bairro. Seu João colocava um vidro azul no vídeo para que as cenas das novelas “Meu Pedacinho de Chão” e “Vejo a Lua no Céu” parecessem mais coloridas. Doce ilusão! E dava o exemplo de patriotismo acompanhando em pé com a mão no peito o Hino Nacional, no fechamento da programação, por volta de meia-noite. O sagrado jantar familiar ficou mais apressado porque a novela ia começar e todos iam para a sala assistir aos folhetins de Janete Clair.

Mas ainda que brote da minha memória, eu não vejo com saudade essas lembranças. A saudade é mais profunda, é mais poética e mais densa que a nostalgia, que é uma palavra originária do grego e significa “regressar”, “voltar para casa”. E nesse regresso emocional, observo que as pessoas quase já não varrem as folhas que caem das árvores na frente de suas casas, nem fazem mais fogueira com medo de denúncias de vizinhos aos órgãos ambientais e por acharem que é um trabalho exclusivo dos garis da Prefeitura. E assim, as fumaças que eram como bandeiras ou cantos de galos se espalhando, já não enfeitam mais as manhãs ensolaradas da minha cidade. A solidariedade dos vizinhos foi substituída pela individualidade de cada morador aprisionado em suas portas e muros gradeados, pelo medo tácito da violência urbana.

As pedras jogadas nas mangueiras e cutiteiros se transformaram em duras palavras atiradas até em quem não tem telhado de vidro. A energia vital dos adolescentes é gasta nas baladas, quando longe dos pais, muitos enveredam pelos caminhos das drogas. As antigas histórias de assombração agora são contadas pelo Rádio e pela TV nos noticiários da violência no trânsito, brigas de gangues e mortes cruéis por motivos fúteis. O olhar real da juventude que acompanhava o curso dos satélites no céu escuro da noite tornou-se um virtual olhar, onde o romantismo de outrora foi trocado pela racionalidade dos programas dos computadores e celulares on line na Internet e pela comunicação ingênua das redes sociais.

Ah, os ladrões… Desde que mundo é mundo temos ladrões, prostitutas e assassinos e os seus trabalhos diferenciados sob a Lei, porque não há sociedade sem crime, ainda que teimemos em construir nossa utopia. Os ladrões de um passado (nem tão longe assim) eram de patos e galinhas, que ao menos não sujavam o nome de nossa terra e nem nos envergonhavam nacionalmente com negociatas políticas e atos de corrupção explícita.

Nem se comparam com muitos da atualidade que usam a pele de cordeiro para, como lobos ferozes, roubar o dinheiro público, enriquecer às custas do povo e trair cinicamente os que neles confiaram pelo voto. Naquele tempo as cercas inexistentes nos quintais davam a todos a liberdade de fazer seus próprios caminhos, de realizar seus atalhos e se apressar para a vida que viçava lá fora, principalmente pelo caminho da educação, pulsante nas escolas públicas, onde os professores eram mais que isso: eram educadores e amigos. Ensinavam também, como no ato do seu João de Deus em frente à TV ouvindo o hino nacional, a respeitar os valores da Pátria, apesar da era de obscurantismo da ditadura militar.

Hoje olhamos para os costumes sociais e familiares em mudança e nos molhamos de nostalgia. Tudo mudou com os avanços tecnológicos, que tanto facilitam a nossa vida. E tudo começou com a televisão, essa invenção incrível, pois quando a luz apagava na hora de um programa ninguém mais conversava. A família ia para o pátio da casa olhar a rua espelhada de chuva, e uns se perguntavam aos outros: será que foi geral? Será que ela vai voltar? Já pensou? Ficar sem TV o resto da noite… Afirmo, pois, com certa tristeza que foi aí que começou a morte do diálogo familiar.

E as ruas? Ora as ruas. Ruas de tempos abençoados que não testemunharam atropelamentos fatídicos, apenas quedas de bicicleta ou boladas na cara de algum passante desatento. Ruas da minha cidade transformada, ruas que hoje absorvem o sangue dos mortos diariamente em cada esquina, ruas não mais tangidas pelos protestos do povo inconformado, ruas esburacadas pela angústia no rosto da juventude sem emprego, ruas que se tornam rios de chuva e trazem doenças inevitáveis, ruas que lêem os passos cansados dos que tem pouca mobilidade física, ruas escuras, ruas das violências noturnas, ruas dos loucos, dos bêbados, das putas, dos travestis e dos moralistas de plantão.

Mas elas são também as ruas dos sonhadores como nós, que tentamos enfeitar a madrugada e trazer a música e o sol no cavalo alado da nostalgia, para iluminar um mundo futuro ausente de dor e de vergonha, mas cheio de luz e de perdão.

Não deixemos, pois, por isso mesmo, a luz ir embora dos nossos corações.

Aos loucos, pirados pelo poder – Crônica de Elton Tavares – (Do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Crônica de Elton Tavares

Queria que esses loucos por poder fossem tomados por lucidez e bom humor. Que eles respeitassem nossas individualidades, fraquezas, escolhas e habilidades. Gostaria que estes canalhas avaliassem o profissional, a pessoa, o amigo, sem o sagaz desejo de domínio absoluto do ser e sem a mão pesada da tirania imbecil.

Queria que estes doidos por dinheiro nos deixassem escolher, questionar, discernir, pensar livremente. Queria que os insanos por status nos desse o direito de sermos sinceros, de vivermos com clareza, de acordo com nossas escolhas, sem ameaças ou tramas de desconstrução de nossas imagens.

Ficaria feliz com um pouco de reconhecimento pelo que foi feito, pelo que aconteceu, pelos bons e ilusórios tempos de brodagem. Também seria grato se os alucinados se tocassem que não possuem superpoderes, muito menos competência para “queimar” quem não atende seus desejos.

Queria que fossem menos incoerentes, estúpidos, insensatos e imorais. Uma pena que loucos maus conduzam cegos, entre eles, bons cegos.

Por fim, queria mesmo que esses malucos monsenhores boçais e seus vassalos, envenenados pelo poder, parassem de, a esta altura do campeonato, tentar dar um migué (fraco) para cima de quem os conhece bem. Chega, insanos, de tentar rezar a missa em latim de trás pra frente.

Afinal, ninguém é totalmente mau ou plenamente do bem, mas injustiça e perseguição gratuita é loucura. E como é! Ah, como eu queria que esses loucos fossem menos pirados por poder.

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, lançado em 2020.

Há um novo bar restaurante na cidade. Poucas novidades e velhas canalhices – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”

Crônica de Elton Tavares

Há um novo bar restaurante na cidade. Também a velha mania de parar por qualquer evento diferente, tipo coisa do interior. Mas até aí tudo bem, faz parte da fuga por coisas novas.

Também há muita insatisfação, descrédito e pouca esperança. Também jovens ávidos por uma chance, um emprego e velhos professores aflitos pelo retorno de benefício salarial ou os novos, pela falta de um reajuste justo.

Há crianças se prostituindo e velhos coronéis ainda no poder. Há gente morrendo nos hospitais e alguns ainda dizem que tudo está no seu lugar. Há caos, desordem e desonestidade à rodo. Há má vontade…

Há sonhos engavetados e paixões idiotas. Há muita grana a ser gasta com a massa de manobra por interesses obscuros. Há medo!

Há pessoas assistindo a tudo sem fazer nada. Uns por egoísmo, outros por conveniência. Há ameaças, chantagens, acordos e punições. Há violência. E de toda forma. Corpórea e moral. Há assédio, mas todos chamam de “Lei do mais forte”.

Há casamentos, separações, mortes e nascimentos. Há loucos impetuosos e covardes acomodados. Há muita alienação e burrice colorida. Há canalhas demais!

Há muita beleza natural, muita gente do bem, tanto por fazer e amores (sur)reais. Mas há poucas novidades e velhas canalhices, mas todo mundo só pensa na porra do novo bar restaurante na cidade.

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em  2021.

Sobre divulgações e os “caras de pau” – Égua-moleque-tu-é-doido

Quando perguntam qual a minha profissão, digo que sou jornalista, assessor de comunicação e editor de um site e escritor. Aqui nesta página gosto de divulgar cinema, teatro, poesia, atrações musicais, arte, enfim, cultura em todas as suas vertentes. Certa vez, li que toda divulgação para cultura ainda é pouco. Concordo. Também publico informações relevantes sobre o Amapá, Brasil e mundo. Além de elogiar, também critico quando acho que é preciso.

Para muitos, isso aqui é brincadeira. Para mim, não. Começou como uma forma de escrever do jeito que quero e sobre tudo que eu tiver vontade. Claro que, como todo mundo, às vezes cometo alguns erros, mas há muito, não sou um “editor amador”. Sim, senhores e senhoras que costumam ler o De Rocha, existem os amadores e os profissionais. E são facilmente reconhecidos.

Quase sempre divulgo tudo de graça, mas por vontade de ver a coisa acontecer ou por amizade que tenho com muitos músicos, produtores, artistas e principalmente assessores de comunicação. Estes últimos, jornalistas que cavam espaços em páginas eletrônicas, TV, Rádio e jornais impressos.

Só que alguns confundem e exigem (sim, exigem) que eventos, em que os exigentes ganharão dinheiro, sejam divulgados aqui. Às vezes, publico pelo assessor e NUNCA pelo ingresso ou mesa de tal acontecimento.

Cara chega e diz “nossa, ótimos textos e bela iniciativa. Divulga o meu evento?”. Aí você diz: tá beleza, pague e seja um parceiro do site. Nisso, o cara que vai ganhar mil ou milhares, responde: “não dá, tá difícil”, (risos). Assim não é possível. Faça-me o favor!

Continuarei postando aqui o que me der vontade, mas nunca uma mentira. Como dizem no velho Latim: Verum, dignum et Justus Est! (É verdadeiramente digno e Justo). Esse desabafo não é pra todos, mas para alguns caras de pau, que se acham sabidos. O problema é que, como diz o adágio popular, a esperteza às vezes engole o dono.

Mas a gente gosta da cultura do Amapá e segue a divulgar, mesmo de graça (na maioria dos casos).

Elton Tavares

Previsão Astrológica Genérica – Por Aloísio Menescal

Por Aloísio Menescal

O tempo do dia pode variar, mas seu temperamento não necessariamente o acompanhará.
Pequenas injustiças podem ser testemunhadas, mas o embalo da vida e alegrias momentâneas te farão esquecer logo em seguida.
Uma pessoa querida falará mal de você para um desconhecido, mas você não vai descobrir.
Uma pessoa de quem você não gosta te verá na rua, mas fingirá não te ver e você nem perceberá.
A primeira alma gêmea programada para você, mas que você nunca conheceu devido a um caminho errado que tomou, te cumprimentará neste dia e nunca mais se verão – outras já vieram depois dessa e outras ainda virão.
Uma sensação estranha pode ou não lhe acometer ao longo do dia, mas embora pareça ser algo intrigante será apenas uma pequena indigestão.
Coma folhas mais coloridas para equilibrar sua aura, que está desbotadanesse tempo chuvoso. Evite adoçantes sintéticos e pimentas exóticas.
Cor do dia: verde arroxeado. Número do dia: 171.

*Esse sarro que o amigo jornalista Aloísio tira com Zodíaco é porreta, pois tem gente que bota a culpa de seus erros em signo do horóscopo. Coisa que desacredito e desconcordo, rs (Elton Tavares).

BALANÇO ANUAL – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Crônica de Lorena Queiroz

Ao fim de cada ano, geralmente na última semana, faço um balanço dos acontecimentos, de todas as efemérides vividas e passadas ao longo desses 365 dias. Este ano aprendi a aprender. Compreendi que é preciso analisar e aprender com cada sim e não dado pela vida. O resultado de meu aprendizado é que somos eternos aprendizes de nós mesmos, aqueles de poucas certezas e muitas dúvidas. A grande sorte é que uma de minhas poucas certezas é de que não é difícil viver, mas claro, se você tiver algumas armas em seu arsenal; coração leve, coragem e malandragem. Ah, a malandragem, essa característica tão incompreendida pelos que ainda não entenderam as necessidades da vida. A malandragem nos possibilita a arcar com as outras duas armas sem tomar no cu.

Certa vez assisti um vídeo que um velho malandro diz; ‘’ Malandro não é o vagabundo, o periculoso. Malandro é um artista”. E segundo Fernando Candido, o malandro é o indivíduo que vive fora das normas estabelecidas pela sociedade, situando-se entre a ordem e a desordem. E não é assim que todos nós vivemos? Entre a ordem e a desordem de tudo que não conseguimos compreender. Malandragem te faz repousar em águas tranquilas, tal qual o salmo 23. O tal Rei Davi sabia das coisas, ele nunca passaria pelo vale da sombra da morte sem coragem, coração leve e malandragem. Flexibilidade é tudo!

Compreendi ainda que o agradecimento precisa ser um costume diário. Que cada coisa que acontece, seja bom ou ruim, acontece pra que a gente se prepare para os próximos dias que estão por vir. É necessário entender que cada ser humano só entrega o que tem, e que, se alguém não te entrega aquilo que você espera ou acha que merece, não quer dizer que não entregou tudo o que podia. A liberdade de errar e acertar é uma dadiva divina e encontrar a felicidade nos erros fará parte do processo. Tudo que vem e que vai, te ensina alguma coisa e sempre agradeça pelo que veio e pelo o que se foi. Eu agradeço a tudo e a todos que se foram, pois abriram espaço para que semelhantes chegassem. Agradeço cada lágrima e cada risada que me brindaram esse ano. Pois sem elas eu não escutaria Gal cantando Vaca profana com o mesmo significado. Tampouco entenderia o que Belchior tinha razão quando dizia que a noite fria lhe ensinou a amar mais o seu dia, pois na dor se compreende o poder da alegria e que, sim, todos temos coisas novas pra dizer.

Caro leitor, espero que este ano você tenha vivido, mudado de ideia e de ideais inúmeras vezes. Espero que tenha chorado, caído e levantado. Intenciono que tenha acertado e errado por várias e incansáveis vezes. Pois disso é feita a boa vida. Torço para que compreendas que a única coisa que não muda é a eterna mudança, como diz Gilberto Gil em Tempo rei; Tempo rei, transformai as velhas formas do viver. Ensinai-me, ó pai, o que eu ainda não sei”. E por fim, se eu puder lhe dar um conselho, viva com leveza, coragem e malandragem. Divida seu amor e seu pão até com o cão.

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora, contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.

O Pau da Bandeira – Crônica de Silvio Neto

Crônica de Silvio Neto

É inegável que a quase totalidade – sim, porque há raríssimas exceções – das sociedades do planeta se desenvolveram e ainda são regidas pelo patriarcado – sistema social em que os homens mantêm o poder primário e predominam em funções de liderança política, autoridade moral, privilégio social e controle das propriedades.

O símbolo máximo desse poder – amplamente estudado pela psicanálise – é o falo, isto é, o pênis e, por extensão, tudo que remeta à sua imagem nas mais diversas formas. Por exemplo: Os cetros dos reis e imperadores; o cajado do papa e dos bispos da igreja católica; o malhete do juiz; o diploma universitário dobrado em formato de canudo cilíndrico; os diversos tipos de cigarros, charutos e cachimbos dos boêmios e intelectuais; os monumentos em praças e parques no formato de obelisco; as armas (principalmente as de fogo e as perfuro cortantes); as bandeiras hasteadas em seus mastros – inclusive os mastros de murta que sustentam as bandeiras dos santos no ciclo do marabaixo; etc.

Em consequência do patriarcado é que temos o conceito de pátria e patriotismo. A primeira com o sentido de “terra do pai” (aquela que dá o sustento ao homem). O segundo como um dever de obediência e dedicação total do filho ao pai que o sustenta – bem ao modo das antigas tribos hebraicas que deram origem mais tarde à sociedade dos judeus.

A pátria é sutilmente diferente da nação. Enquanto a pátria é o espaço geográfico onde se insere o indivíduo (de forma natural ou adotiva), a nação agrega, além de elementos como território, língua, raça, religião, costumes e tradição, um vínculo de convicção de um querer viver em coletividade. Podemos dizer, portanto, que o conceito de pátria é mais objetivo, enquanto o de nação é mais subjetivo. E justamente por ser algo mais objetivo, palpável, é que a pátria necessita de uma afirmação através de símbolos que estabeleçam, além de sua identidade, o seu poder de soberania.

No caso do Brasil, são quatro os símbolos principais: O Selo Nacional, que chancela os atos do governo, os diplomas e certificados; o Brasão de Armas, que representa a glória, a honra e a nobreza brasileira – psicanaliticamente falando, representa o gozo de ser brasileiro; o Hino Nacional, que seria a representação oral do nosso suposto patriotismo e a Bandeira Nacional, símbolo fálico por excelência e que representa, além do óbvio, o poder falocêntrico da nação – note que aqui eu falei “nação”, naquele sentido já falado do desejo de viver em coletividade, isto é, a figura mítica do “povo brasileiro”.

O escritor e pensador inglês Samuel Johnson é o dono da frase: “O patriotismo é o último refúgio do canalha”. Nisso, ele se referia não ao “amor real e generoso” pela pátria, mas ao “pretenso patriotismo que tantos, em todas as épocas e países, têm usado como um manto para os próprios interesses”. A frase de Johnson referia-se, portanto, aos canalhas, e não ao patriotismo em particular. Ela observa que o patriotismo é um conceito que pode ser facilmente manipulado, e por todo tipo de indivíduo; ao apresentarem-se como patriotas, até mesmo canalhas podem prosperar. Além disso, em um nível mais profundo, ela refere-se à tendência acentuada de que, quando confrontados, canalhas demonstrem um devotamento patriótico falso a fim de explorar esse sentimento alheio e, por meio dele, avançar seus interesses e proteger-se aos olhos do público. Isto lembra alguma coisa?

Com a dissolução da União Soviética e decadência quase total do comunismo, temos visto nos últimos anos um crescimento exponencial da extrema direita em diversos países. Na Europa e Estados Unidos, o fantasma das imigrações clandestinas e dos refugiados tem assombrado a todos e mexido com seus ideais de identidade. Diante do estranhamento dos “de fora”, há uma necessidade dos nacionalistas se reafirmarem em suas próprias identidades e tentar se proteger de supostos inimigos que “invadem” suas pátrias.

Na maioria dos países onde leis segregacionistas sempre existiram, é mais fácil notar os preconceitos e racismos. Mas, e no Brasil, onde sempre foi pregada uma “democracia racial” ou mesmo “social”? Bem, em meio ao “cordial” povo brasileiro – como diria Sérgio Buarque – as máscaras estão caindo de uns anos pra cá e os preconceitos e discriminações de raça, gênero e condição social estão ficando cada vez mais escancarados. E tudo por causa de um homem (tinha que ser) que garante ser “imbroxável” (poder do falo) e que desde 2018 resolveu encarnar o mito do “salvador da pátria”.

Não quero me deter aqui em falar desse sujeito abjeto. Minha proposta aqui é analisar apenas um pequeno aspecto do discurso desse “mito”: O uso da Bandeira Nacional. Desde 2018 tornou-se comum a frase “Nossa bandeira jamais será vermelha!”, numa alusão a não se permitir que um suposto comunismo invada o Brasil e que, portanto, é preciso se agarrar com unhas e dentes ao falo do pai; ao poder soberano da terra do pai (a pátria). Em outras palavras, à Bandeira Nacional.

Eu particularmente acho curioso e até engraçado esse apego que tanta gente vem demonstrando ao pau da bandeira (o falo pátrio). Parece que os apoiadores do execrável estão regredidos e fixados à fase fálica, aquela época da vida em que o sujeito tem por volta dos cinco ou seis anos de idade e começa a desenvolver a neurose obsessiva por medo da castração. É o medo das elites terem castrados os seus privilégios – o rico empresário isento de impostos sobre sua fortuna; o rico pastor evangélico e suas concessões de rádio e TV; o rico fazendeiro com suas incursões ilegais pela Amazônia, etc. Daí a necessidade de hastear a bandeira na casa, no carro, no pescoço ou onde der. É preciso mostrar ao “pai mítico” que ele é agradecido por todas as dádivas que lhe são dadas. E não é à toa que vemos tantos privilegiados mostrando sua gratidão e obediência ao “pai” com suas bandeiras hasteadas em suas belas casas e carrões.

*Silvio Neto é jornalista e pilota o blog “A Vida é Foda” (aliás, recomendo, saquem lá).

Brochável ou Imbrochável, Bolsonaro é o dejeto moral travestido de patriota

Foi a isso, apenas a isso que está nesse vídeo, que se resumiu o 7 de Setembro do Imbrochável.
O 7 de Setembro dele resumiu-se ao deboche, à falta de compostura, à palanquice eleitoreira e à imbecilidade.
O 7 de Setembro da Patriota Imbrochável fez o Brasil soçobrar ainda mais fundo na lama da vergonha.
O 7 de Setembro que levou boa parte do rebanho às ruas, sob estímulo do Domador Imbrochável, foi mais um momento em que fascistas – enrustidos ou não, fanáticos ou moderados, mas de qualquer forma fascistas – expeliram o fel de seus pendores antidemocráticos, pregando descaradamente a convocação das Forças Armadas para um golpe e proclamando outras pregações flagrantemente inconstitucionais.
Bolsonaro e seu rebanho – apenas o seu rebanho – envileceram o Brasil sob a capa hipócrita de um patriotismo de fachada, um escudo com que tentam esconder – mas nem tanto – todos os seus anseios de transformar o País numa odiosa ditadura de direita.
Com o seu deboche, proclamando-se imbrochável, o Imbrochável oferece sob medida, a todos os brasileiros, a contradição entre a pureza dos valores morais que ele proclama e suas atitudes, flagrantemente afrontosas a tudo, inclusive aos sensos morais mais, digamos assim, recomendáveis.
Bolsonaro, Brochável ou Imbrochável, é a vergonha nacional.
Brochável ou Imbrochável, Bolsonaro é o dejeto moral travestido de patriota; ou vice-versa.

Fonte: Espaço Aberto.

A Barbárie e Covardia diária – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Marcelo Arruda, comemorava com seus entes queridos seu aniversário de 50 anos no último domingo, meio século de uma vida aparentemente feliz, quando teve o local da festa invadido pelo policial penal federal Jorge José Rocha Guaranho, resultado a maioria de vocês já sabem, tragédia, um covarde ato insano promovido por um agente público do estado.

Os disparos fulminaram a vida de Marcelo, que tinha escolhido como tema da comemoração o PT. Sim o Partido dos Trabalhadores.

Mas o que nos trás para reflexão? Atos insanos desses tornam-se comuns, e não podem. A discordância política não pode nos levar a ter esse sentimento de ódio, promovido e amplamente divulgado nas redes sociais.

Uma das bandeiras levantadas pelo discurso de quem hoje comanda o poder executivo do Brasil, foi a liberação ou flexibilização do porte de armas para o cidadão comum, bom pergunto a vocês, se um profissional treinado pelas forças federais de segurança pública chega a tal ponto, imagina um cidadão comum que com o poder do dinheiro teria maior facilidade ao acesso a uma arma de fogo.

Digo poder do dinheiro, por que primeiro,  não seria barata as armas e claro, apenas uma pequena parcela da população teria o acesso a elas, a grande maioria encontraria se a mercê de gente tresloucada e armada, que com o apoio do discurso que vem do alto escalão governamental se acharia no direito de tirar vidas de forma covarde como o acontecido no caso de Arruda.

Lembro-me que a uns dois ou três anos atrás dos estabelecimentos que dispunham do serviço de agenciadores para a facilitação do porte de arma, e os clubes de tiro terem pipocado pela cidade, tal quais os Sushis Bar ou as Barbearias em outras épocas, realmente era um mercado promissor, ainda bem não foi pra frente, tive medo de ter mais clube de tiro do que óticas em Macapá.

Imagine isso, o risco que seria. Mas não as armas garantiriam a segurança do cidadão de bem, aquele que paga seus impostos, que se dedica a família e a igreja, era isso que era clamado por eles. Armas nunca garantiram a segurança de ninguém, assim como a pena de morte não resolveu o problema da violência em canto nenhum do mundo.

Nos EUA, o país exemplo para a maioria dessa turma os casos de violência urbana ou melhor massacres contra minorias cresceram em décadas e detalhe a pouco tempo também tinha um governo que apoiava discretamente esse tipo de ação. Pelas bandas de lá se apegam a tal primeira emenda, aqui tentaram também, “tenho direito de me armar para defender minha família”, já escutei, mas até parece que vai deixar sua amada e cara arma em casa quando for sair?

São essas as saídas e desculpas hipócritas que os apoiadores desses tipos de atos nos dão, já escutei que os dois estavam errados, que não deveria comemorar o aniversário com tal temática,  que já havia passado da hora, que aconteceu uma discussão , mas ninguém culpa o fato de o provocador estar armado. E com a mais duras das certezas que tenho é que só entrou em contato com os presentes na festa por estar armado.

As eleições estão chegando, falta menos de seis meses para que seja realizada a “festa da democracia”, e já vejo um movimento de descrédito nas urnas eletrônicas, no processo eleitoral, detalhe importante que quem levanta tais teses toscas não apresenta provas, não se surpreendam se acontecer a convocação dos “cidadãos de bem” com suas camisas da CBF e suas pistolas e revólveres para defender a “democracia” contra o fantasma do “Comunismo”, caso o resultado não seja o esperado por eles.

Que as imagens  da invasão ao Capitólio nos EUA não se repitam por aqui, e que essa turma realmente se coloque no seu lugar.

Toda a justiça para Marcelo Arruda, que sua imagem não seja esquecida, e que esses tempos de profunda insanidade passem logo.

Falta Pouco.

*Marcelo Guido é Jornalista, pai da Lanna e do Bento e maridão da Bia, além de antifascista. 

Poema de agora: Governo do Corte – Ana Anspach

Governo do Corte

Vivemos dias de chumbo.
Áreas essenciais para o desenvolvimento
Estão sendo tratadas com desprezo e negligência
Assim como políticas públicas universais: saúde, educação,
Previdência e assistência social.
O Brasil passou a ser uma nação
Onde não se investe em pesquisa,
Nem em ciência e tecnologia.
E o que dizer da arte?
Agora é algo que contraria
O interesse público…
Além disso vimos acontecer com lágrimas no coração
Incêndios em museus, teatros e outras instituições de cultura.
Mas nada irá nos calar.
Seguiremos transgredindo, denunciando,
Conclamando parcerias,
Cantando, escrevendo, dançando e criando.
Continuaremos amando e resistindo
Fazendo parte do cenário cultural,
Cultura cura.

Ana Anspach

Como vai a vida? – Crônica de Pat Andrade

Crônica de Pat Andrade

Já tem um tempo que eu vendo meus livrinhos empapuçados de poesia. Uns são ilustrados por mim mesma, com desenhos autorais ou colagens; outros têm ilustrações retiradas da internet. Também já fiz livros e cartões manuscritos – uma loucura, porque essa façanha me ajudou a desenvolver uma doença degenerativa e sem cura: a síndrome do túnel do carpo, que eu não vou descrever aqui porque não tenho paciência e nem palavras para tanto. Basta que saibam que me causa dores terríveis do lado interno do antebraço e por vezes paralisa o movimento do meu dedo médio, o que dificulta muito o uso da pena, que me é tão caro. Mas deixemos isso de lado e passemos ao que interessa – ou não.

Nas minhas incursões pelas ruas da cidade, rumo aos cafés, bares, restaurantes e afins, onde tento – renitente – vender poesia, encontro muita gente conhecida e muitos perguntam como estão as coisas, como vai a vida e outras amenidades. Deixei de responder com a verdade, pois considero uma crueldade com quem está desfrutando a vida de modo tão aprazível – bebendo, tomando um café com delícias, comendo uma chapa mista etc – dizer como vai a vida. Imagine você se eu dissesse “não vai nada bem, pois temos centenas de milhares de pessoas morrendo de fome ou catando lixo pra sobreviver” ou “não vai bem, porque centenas de mulheres tem sido assassinadas, estupradas, violentadas física e psicologicamente” e “não vai bem, porque crianças são molestadas todos os dias por gente da própria família”. Eu também poderia dizer que a vida não anda tão boa por causa do desemprego que afeta milhões de famílias Brasil afora ou por causa da pandemia, que ceifou milhares de vidas; por causa da destruição da Amazônia e suas populações nativas. Posso responder que não acho que a vida vai bem quando se descobre que pessoas que julgávamos amigas são na verdade um monte de víboras sedentas de poder.

Enfim… São muitas as razões pra achar que a vida não vai bem, mesmo. Mas não tenho coragem; não tenho esse direito; penso nos olhares perplexos que virão ao encontro do meu, e nos comentários tipo “como assim? tu estás exagerando” entre outras frases feitas que sairão de pronto dos meus interlocutores.

Então, aos que não enxergam nada, aos que se recusam a enxergar ou aos que não se importam, sigo contando a mentirinha diária e inocente – que todos acreditam piamente – de que a vida vai muito bem, obrigada.

Poema de agora: Bem te vi – Manoel Fabrício – @ManoelFabricio1

Arte: Alex Sapiência

Bem te vi

Bem te vi tá cantando de madrugada
O calor não para de aumentar
O Rio cada vez mais poluído
Geração mercúrio
Nessa Amapá
É chuva de bala
E vida extinta
É panela vazia
Tão acuando a matinta?
– tem tabaco aí?
Nem sei corro ou se sorreio
Perdido perto do tiroteio
Helicóptero na altura da mangueira
O forro da igreja furado de bala

Manoel Fabrício