
Por Mariana Distéfano Ribeiro
Sabe que esses dias eu me dei conta de que a luta pela igualdade entre homens e mulheres hoje em dia é muito mais difícil que a luta travada antigamente, quando mulher não podia votar, não podia usar calça, não tinha direito a dispor de sua herança, não podia estudar (até hoje há lugares em que é proibido), era um ser que servia apenas para procriação (a criminalização do aborto pela Câmara dos Deputados não é mera coincidência).
Estranha essa afirmação, né? A luta feminista dos dias de hoje ser mais difícil que a luta de antigamente parece até falácia, mas vem comigo nesse raciocínio que eu te mostro o porquê.
Quando se tinha uma linha divisória bem definida entre a existência de um direito ao homem e a impossibilidade do exercício desse direito por uma mulher, ficava muito clara a injustiça. Vejamos o direito ao voto, por exemplo, um dos maiores marcos civis da vitória das mulheres por direitos iguais. A barreira era formal (porque a lei proibia) e material (porque o próprio direito da mulher não existia).

Aí eu pergunto: qual explicação jurídica, ontológica, antropológica ou até biológica que justifique o impedimento de uma mulher ao voto? Nenhuma né?! Ou o fato de ter uma vagina entre as pernas seria uma justificativa?
Outro exemplo é o direito de frequentar escolas e universidades. Até hoje existem regiões do mundo em que meninas não podem frequentar escolas e nem as mulheres podem frequentar universidades. A história da paquistanesa, ganhadora do prêmio Nobel da paz, Malala Yousafzai, é um exemplo de ativismo pelos direitos humanos das mulheres e do acesso à educação no Paquistão.

Mais uma vez eu pergunto: qual explicação jurídica, ontológica, antropológica ou até biológica que justifique o impedimento do acesso de uma mulher à educação, às escolas e universidades? Nenhuma né?! Ou o fato de ter uma vagina entre as pernas seria uma justificativa?
Mas hoje em dia, pelo menos na esfera civil e jurídica, tanto formal e materialmente (perante a lei e o direito), existe paridade de direitos entre homens e mulheres. Isso nas regiões do mundo em que impera o regime democrático de governo.
Então, a barreira que tem que ser vencida aqui e agora é a barreira moral, filosófica, cultural, dos costumes. E isso é muito mais difícil de derrubar. É o preconceito velado, oculto, latente que a gente, que é mulher, vivencia todos os dias.

Percebeu que a barreira que limita o direito da mulher hoje em dia é cultural? Quando um homem se relaciona com várias mulheres solteiras ou casadas, sendo ele mesmo solteiro ou casado, o que as pessoas vão pensar dele? Que é um bon vivant, um dom juan, o pegador, no máximo vão falar que não vale nada. Mas ainda assim, ninguém vai desprezar um homem por pegar geral e não valer nada. Vão dar um tapinha nas costas, isso sim, e dizer: esse é meu garoto!
Agora, considere uma mulher que se relaciona com vários homens solteiros ou casados, sendo ela mesma solteira ou casada, o que as pessoas vão pensar dela? Que é uma vadia, que é vagabunda, que não vale nada, que não serve para ser mãe e se for mãe é um mau exemplo para os filhos. E por aí vai, a lista de adjetivos pejorativos é longa. E com certeza vai ser desprezada por pegar geral e não valer nada. Vão dar um tapa na cara, isso sim, e dizer: sua puta!
Esse é só um exemplo de como a moral e bons costumes são relativizados dependendo de quem se trata, e isso tem consequências direta ou indiretamente relacionadas à violência contra a mulher e a figura homossexual feminina.

Entre 1980 e 2013, 106.093 pessoas morreram apenas pela condição de serem mulheres¹. É uma média de quase 1 mulher por dia a cada ano! Sem falar nos casos que não entram nas estatísticas por não serem considerados violência contra a mulher por sua condição. Quanto aos homens? Esses não sofrem violência apenas pela condição de serem homens.
Percebeu agora? É matemático, é estatístico. E ainda tem gente que acha que feminismo é mimimi, que é vitimismo.
As igualdades formal e material existem. A igualdade de fato ainda é utopia.
*Além de feminista com orgulho, Mariana Distéfano Ribeiro é bacharel em Direito, servidora do Ministério Público do Amapá e adora tudo e todos que carreguem consigo o brilho de uma vibe positiva.
Fonte: Agência Brasil