O Navio dos Cabeludos e a Educação pelo Medo – Crônica porreta de Fernando Canto

Crônica do sociólogo Fernando Canto

O medo de fazer algo errado e ser punido controlava a ação de qualquer moleque da minha idade.

Os mais velhos comentavam com veemência sobre uma tal Ilha de Cutijuba, no Pará, para onde levavam os jovens transgressores das leis, falando misérias sobre ela. Diziam ser um presídio de onde era impossível fugir por causa dos tubarões e pirararas que viviam ao seu redor, perto do oceano; um lugar quase inacessível, que para viver era preciso lavrar a terra na chuva e no sol para produzir seu próprio alimento; uma prisão ao ar livre na qual poucos sobrevivam cumprindo suas penas. Em suma: um inferno.

O controle social bem articulado, posto nas nossas cabeças pelo medo, povoava nossas vidas desde a infância. Para cada situação sempre existia uma história que evitava o fazer errado. Era a educação pelo medo. Até hoje quando vejo uma sandália virada providencio logo que ela fique na posição de calçar, pois me ensinaram a acreditar na superstição de que minha mãe morreria se a sandália não estivesse de cabeça para cima. Espertos esses adultos! Eles inventaram uma forma de fazer as crianças não bagunçarem os espaços da casa e também de não castigá-las com surras e outra correções violentas. Certa vez um dos meus filhos, ainda criança, viu o irmão chutar uma sandália que ficou de cabeça para baixo num canto da sala. Imediatamente ele disse: – A mamãe vai morrer, eu não tô nem aí, eu não tô nem aí! E saiu se isentando da culpa da (im)provável “morte” de sua mãe, causada pela sandália virada.

Situações como essa aprendemos em todos os lugares, seja em casa, na rua ou na escola, onde nossas relações sociais se ampliam e solidificam. E assim a gente vai se educando, variando os conhecimentos, resistindo ou não às novidades, segundo os contextos históricos, sociais, culturais e políticos que se apresentam. Mas dificilmente essas superstições e abusões sairão de nossas memórias, embora entendê-las, hoje, signifique dar boas risadas, porque todas as representações simbólicas produzidas pela consciência coletiva ou individual expressam visões de mundo e de sociedade. É uma visão política de realidade porque as ideologias estão ligadas à compreensão da cultura, que por sua vez é uma percepção ligada às diferenças entre os homens. O controle implícito no gesto de “ajeitar” a sandália é uma experiência de poder.

Bem próximo, na continuação da educação pelo medo, lembro da expressão “- O Navio dos Cabeludos vem te buscar.”, uma forma de coação social e familiar para os que não gostavam de cortar os cabelos, principalmente no tempo da Jovem Guarda, quando era moda usar os cabelos compridos, mesmo se arriscando a ser chamado de “bicha”. Não sei de onde veio a dita expressão, mas desde a Guerra do Paraguai, passando pela Revolução dos Cabanos e pela Segunda Guerra Mundial, muitos jovens se escondiam no mato com medo dos “Pega-pega”, navios que passavam nos rios da Amazônia para alistá-los compulsoriamente e remetê-los aos campos de batalha.

A invenção dessa “pedagogia” não raro ainda se estabelece em muitos lares urbanos e rurais da Amazônia. E funciona com as crianças, porque todas têm medo. Nenhuma delas quer perder a mãe por causa da sandália virada. Ninguém quer viajar a força num desses Navios dos Cabeludos que sempre aparecem na frente da cidade para uma viagem sem destino e sem volta.

O homem mais velho do mundo (Crônica de Édi Prado sobre um verdadeiro mentiroso)

Mentir é feio quando o mentiroso é incompetente. Mas conheço um jornalista bem robusto até na mente prodigiosa, só para contar mentiras. É um profissional na área. O maior que o “seo Zuza’.

Quando ele não está mentindo está pensando em mentir. Quando ele não está mentindo nem pensando em mentir, está pensando nova mentira. Quando não está repetindo o mesmo texto até a nova mentira, ele está reciclando e atualizando as mentiras passadas. Quando ele não está fazendo nenhuma dessas opções, ele está fundindo as mentiras para sempre criar a sensação de novinhas.

E ele contava as histórias dele, os cursos que fez, os países que visitou e um atento jornalista, que anotava os detalhes da conversa, perguntou: quantos anos você tem? E o mentiroso, que tinha 50 e disse que estava com 35 anos.

O jornalista então disse que alguma coisa estava errada, porque só de cursos ele já estava com 135 anos, fora as viagens, os locais por onde havia trabalhado.

O computador, o rascunho técnico, foi feito por ele e roubaram da casa dele, quando morava na Serra e depois de anos não é que surge o computador, do mesmo jeito que ele havia projetado?

Foi ele quem inventou a Asa Delta e foi quem fez o primeiro salto lá em Pedra Branca. Ele disse que a história da Serra do Navio, do manganês no Amapá, que escreveu primeiro foi ele. Copiaram e não deram o crédito a ele. Vai processar.

Trata-se de um legítimo Pinóquio e ele está entre nós, de uma forma ou de outra. Eu não acredito em Whisky serrano, mas que existe, existe.

Édi Prado – Jornalista

*Crônica republicada, por hoje ser  o Dia da Mentira.

Sábado de Aleluia: o dia de rodar na porrada ou fazer farra – Crônica de Elton Tavares

Se existe um dia no calendário que parece ter sido inventado pelo universo para nos fazer questionar a sanidade das tradições religiosas, esse dia é o Sábado de Aleluia. É como se alguém decidisse que, depois de toda a seriedade da Quaresma, precisávamos de um intervalo cômico antes da ressurreição de Cristo.

Ah, o Sábado de Aleluia… um dia peculiar em meio à atmosfera solene da Semana Santa. A atmosfera mudava. O silêncio sagrado da Sexta-feira Santa era substituído pelo alvoroço da molecada, que corria e brincava. Os adultos observavam com um sorriso nos lábios, sabendo muito bem o que viria a seguir.

Enquanto muitos celebram a ressurreição de Cristo, para a molecada das antigas, esse dia era mais conhecido como o momento em que as travessuras da Sexta-feira Santa cobravam seu preço, um preço pago com porradas.

E não podemos esquecer daquele grupo de corajosos que resolveu enfrentar a multidão no supermercado em busca dos últimos ovos de Páscoa. Como diz a filósofa minha mãe: “só o meu fraco”.

Afinal, se Jesus pode ressuscitar, por que o coelhinho não pode se juntar à farra também? Imagino ele, ao distribuir ovos de chocolate pela cidade, faria os adultos se perguntarem se é um sinal do apocalipse ou apenas uma jogada de marketing genial.

Enquanto alguns se esforçam para cumprir tradições religiosas, prefiro curtir o “feriri”. É o mínimo, pois os malucos tiveram a coragem de crucificar um cara que transformava água em vinho. Égua!

Talvez a vida seja uma grande comédia divina. Aleluia! Feliz Páscoa!

Elton Tavares

Desconfortáveis encontros casuais – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Encontro um velho conhecido.

Ele: “cara, você tá muito gordo!”. Eu, (em pensamento, digo eu sei caralho, vai tomar no cu!): Ah, cara, sabe comé, sem exercícios físicos, sem tempo pra muita coisa, muita cerveja e porcarias gordurosas (que amo).

Sem nenhum assunto, fico em silêncio.

Ele: virei médico e você?

Eu: sou jornalista.

Ele: ah, legal (com um ar de desdém que vi ao encontrar outros velhos conhecidos advogados, administradores, contadores, ou alguma outra profissão mais rentável).

Aí um de nós subitamente diz que está atrasado e marca uma gelada qualquer dia com nossas respectivas esposas ou namoradas e vamos embora. Com certeza, passaremos mais 10 anos sem nos falarmos, graças a Deus.

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

30 anos da morte de Charles Bukowski, o genial velho safado! – Por Elton Tavares

O saudoso escritor marginal, bebum e pervertido em tempo integral, também conhecido como “velho safado”, Charles Bukowski, subiu há exatos 30 anos. Ele morreu em 9 de março de 1994, em decorrência do excesso de goró, vítima de pneumonia, na cidade de San Pedro. O genial poeta sacana tinha 74 anos e é considerado o último escritor “maldito” da literatura norte-americana.

Henry Charles Bukowski Jr. nasceu em 16 de agosto de 1920, na cidade de Andernach, na Alemanha, filho de um soldado americano e de uma jovem alemã. Ele foi levado, aos três anos de idade, para morar nos Estados Unidos. Espancado pelo pai, viciado em birita desde adolescente e formado na marginalidade de Los Angeles, onde morou por mais de 50 anos, Buk escreveu sobre sua própria e longa vida (boemia e desgraça).

Obsceno como poucos, Buk fez a alegria de muita gente, pois possui milhões de fãs ao redor do mundo. Seus livros são cheios de situações inusitadas e chocantes, sempre com muita birita, aflições, jogos de azar, sexo e putaria. Vários devaneios e realidade do dia-a-dia dos malucos.

Há anos, minha prima Lorena me apresentou ao poeta e romancista americano. Sua obra tarada, anticonvencional e ofensiva a moral e bons costumes é genial. Sobretudo para fãs da literatura sacana e escrachada como eu. Li somente quatro livros do velho Buk, “Numa Fria”, “Misto-quente”, “Hollywood” (1989) e “Pulp”. Mas me deleitei com vários artigos e crônicas do cara.

O que se pode dizer? Citar Bukowski é trazer todos aqueles bares pelos quais passou, seus bêbados e seus problemas que eles afundam no copo. Como ele mesmo gosta de se vangloriar em suas histórias, um médico disse que, se ele não parasse de beber, morreria em trinta dias: nada aconteceu. Depois desse episódio, Bukowski deu a guinada na sua vida literária, começando a escrever poesia. Dizer Bukowski invoca ao leitor o sabor de cerveja, vinho e outras coisas; citá-lo nesta lista não é uma obrigação, é uma honra.

Claro que o goró estimula a criatividade, é só lembrar dos fascinantes papos que batemos durante uma simples reunião etílica. Sou escritor r biriteiro assumido. Ejá que beber e escrever tem tudo a ver, sigo na esperança de publicar mais livros além dos meus dois já lançados. Um brinde ao velho safado, esteja ele onde estiver!

A gente devia encher a cara hoje, depois a gente fala mal dos inúteis que se acham super importantes” – Charles Bukowski

Elton Tavares

Ser paradoxal – Crônica de Elton Tavares

Crônica de Elton Tavares

Sabem, escrevo textos, em sua maioria, sobre fatos ocorridos comigo ou que vi acontecer. Noutros poucos, relatos que misturam confissão e ficção.

Essas crônicas, quase todas autobiográficas, fazem um mapa do Elton paradoxal. Sim, como alguns criticam, o escrito é sobre este jornalista (portanto, se não quiser saber, nem continue. Vá ler algo útil).

Esse paradoxo é constante, entre um figura espinhoso e amoroso no mesmo avatar, mas quem não é um tantinho “contradizente” em seus respectivos universos pessoais?

Vou explicar. Já subi a ladeira com falsos caretas, mas preferi descê-la com os malucos sinceros. Detesto amizade de mão única, seja na diversão ou nos negócios. Tem que ter reciprocidade sempre.

Aliás, pra mim a palavra dada não faz curva. O que não posso dizer de muitos “parceiros”.

Levo a vida de maneira apaixonada pela família, namorada, amigos, boemia e trabalho. Aliás, minha família é PHODA e LINDA. Que fique registrado.

Observo as asas e até voo alto, às vezes. Viajo, literalmente pra outro lugar ou dentro da minha cabeça, mas sempre volto a colocar os pés no chão, pois nunca traio a minha raiz, a base, o meu próprio código de honra. Sim, vivo nos meus termos, com algumas concessões necessárias.

Porém, ao mesmo tempo que amo demais os meus, peso a mão em alguns momentos (com estranhos sempre), até com os afetos.

É o paradoxo. “De um lado este carnaval, de outro a fome total…”, diria Gilberto Gil.

Minha personalidade é fanática por mim mesmo, cheia de verdades rasas e profundas. Mas se eu errar, peço desculpas verbais e escritas. Sem medo ou orgulho.

Me embriago de cerveja, vinho, música, literatura, cinema, neuras, virtudes. Vivo os dias por obrigação, ofício ou dever, e também com altas doses de prazer. Gosto do que faço, pois, por ser jornalista e escritor, vivo literalmente de palavras. Entretanto, amo mesmo é a vida noturna, seja colado na mulher amada ou nas rodas de birita, músicas e conversas de um bar. Tenho a sorte de ainda tomar mais cachaça que remédios.

Apesar de, profissionalmente, conviver com o poder, nunca me deslumbro, pois sei que não sou mais que um peão no tabuleiro. Porém, trato isso com muita responsa e respeito, pois é o trampo que paga a vida que gosto de ter. O lance é não se deixar cegar na jornada.

Não sigo cronologia, misturo tudo. As crônicas que redijo são cheias de memórias afetivas, vivências, tomadas no cu e vitórias (que são a maioria, ainda bem). Nunca passo em brancas nuvens. Sempre marco presença, seja para o bem ou para o mal. E haja proteção celeste nos N assuntos cabulosos que dou uma de enxerido com meus achismos.

Como já disse em outra crônica: “Escrevo para não deixar meus pensamentos parados”.

O mais legal é que, agora, sigo 90 por cento menos marginal, brigão ou maquiavélico, mas sempre anarquista, graças a Deus.

É… Já fui malandro, dotô, hoje estou regenerado, já dissertam os Titãs na música “ Senhor Delegado / Eu Não Aguento” (que serve como uma luva para este cronista).

É… “Já fui macaco em domingos glaciais”, no dizer do Raulzito, na canção “S.O.S.”

No resumo da ópera rock, trata-se de um mero relato das experiências vividas. Algumas digressões do passado e fatos do presente, com menos salas esfumaçadas, mas sempre com cervas enevoadas ou vinho tinto. Ou trabalhando muito para pagar tudo isso.

Sigo, com menos frequência, pelos bares, botecos, demais locais de habituais e divertidas bebedeiras sem a necessidade de criar roteiros. Muitos desses encontros etílicos viraram crônicas, como os excelentes papos molhados com o Fernando Bedran, o libanês da cidade velha paraense.

Tento ser um “dizedor de verdades”, como diz o poeta Luiz Jorge. Mesmo com minha língua/caneta ferina (melíflua e exata – Uma beija e a outra mata), no olhar do escritor Fernando Canto.

Tento não redigir frases cegas com meu humor cínico ou achismo ácido. Como tô no parafrasear de muitos ídolos, grifo a Rita Lee Jones, que virou saudade há pouco tempo: “Onde quer que eu vá, lá estarei eu” e “mistério sempre há de pintar por aí”, Gilberto Gil, de novo.

É… O Elton Tavares, como gosto de assinar minhas crônicas e textos de trampo; ou o Godão, personagem boêmio que percorre os piores e melhores bares de Macapá desde a primeira metade dos anos 90, são dois lados da mesma moeda.

O bem e o mal? Não sei dizer. Cada um com muitas coisas que gosto e peculiaridades que detesto, mas que são elementos do ser paradoxal. O inventário dos meus arrependimentos é muito menor do que as merdas que fiz e valeram a pena.

Sim, sigo meio emburrado e meio boa praça, cheio de amor, um pouco de ódio, muita coragem, meio altruísta e meio egoísta, sempre com pouca paciência. Despudoradamente sincero e original, porém felizão nessa roda viva do viver e aprender. É isso!

Elton Tavares

A fonte da velhice – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

– Como? Cinquenta e oito anos? Nem parece!
Ele ouvia sempre isso quando o assunto idade vinha à baila.
– Tem cara de 42, por aí.
Quando tinha 15 anos, achavam que ele tinha 9. Aos dois anos de idade:
– Nossa! Parece recém-nascido!
Era barrado constantemente em festas. Nem mostrando a carteira de identidade se livrava do estigma:
– Você não pode entrar! Essa carteira deve ser falsa! Vá embora já, senão vão te prender! Falsificação de documento é crime!
Quando tinha 25 anos quis namorar uma menina de 18. Ela foi categórica:
– Não namoro com garotos de 14 anos. Não insista!
Aquilo já estava se tornando paranoico. Aos 58 anos, sem rugas, sem um fio de cabelo branco e com muita disposição, ninguém poderia supor que ele já ultrapassou a marca de meio século. Nem a barba, que deixava crescer de vez em quando, conseguia conferir à sua aparência um pouco mais de idade.
Foi então que, ao contrário de Ponce de León, navegador espanhol que partiu pelo mundo à procura da Fonte da Juventude, ele começou uma jornada a fim de encontrar um meio de aparentar a idade madura que tinha, o que ele achava que poderia atrair mais respeito para a sua pessoa.
Eis que, passados alguns meses longe dos amigos, ele apareceu com um visual bem diferente do que o havia marcado até então, com muitas rugas ao redor dos olhos, na testa e nas mãos, e os cabelos completamente brancos. E foi logo explicando, diante dos olhares de espanto:
– Algumas vezes, na história e na literatura, pessoas reais ou personagens da ficção fizeram pacto para manter eternamente a juventude. Eu fiz um pacto ao contrário, para me tornar mais velho, ou, pelo menos, que minha aparência faça jus à idade que tenho. Procurei um cirurgião plástico. A princípio, ele estranhou alguém no mundo recorrendo a um cirurgião plástico com a intenção de envelhecer. A maioria, na verdade a totalidade das pessoas, quer rejuvenescer. Ele relutou em fazer a cirurgia e eu mostrei todos os argumentos e o principal deles era:
– Doutor! Eu estou de saco cheio de ouvir as pessoas falando que pareço ter menos idade do que realmente tenho!
Ele falou isso com as mãos agarradas ao colarinho do médico, que foi convencido a fazer a cirurgia graças a um bem-vindo reforço de capital, alguns reais acima do valor que ele costumava cobrar.
Foi então que o nosso personagem concebeu mais um mito em torno da questão do passar inexorável do tempo. Ele criou a Fonte da Velhice, uma fonte da qual ninguém quer chegar perto, mas todo mundo se encaminha para ela e há de encontrá-la um dia.

Uma crônica baseada em baseados reais – Crônica de Ronaldo Rodrigues

GinoflexForever

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Mais uma história verídica quase ficção do meu amigossauro Ginoflex Vinil.

Tocou o celular, eu atendi:

– Alô.
– Fala, Ronaldo!
– Fala, Gino. Qual é o papo?
– Tá rolando uma festinha aí na tua casa?
– Não é bem uma festa, só uns amigos reunidos. Fizemos aquela coleta básica e compramos umas latinhas.
– Eu posso ir praí?
– É… Pode! Mas olha lá, hein! Tu vais trazer algum amigo contigo?
– Vou. O senhor sabe que eu sempre levo alguém.
– Mas quantos tu vais trazer?
– Calma, Gabiru! Relaxa! Vou levar dois.
– Dois? Tá legal. Pode vir.

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Desliguei o celular e me reuni aos três amigos que conversavam e bebiam no pátio de casa, lá no bairro do Trem. Fiquei um pouco apreensivo porque eu sabia que o Ginoflex costumava SE convidar para as reuniões de farra e aproveitava para convidar muita gente. Eu estava pensando nisso quando o Ginoflex apareceu dentro de um carro com mais cinco pessoas. Ao lado, parou outro carro, este com seis pessoas dentro.

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Ginoflex e Ronaldo Rodrigues

O Ginoflex, com aquele jeito todo à vontade, foi logo me apresentando a galera. Na discreta, chamei o Ginoflex para o lado:

– Porra, Gino! Eu falei que não era uma farra grande e tu disseste que só ia trazer dois amigos!
– Calma, Gabiru! Eu falei que ia trazer dois! Dois carros!

Eu compreendi e sorri com mais uma do Gino. Já ia me recolher ao meu canto quando ele, abrindo um pacote de uma erva (que eu não vou dizer aqui), falou com a cara mais sem-vergonha deste meio do mundo:

– Mas eu trouxe outras coisas também, Gabiru!

Aí demos início ao ritual de boas-vindas. Se é que me entendem.

BLEQUEFRAIDA – Conto de Fernando Canto

Conto de Fernando Canto

No Carnaval deste ano, a Blequefraida, filha do vizinho, pulou a cerca e foi conferir no quartinho de trás de casa se eu era mesmo bom de cama como diziam por aí. Ela ia desfilar no Piratão, uma escola de samba lá do Trem. Estava toda arrumada e linda, era uma das passistas. Iria de tapa-sexo.

Fiquei um tanto abalado com essa história, juro. Eu nunca fui de me gabar e nem tinha as medidas sexuais que rolava na lenda urbana sobre minha distinta pessoa. Hehehe! Mesmo assim eu mandava bala sem grandes esforços. A Bleque que o diga.

Mais tarde eu fui até o sambódromo porque iria sair em outra escola, uma de acesso, lá do meu bairro, o Jacareacanga, convidado pelo presidente Costa Barriga.

Antes de iniciar o desfile fui bisbilhotar as outras escolas para ver a organização das alas. Na frente do portão encontrei com ela, justamente conversando com Laive, uma destaque dessa escola. Essa mulher escultural saía em todas as agremiações carnavalescas.

Eu já tinha passado a rola nela, tinha namorado com ela, ia até em restaurante jantar. Tu é doido, é? Ela me meteu um chifre sem tamanho. Até hoje ando meio corcunda por causa isso. A Laive era muito viva, mano. Se casou com um ex-padre de família tradicional de Macapá, pensando que ia se dar bem, mas se deu mal depois, Pensava que o ex-religioso ia ter uma puta pensão da Santa Madre Igreja. Era uma ninfomaníaca. Malandra que só.

As duas conversavam sambando. Eu me aproximei e elas sorriam com aquelas bocas glamourosas cheias de lindos dentes brancos. Pediram-me uísque. Queriam um “esquenta”. Sabiam que eu trazia um cantil de aço inox tei-tei de Buchanan’s no bolso. Dei a elas e quase que eu fico sem um gole.

Laive pegou o beco e Bleque ficou ali se lembrando da foda da tarde, querendo mais.

Fui embora para o fim da concentração descendo a ladeira da avenida. Falei com muita gente conhecida. As mulheres me puxavam e eu tive que me desvencilhar delas porque senti a barra pesada no olhar dos homens ali perto.

Meu brother Estandibai me avisou que era praeu chamar o pessoal da Harmonia. A escola não demoraria a entrar. Ajudei a organizar as alas. Senti a mão da baixinha Delívere na minha costa. Me avisava que Naice, Vaibe e Loquinalda ainda não haviam chegado.

– Puta merda, Estândi! Reclamei. – E agora, cara? Como é que a gente vai fazer se elas não aparecerem?

– Sei não, chefe. Ele me encarou, com aquela cara de porre permanente.

– Fala com o Émersom Cupu pra ele ligar pressas porras agora, senão o carro vai sem destaques e aí já era.

Ele saiu cunscascos atrás do Cupu. Voltou dizendo que o Cupu falou que as destaques não eram de responsabilidade dele.

Nem pensar em falar com o presidente que a essa altura estava no carro abre-alas mandando beijinhos pra nossa minguada “torcida organizada”, diz-que.

Um pouco antes dos portões se abrirem para a entrada da nossa escola avistei a gostosona da Laive conversando de novo com a não menos gostosona da Bleque. Elas já haviam desfilado na primeira escola. Chamei as duas e disse que elas iriam ser nossos destaques no último carro. Elas toparam, queriam aparecer, mesmo… Eu e Delívere passamos uns brilhos com nossas cores nos corpos delas e em seguida os guindastes as puseram no alto do carro.

Quando, enfim passamos pelo portão e os seguranças não deixaram ninguém entrar, ainda deu pra ouvir os impropérios das destaques e seus braços varando pelas grades num último esforço de querer entrar.

Ao final do desfile encontrei o presidente com câimbra na boca de tanto sorrir e mandar beijinhos para a torcida e para os jurados, Estandibai bêbado que só a porra estirado em cima do carro abre-alas e as três destaques esperando a desocupação do último carro. Continuavam gritando vitupérios para mim e para as duas destaques arranjadas de última hora.

O presidente Costa veio me falar que até perdoava a minha “louvável atitude” de substituir as destaques. As oficiais não desfilaram porque o táxi em que vinham não conseguiu o acesso nas ruas para chegarem a tempo. E porque demoraram para se montar.

– Montar? Como assim? Indaguei, me fazendo de besta.

– Sim, montar. Disse o presidente Costa Barriga. – Elas são gays, são transformistas. Elas se montam. E o nosso enredo, Ó pateta, é sobre as diferenças sexuais. Sobre o sentimento dessas pessoas. Se não desse prelas virem no carro, ele devia vir vazio. Disse, aborrecido, olhando para mim e em volta, no que foi muito aplaudido pelos participantes do desfile.

– Presidente, quero que tu te fodas. Não vou ficar aqui neste palanque de viado. Nem vou mais te apoiar para vereador. Disse a ele bem enfático, com todo o meu orgulho e machismo.

Saí da dispersão com Laive e Blequifraida sob vaias, tapas e ameaças, coberto de lama que nos jogaram. Havia chovido antes do desfile. Felizmente, no meio da turma que nos vaiava, tinha umas pessoas que conheciam minha fama e nos protegeram de levar mais porrada.

Fomos a uma padaria, a pretexto de tomar café e nos limpamos da lama. Depois consegui pegar um taxi e fui com elas beber uísque em casa, transar e dormir, nós três.

Acordei pensando em aceitar o convite da vizinha para sair no Piratão no próximo ano, desde que junto com a Laive, a gata que voltei a me apaixonar para com certeza ser corneado de novo.

 

Hoje é o Dia Internacional do Riso

Hoje, 18 de janeiro, é o Dia Internacional do Riso. A celebração teve origem em Mumbai, em 1995, onde 12 mil membros de seis mil clubes sociais de diversas partes do mundo juntaram-se em uma mega sessão de riso. O evento foi criado pelo fundador do movimento Yoga do Riso, Dr. Madan Kataria. Surgiram então, os chamados “Clubes de Yoga do Riso”, que praticam a terapia do riso.

Sabia que rir aumenta a qualidade de vida? Isto porque rir traz inúmeras vantagens. Apresentamos 20 benefícios do riso:

1. reduz o stress; 2. queima calorias; 3. melhora a qualidade do sono; 4. fortalece os abdominais; 5. melhora a circulação sanguínea; 6. melhora a respiração; 7. fortalece o sistema imunológico; 8. estimula a criatividade; 9. cria laços com outras pessoas; 10. proporciona relaxamento físico e mental; 11. alivia os sintomas de stress, desgaste, ansiedade e ataques de pânico; 12. previne os estados depressivos; 13. renova a motivação e o estado de espírito; 14. melhora o desempenho profissional e pessoal; 15. aumenta a energia e resistência ao stress; 16. aumenta a capacidade de reter e relembrar informação; 17. ajuda a ultrapassar as inibições; 18. desenvolve a autoconfiança e as qualidades de liderança; 19. transforma emoções como a raiva, o medo, os ciúmes ou a tristeza em emoções positivas como o amor, a amizade, o perdão e a compaixão; 20. conecta o corpo, a mente e a alma e liga-nos com outros seres humanos.

Rir é bom. É um exercício de felicidade. Dizem que faz bem pra saúde e transmite satisfação. Hipócrates, o pai da medicina, no século IV A.C. já utilizava animações e brincadeiras na cura de pacientes. Daí o adágio popular “Rir é o melhor remédio”.

Gosto de gente inteligente, alegre, bem humorada, engraçada e de alto astral. Nunca acordo mordido; se fico puto por algum motivo, dou risada após revolver o problema.

Já disse tantas vezes: a gente ainda vai rir disso. E, assim foi. Rir durante o dia faz com que você durma melhor à noite. A Monalisa não tem sobrancelhas e mesmo assim vive com aquele sorriso maroto. Rir aproxima e estreita laços. Também cria oportunidades e abre portas.

Dou risada quando escrevo algo legal, quando um safado se ferra, quando vou ao bar com amigos ou em reuniões familiares. Rio quando gente inteligente diz que lê este site e elogia um texto. Até quando me fodo dou risada, afinal, rir é melhor que chorar, sempre.

Já diz o jornalista da Folha de São Paulo, José Simão: “o Brasil é o país da piada pronta. Rimos dos fatos que deveriam nos chocar, de tão corriqueiros”. Mas, lembrem-se das palavras de Vítor Hugo: “e que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero”.

Como disse o amigo ator/palhaço/jornalista, Dan Alves: “somos palhaços porque estamos há um tempão tentando maquiar nossas imperfeições com o riso. Felizes aqueles que têm uma piada na ponta da língua, que dramatizam situações engraçadas para os amigos rolarem de rir; que quando bebem algumas doses, sobem na mesa e fazem todos lagrimarem de tanta bobagem. Desoprimam o riso. Libertem a piada”. É isso aí!

*Só uma coisinha, essa sessão “Datas Curiosas” deste site incomoda alguns, que chegaram a reclamar de tais registros. Ainda bem que todo dia é dia de alguma profissão, atividade ou brincadeira. Acreditem, tem gente que não gosta. Mas são somente os amarguinhos que encontramos pela vida.

Elton Tavares
Fonte: Global Med

Inteligência primordial – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Sabe esse negócio de Inteligência Artificial? Pois é! Estou a fim de entrar na era da Inteligência Primordial, a primitiva, aquela que dispensa o uso de aplicativos. Funciona assim: vamos nos desligando. No falar deste tempo, nos desapegando desses produtos que nos deixam conectados.

Eu comecei deixando de ver televisão e tudo o que nela tem: noticiário, futebol, novela, reality show, programa de auditório, talk show… Hoje não vejo filmes, séries, podcast, stand-up, esse tipo de coisa. Minha ideia é entrar em total estado de comunhão com a natureza.

Me libertar, ainda que eu nunca tenha sido preso a isso: influencers, coachs, pastores eletrônicos ou outras malandragens, picaretagens desse naipe.

Muitas coisas me interessam, mas não estão na internet. Estão ao meu redor, sem que haja uma tela entre nós.

Pode-se dizer que eu esteja desligando os aparelhos e morrendo aos poucos. Mas pode muito bem acontecer que, daqui a um ano, mais ou menos, eu esteja me comunicando por telepatia. Sim. Retorno às raízes, tudo isso.

Retorno ao primitivo, ao intuitivo. A comunhão com o planeta, dispensando a vulgaridade de parte da população que o habita, deixando apenas a essência das pessoas que valem a tentativa. Os momentos libertados de selfies, lives, likes e essa porra toda.

Inteligência Primordial. Pensem nisso. Vou terminar citando o beatle John: “Você pode dizer que sou um sonhador, mas eu não sou o único”. Imagine tudo isso!

Quem é o cantor? – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Ilustração de Ronaldo Rony

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Ele gostava de cantar. Era apaixonado pela arte do canto. A arte do canto é que não dava a mínima para ele. A arte do canto o deixava no canto. Não gostava nada daquele aspirante a cantor, cujos únicos talentos eram a persistência e a cara de pau.

Seus amigos o evitavam para não serem obrigados a escutar aquele repertório surrado e pessimamente cantado. Mas ele insistia. Cantava e depois perguntava:

– Vocês acham que essa música foi bem executada?

Como ele não poupava os amigos, estes também não o poupavam:

– Gostamos muitíssimo. Principalmente da parte em que acabou. Achamos que a música foi mesmo executada, sem dó nem piedade. E se não tivesses parado de executá-la, o executado serias tu.
– Tudo bem, pessoal. Não se pode agradar a todo mundo.
– Mas desagradar a todo mundo pode. E tu consegues!

Ele não ligava para as críticas. Na verdade, ligava sim. Achava que as críticas tinham o poder de elevar a sua vontade de se consagrar na música. Pensava que as opiniões, mesmo as menos favoráveis, faziam um cantor amadurecer a sua arte. Novamente, os amigos opinavam:
– A tua arte já está amadurecida, quase para cair. Aliás, já apodreceu!

Fugindo à regra, essa crítica o abalou. Ele resolveu pedir a opinião materna:

– A senhora acha que eu sou um artista chato?
– Claro que não! Tu és só chato, não artista!

Sua mãe se arrependeu de ser tão direta e tentou consolá-lo:

– Fica triste não, filho! Ainda irás fazer muito sucesso. O Oscar Niemeyer começou a carreira assim.
– Oscar Niemeyer? Mas ele era arquiteto!
– Pois é. Ele tentou a música, viu que não tinha nada a ver, foi para a arquitetura e arrebentou!

Mesmo com todo esse incentivo, ele se inscreveu no The Voice Brasil. Assistiu a várias edições anteriores do programa e achou que dava para ganhar no grito:

– Eu só vejo o pessoal gritando lá. Basta gritar que eu levo, pelo menos, o terceiro lugar ou um contrato com alguma gravadora.

Realmente, ele estava certo. A gritaria tomou conta. Ele entrou no ritmo e gritou também. Mas se ele queria levar alguma coisa do programa, levou: muita vaia.

Nas canjas dos bares, ele marcava presença, sempre suportando o sarro dos amigos:

– Leva Chão de Giz?
– Levo!
– Então leva pra bem longe que ninguém aguenta mais!

– Leva Canção da Despedida?
– Levo!
– Mas é a canção da tua despedida!

– Leva Manu Chao?
– Levo!
– Então, mano, tchau!

E as gargalhadas não paravam. Os amigos entoavam trechos de músicas para que ele se tocasse:

– “Apesar de você…”.
– “A noite vai ser boooaa…”.

A gota d’água (não, não me refiro à música Gota d’Água, do Chico Buarque) foi numa noite dessas. Ele subiu ao palco para mais uma canja e disse o que muitos cantores de bar dizem:

– Vocês têm algum pedido a fazer?
Uma voz de bêbado gritou lá do fundo:
– Sim! Coloca um vinil pra rolar!

Desistiu de uma vez por todas. Sacou que já tem muita gente que não canta nada brilhando nas paradas de sucesso e fazendo carreira. Atualmente, ele se dedica a cantar garotas, repetindo o mesmo sucesso que fazia na música.

Chegamos em mais um fim de ano – Crônica de Lorena Queiroz – @LorenaadvLorena

Chegamos em mais um fim. Ultimamente finalizações tem sido algo constante dentro do que venho observando nessa atmosfera que está inserido como: minha observação, ou seja, compra quem quer. Mais um fim de ano, mais um balanço anual, mais rugas, mais tempo e menos tempo, como sempre a gente por aqui avaliando os feitos das horas, dias e meses no couro, ou sugestivamente, na pele que habito.

A finalização de 2023 é diferente de qualquer outro ano passado. Apesar das festas, presentes, família, amigos e a costumeira farra, que sim, me encaixo perfeitamente pela minha natureza. Ocorre que nada disso me fez distrair o olhar do clima apocalíptico que esse fim de ano trouxe.

O cenário mundial que traz esse leve aroma de desgraça das guerras com pitadas de anomalias climáticas. Já imbuída dessa percepção, me deparo com um vídeo que me trouxe para esse momento que divido agora com você, leitor. O vídeo em questão mostra Raul Seixas, ainda na década de 70, sendo entrevistado pela eterna Gloria Maria.

A matéria se dá por conta de uma ressaca no Rio de Janeiro. Nesse episódio a água do mar invade a calçada, onde o carro do nosso saudoso maluco beleza foi pego pela maré. Ao ser perguntado por Glorinha (olha a intimidade da gata) sobre o prejuízo que havia sofrido, Raul Seixas respondeu: A NATUREZA TÁ CERTA! Ele descreve o acontecimento como algo profético ou já esperado devido o tratamento que a humanidade vem há tempos dando ao mundo. Todo aterramento e abuso de recursos naturais. A gente já vem rindo na cara do perigo mais tempo do que manda a sensatez. Acredito que essa sensação de fim do mundo tenha deixado as coisas diferentes nesse fim de ano. Mas, o que pessoas como eu fazem nessas horas? Acertou quem disse abre um vinho e vai escutar Raul Seixas. Percorrendo a discografia dele vi que ele sempre teve razão, o que me faz lembrar do quanto meu pai gostava das músicas dele, escutávamos nas viagens de carro. E se a gente for esperto, ainda vai aprender muito com ele. E dentro desse ensinamento, o como viver dentro do fim.

Nada permanece imutável, a vida é cíclica. A língua é viva. As crianças crescem e as plantas morrem. Portanto, eu também prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo. E você entende também que não precisa ter opinião sobre tudo, algumas perguntas são ótimas para que você exercite aquela resposta que é : não sei. Ninguém nunca tem total certeza de nada mesmo. E se você tem, acredite, essa certeza provavelmente é temporária ou, de qualquer forma, mutável pela própria natureza das coisas.

E é muito bom que sejamos metamorfoses que se permitem novas experiencias, ideias e ideais. Que não sejamos múmias engessadas e regidas pelas opiniões alheias. E quem está vivo sabe que ele também estava certo quando disse que ´Tem dias que a gente se sente um pouco, talvez, menos gente. Um dia daqueles sem graça de chuva cair na vidraça… Porque nessa tarde tão calma o tempo parece parado? Está em qualquer profecia, dos sábios que viram o futuro, dos loucos que escrevem no muro, das teias do sonho remoto….A chama da guerra acesa, a fome sentada na mesa, o copo de álcool no bar, o anjo surgindo no mar… Está em qualquer profecia que o mundo se acaba um dia”.

Querido leitor, não estou tentando te colocar medo ou fazer você sair que nem doido por aí gastando seu ultimo vintém, dançando pelado na rua ou transar sem camisinha. Sim, acredito no fim de tudo, mas acredito mais ainda na mensagem que tudo isso tenha para nos mostrar, ou seja, vai viver, porra! Mas vive do jeito que se acredita ser feliz, inteiro,completo.

Reflita sobre o que realmente tem valor na vida ou acabe como alguém sentado no trono de um apartamento com a boca escancarada, cheia de dentes esperando a morte chegar. Conseguindo ser um dito cidadão respeitável que ganha quatro mil cruzeiros por mês e nunca está contente. Sempre vai dar tempo e se a canção estiver perdida, meu caro, tente outra vez.

Vamos continuar, sempre. Continuar até o sempre se tornar fim e o fim se tornar o agora. Eu vou estar sempre cantarolando ‘’ Oh oh seu moço do disco voador me leve com você aonde você for! Oh oh seu moço, mas não me deixe aqui enquanto eu sei que tem tanta estrela por ai”

*Lorena Queiroz é advogada, amante de literatura, devoradora compulsiva de livros e crítica literária oficial deste site, além disso é escritora contista e cronista. E, ainda, mãe de duas meninas lindas, prima/irmã amada deste editor.