O breve relato sobre a Little Big, a saudosa banda de skatistas de Macapá – Crônica de Elton Tavares

As lembranças do Facebook me trouxeram uma foto da saudosa banda Little Big. Na postagem, os componentes do grupo e brothers das antigas contavam causos e marcavam um reencontro. Aí bateu a nostalgia e resolvi republicar este texto. Saquem:

A primeira formação da Little Big foi com Antônio Malária, no vocal, Ronaldo Macarrão, no contrabaixo, Tibúrcio, na guitarra, e Paulo Neive, na bateria. Todos skatistas.

A banda quase acabou com a saída de Tibúrcio. Patrick Oliveira (hoje líder da stereovitrola) assumiu este posto de forma brilhante. Houve um rodízio na cozinha da Little. A bateria contou com participações do Zico, Ricardo Kokada e Kookimoto, mas quem emplacou mesmo foi o Mário (não lembro o sobrenome do Mário e nem sei por onde ele anda, mas o cara tocava muito).

Eles tocaram juntos da segunda metade dos anos 90 até meados de 2002. Era a banda que mais agitava o rock and roll em Macapá.

A Little foi a banda de garagem mais duradoura e badalada daquela época (certeza de casa cheia onde os caras tocavam). No repertório, tinha punk, indie, hardcore e manguebeat. Chegaram a desenvolver um som próprio, com composições do Antônio Malária, um flerte com o batuque e marabaixo, misturados ao rock.

A banda ganhou força com a percussão de Guiga e Marlon Bulhosa. Inspirados, chegaram ao topo do underground amapaense com as canções autorais “Baseados em si”, “São Jose”, “Beira mar” e “Lamento do Rio”. Quem viveu aqueles dias loucaços lembra bem do refrão: “Eu sou do Norte, por isso camarada, não vem forte”.

 

A banda embalou festas marcantes do nosso rock, teve seus anos de sucesso pelas quadras de escolas, praças, pista de skate, bares (principalmente o Mosaico) e residências de Macapá. Quando os caras executavam “Killing In The Name“, do Rage Against The Machine, a casa vinha abaixo. Era PHODA!

Era rock em estado bruto, sem muitos recursos tecnológicos ou pedaleiras sofisticadas. Os caras agitavam qualquer festa. Quem foi ao Mosaico, African Bar, Expofeiras, Bar Lokau, festas no Trem Desportivo Clube e Sede dos Escoteiros, sabe do que falo.

Vários fatores deram fim à Little Big, como desentendimentos internos e intervenção familiar. Eles não estouraram como banda autoral porque não tiraram os pés da garagem.

Em 2012, os caras se reuniram e tocaram em uma festa, mas eu perdi a oportunidade de vê-los, pois estava indo para Laranjal do Jari a trabalho. A Little Big agitou as noites quentes de Macapá e embalou os piseiros de uma geração. Uma banda que faz parte da memória afetiva de muitos amapaenses roqueiros e já quarentões. E foi assim.

De um tempo que fomos para sermos o que somos” – Fernando Canto.

Elton Tavares

Sobre a saudosa Drop’s Heroína (primeira banda de Rock formada somente por mulheres do Amapá) – Crônica de Elton Tavares – *Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”

 

 

Ilustração de Ronaldo Rony

 

Crônica de Elton Tavares

A Drop’s Heroína surgiu do desejo das, então adolescentes, Rebecca Braga (vocal) e Aline Castro (guitarra). A proposta foi a de formar uma banda diferente, com uma agressividade teenage. Logo depois se juntaram à Lenilda (bateria) Cristiane no contrabaixo e Sabrina (guitarra base). Depois, a formação mudou várias vezes. Entraram Suellen no teclado e a última formação contou com Débora nos vocais e Dauci no baixo. A banda lutou contra o preconceito, já que era formada apenas por mulheres, algo nada convencional no Amapá, na década de 90.

A banda foi pioneira no feminismo do rock amapaense. Suas apresentações eram sempre porretas, dignas de um público fiel que seguia a Drop’s aonde quer que as heroínas fossem tocar.

A Drop’s não resistiu à saída da vocalista Rebecca Braga, tentou seguir em frente com uma substituta, mas a coisa não vingou. Apesar disto, a banda inspirou outras meninas e escreveu uma página importante do nosso rock. Ao primeiro grupo roquenrou formado por mulheres de Macapá, nossas saudosas palmas.

Em 2012, no extinto bar Biroska, rolou a festa “Noventinha”, com shows das bandas Little Big (eles não tocaram, mas isso é outra história), Drop’s Heroína e Os Franzinos – todas da mesma época. Infelizmente não fui, pois estava no município de Laranjal do Jari, a trabalho. Uma pena.

Enfim, essa foi uma história vivida por muitos que viveram o rock amapaense há mais de duas décadas. Aqueles anos ficaram guardados na memória e no coração de todos.

É, vez ou outra “mascamos o chiclete Ploc da nostalgia”, como diz Xico Sá.

Falando em citações, existe uma que define a amizade que os integrantes das Little e Drop’s têm até hoje: “bandas são mais que ajuntamentos de músicos, são reuniões de alma” – Jimmy Page.

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Hoje é o Dia do Goleiro – meu saudoso pai foi/é o meu goleiro preferido

No Brasil, em 26 de abril é comemorado como o Dia do Goleiro. A data foi criada há quase 40 anos para fazer uma homenagem para aqueles atletas que por muitas vezes não tem o reconhecimento devido do seu trabalho. A ideia foi do tenente Raul Carlesso e do capitão Reginaldo Pontes Bielinski, que eram professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro, e começou a ser comemorada a partir da metade dos anos 70, segundo relata Paulo Guilherme, jornalista que escreveu o livro “Goleiros – Heróis e anti-heróis da camisa 1”.

Como eu já disse aqui, por diversas vezes, amo futebol. Goleiro é posição maldita do esporte bretão (chamado assim por ter sido inventado na Grã-Bretanha). Meu saudoso e maravilhoso pai, José Penha Tavares, era goleiro. Posso afirmar, sem paixão (talvez com um pouquinho dela), que ele foi muito bom.

Papai agarrou pelos times amapaenses (quando o futebol aqui era amador) do São José e Ypiranga Clube. Também foi amigo de um monte de conhecidos boleiros locais. Infelizmente, meu amigo Leonai Garcia (que também já virou saudade), esqueceu-se dele no seu livro “Bola da Seringa”.

Quando moleque, acompanhei papai em centenas de peladas. Torcia e sofria quando ele levava gols, principalmente quando falhava. Aprendi a admirar goleiros com ele. Lembro bem de expressões como: “Olha essa ponte!”, “Que defesa, catou legal!” ou algo assim, bons tempos aqueles.

Bem que tentei jogar em todas as posições, inclusive o gol (sempre era o último a ser escolhido), mas nunca consegui me destacar pela bola, mesmo antes de engordar. Não sei se as crianças de hoje ainda escolhem o pior dos meninos (ou meninas) para agarrar, aquilo é bullying (risos). Digo isso com conhecimento de causa.

Quando me refiro ao goleiro como “posição maldita”, falo de uma série de injustiças que vi goleiros sofrerem ao longo dos meus 44 anos, mas uma é mais marcante: a crucificação do arqueiro Barbosa, da seleção de 1950. Há alguns anos, assisti a um documentário sobre a derrota para o Uruguai na final daquele mundial. Aquele homem foi estigmatizado até o fim de sua vida.

Em 2010, durante uma entrevista, Zico (não preciso dizer quem é, né?) declarou que o Barbosa, no fim da vida, disse a ele: “desculpe, mas gostei de ver você perder aquele pênalti em 1986, pelo menos me esqueceram um pouquinho”. Imaginem como o velho goleiro sofria pela falha de 1950? É a maldição do goleiro.

Vi grandes goleiros jogarem. Raçudos e classudos, voadores, pegadores de pênaltis. Foram tantos que é difícil enumerar, mas lembro bem do Buffon, Gilmar, Taffarel, Raul, Dida, entre tantos outros arqueiros que nos encantaram com a segurança debaixo da trave. Mas para mim, meu pai foi o melhor de todos eles.

Este texto é uma homenagem aos goleiros profissionais e peladeiros, que se machucam em saltos destemidos, levam chutes meteóricos, além de divididas violentas. Em especial ao meu pai, meu goleiro preferido para sempre. Amo-te, Zé Penha. Um beijo pra ti, aí nas estrelas!

Elton Tavares

O Navio dos Cabeludos e a Educação pelo Medo – Crônica porreta de Fernando Canto

Crônica do sociólogo Fernando Canto

O medo de fazer algo errado e ser punido controlava a ação de qualquer moleque da minha idade.

Os mais velhos comentavam com veemência sobre uma tal Ilha de Cutijuba, no Pará, para onde levavam os jovens transgressores das leis, falando misérias sobre ela. Diziam ser um presídio de onde era impossível fugir por causa dos tubarões e pirararas que viviam ao seu redor, perto do oceano; um lugar quase inacessível, que para viver era preciso lavrar a terra na chuva e no sol para produzir seu próprio alimento; uma prisão ao ar livre na qual poucos sobrevivam cumprindo suas penas. Em suma: um inferno.

O controle social bem articulado, posto nas nossas cabeças pelo medo, povoava nossas vidas desde a infância. Para cada situação sempre existia uma história que evitava o fazer errado. Era a educação pelo medo. Até hoje quando vejo uma sandália virada providencio logo que ela fique na posição de calçar, pois me ensinaram a acreditar na superstição de que minha mãe morreria se a sandália não estivesse de cabeça para cima. Espertos esses adultos! Eles inventaram uma forma de fazer as crianças não bagunçarem os espaços da casa e também de não castigá-las com surras e outra correções violentas. Certa vez um dos meus filhos, ainda criança, viu o irmão chutar uma sandália que ficou de cabeça para baixo num canto da sala. Imediatamente ele disse: – A mamãe vai morrer, eu não tô nem aí, eu não tô nem aí! E saiu se isentando da culpa da (im)provável “morte” de sua mãe, causada pela sandália virada.

Situações como essa aprendemos em todos os lugares, seja em casa, na rua ou na escola, onde nossas relações sociais se ampliam e solidificam. E assim a gente vai se educando, variando os conhecimentos, resistindo ou não às novidades, segundo os contextos históricos, sociais, culturais e políticos que se apresentam. Mas dificilmente essas superstições e abusões sairão de nossas memórias, embora entendê-las, hoje, signifique dar boas risadas, porque todas as representações simbólicas produzidas pela consciência coletiva ou individual expressam visões de mundo e de sociedade. É uma visão política de realidade porque as ideologias estão ligadas à compreensão da cultura, que por sua vez é uma percepção ligada às diferenças entre os homens. O controle implícito no gesto de “ajeitar” a sandália é uma experiência de poder.

Bem próximo, na continuação da educação pelo medo, lembro da expressão “- O Navio dos Cabeludos vem te buscar.”, uma forma de coação social e familiar para os que não gostavam de cortar os cabelos, principalmente no tempo da Jovem Guarda, quando era moda usar os cabelos compridos, mesmo se arriscando a ser chamado de “bicha”. Não sei de onde veio a dita expressão, mas desde a Guerra do Paraguai, passando pela Revolução dos Cabanos e pela Segunda Guerra Mundial, muitos jovens se escondiam no mato com medo dos “Pega-pega”, navios que passavam nos rios da Amazônia para alistá-los compulsoriamente e remetê-los aos campos de batalha.

A invenção dessa “pedagogia” não raro ainda se estabelece em muitos lares urbanos e rurais da Amazônia. E funciona com as crianças, porque todas têm medo. Nenhuma delas quer perder a mãe por causa da sandália virada. Ninguém quer viajar a força num desses Navios dos Cabeludos que sempre aparecem na frente da cidade para uma viagem sem destino e sem volta.

A Santa Inquisição do Fofão – Crônica de Elton Tavares (Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Lembro-me bem, no início dos anos 90, do pânico em Macapá causado por um boato “satânico”. Espalhou-se que teria uma adaga ou punhal dentro do boneco do personagem Fofão, por conta de um suposto pacto demoníaco com o “Coisa Ruim”, feito pelo criador do personagem.

Iniciou-se uma caça, sem precedentes, aos brinquedos. Uma espécie de “Santa Inquisição”. De certa forma, parte da população embarcou na nova lenda “modinha” e os fofões foram trucidados por conta de um mero boato.

Meu irmão e eu vitimamos alguns fofões que pertenciam às nossas primas (prima sempre tinha Fofão, boneca da Xuxa ou Barbie). Na época, muitos diziam que ouviram do vizinho do “fulano”, que uma pessoa tinha sido assassinada por um dos então apavorantes bochechudos de brinquedo.

O Fofão tinha uma cara enrugada, era tosco, usava uma roupa parecida com a do Chucky (o Brinquedo Assassino), e dentro ainda tinha uma haste (punhal) de plástico, que era usado para manter o seu pescoço em pé.

Realmente os fatos estavam contra ele.

Houve até queima dos portadores do mal, em praça pública. Sim! Naquela praça que ficava em frente ao cemitério São José, que hoje abriga a Catedral, homônima ao espaço reservado aos que já passaram desta para melhor.

Na verdade, comprovou-se que o fato não passou de um golpe de marketing, pois muita gente comprou só para conferir e, em seguida, destruir o brinquedo. Coisas como o lance das músicas da Xuxa que, como se falou na mesma época, se tocadas ao contrário, continham mensagens do diabo.

Hilário!

Foi muito divertido, confesso. Ateei fogo em vários fofões, e foi muito melhor do que a época junina. A maioria dos moleques adorou e grande parte das meninas chorou a partida daquele tão querido brinquedo.

Concordo com o dramaturgo inglês, William Shakespeare, quando disse: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que explica a nossa vã filosofia”, mas não neste caso. Porém, o episódio do Fofão foi uma histeria generalizada entre a molecada e virou mais uma piada verídica da nossa linda juventude, uma espécie de Santa Inquisição dos brinquedos.

Elton Tavares

*Do livro “Papos de Rocha e outras crônicas no meio do mundo”, de minha autoria, lançado em novembro de 2021.

Como escrever um texto polêmico – Crônica de Elton Tavares – (do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”)

Ilustração de Ronaldo Rony

Faz tempo que aprendi como escrever um texto polêmico e “cool”. Você contextualiza e detona o objeto que já está na pauta do momento. Sim, pega carona com a merda que já está na palheta (implantação da pena de morte no país, diminuição da maioridade penal, legalização do aborto e maconha, enfim, atualidade, política, religião, pessoas, música, etc…). Sim, textos de revolta, sangue nos olhos e tals. Ou crônicas dúbias, mas inteligentes (o problema é que nem todo mundo entende a segunda opção).

Desenvolvimento: durante o artigo ou crônica, esmiúça um “porém” e descreve alguma hipocrisia de ordem genérica, absolvendo o objeto. Com falsidade, claro. Ah, use frases de impacto. Tipo => como disse Bill Gates : “O sucesso é um professor perverso. Ele seduz as pessoas inteligentes e as faz pensar que jamais vão cair” ou Oscar Wilde, quando disse que ”o descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou uma nação”. Isso sempre funciona.

Ah, faça perguntas? O sistema é falho, portanto deixa brechas para críticas no bandão. Aliás, falar mal é sucesso garantido!

Já na conclusão, você moraliza no formato bunda-mole tipo: “um tapa na cara da sociedade”. Todo mundo, aliás, é bunda-mole, em algum aspecto, claro. Só não aqueles que concordarem com este texto (Rá!).

Por fim, você pega o embasamento de alguma pessoa consideradona no meio de comunicação para o epílogo e afirma que aquele é o melhor texto produzido sobre o tema.

Claro que, brincadeiras à parte, devemos criticar, discernir e entender as coisas como elas são, de fato. Ver o mundo de outra ótica, a dos que não querem que a verdade venha à tona. Então, textos polêmicos são mais que necessários. O importante é seguir questionando os fatos e acontecimentos ao nosso redor. Seguimos discordando, sempre. E fim de papo!

“A desobediência é uma virtude necessária à criatividade” – Raul Seixas

Elton Tavares

*Texto do livro “Crônicas De Rocha – Sobre Bênçãos e Canalhices Diárias”, de minha autoria, lançado em setembro de 2020.

Graziela Suzuki gira a roda da vida. Feliz aniversário, Lilo!!

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Também sempre me gabo que tenho muitos amigos longevos. Esses companheiros (brothers) de vida com quem mantenho uma relação de amizade e respeito, mesmo a gente com pouco contato. Sim, gente que me abriga em seus corações há décadas e é recíproco. Uma entre estes afetos gira a roda da vida neste décimo nono dia de abril, a muito querida Graziela Suzuki . Como ela é uma mulher muito porreta, lhe rendo homenagens.

Graziela é multifacetada, pois é professora, chef e turismóloga. Filha filha da querida Naná, mãe de duas crianças lindas e esposa do Rodrigo, Suzuki é chamada por mim de “Lilo” (por conta da semelhança dela com a menininha da animação “Lilo e Stitch”).

Lilo sempre foi safa e inteligentona. Uma pessoa meiga, educada, bem humorada e muito querida por mim e por uma legião de amigos, além de sua linda família de japoneses negões tucujus.

Um dia ela me disse que se orgulha de mim, do que me tornei. Faço minhas as palavras dela sobre a vida que ela conquistou. Aliás, sempre parafraseio o sábio e querido Fernando Canto para falar de velhos amigos com quem perdi o contato: “do tempo que fomos para sermos o que somos”.

Com a Lilo, em algum lugar do passado.

Com Grazi, travei discussões homéricas sobre tudo, sempre com uma bebida e um som legal. Minha histórias com Lilo são recheadas de momentos sensacionais e memoráveis. Alguns deles totalmente impublicáveis e hilários. Amo essa mulher e sou feliz em ver que ela zerou o jogo da vida, pois ela está feliz profissionalmente, casou com um cara foda e tiveram pequenos lindos.

Graziela faz parte de minha memória afetiva nisso. Ela foi embora há tempos, morou em muitas cidades e agora reside em São Luís (MA) com sua linda família. Veio aqui há pouco tempo, mas não conseguimos nos ver. Nosso último encontro foi em 2019, acho. Mas ela está sempre dentro do meu coração. Hoje ela chega ao 46º abril. Uma mulher muito paid’égua, em todos os sentidos.

Por tudo dito/escrito acima, Graziela, desejo que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa garra, coragem e alegria. Que a Força sempre esteja contigo. Que tenhas sempre saúde (muita saúde) e sucesso em sua jornada. Que tudo o que idealizas como felicidade se concretize e que tua vida seja longa. Parabéns pelo teu dia, Lilo. Feliz aniversário!

Elton Tavares

*Texto republicado, mas de coração.
*Precisamos de uma foto nova, Lilo!

Sobre domingos de quando eu era moleque – Por Elton Tavares

Quando eu era moleque, nas manhãs de domingo, acordava com a MPB rolando no toca-discos de vinil, meu pai já tomando uma e minha mãe cozinhava (isso quando não íamos comer fora). O cheiro porreta da broca já exalava na casa. Meu irmão ainda tava na parte de cima do beliche, desmaiado. Eu o acordava pra começarmos a brincar, azucrinar e dominar o mundo.

Papai, sempre carinhoso, nos abraçava e cheirava. Mamãe, também amorosa, mas mais comedida, dava um beijo em cada um dos moleques. Uma vida vivida no amor. É assim até hoje, mas sem o velho Zé Penha. Que saudades!

“Dedique-se a conhecer seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez” – Trecho do poema “Filtro Solar”.

Elton Tavares

Pedro Aurélio Tavares gira a roda da vida. Feliz aniversário, tio!

Com o tio Pedro, um cara PHoda!

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Hoje, meu tio Pedro Aurélio, gira a roda da vida. Trata-se de, além do laço sanguíneo/parentesco direto, trata-se de um amigo.

Pedro Aurélio é um cara de gênio forte, super sincero, teimoso, entre outras qualidades e defeitos peculiares deste figura que hoje completa 71 anos. Sou igual a ele. Às vezes, fico muito puto com o tio e ele comigo. Mas graças a Deus, o “encaralhamento” passa e seguimos amigos. Vez ou outra, a gente discorda, de novo, mas é assim mesmo. Afinal, nos amamos.

Lúcia (esposa do tio), eu, Bruna e Pedro – Encontros felizes

Já contei e falo novamente: deixei de ser um moleque doido, nos tornamos amigos. Ele me ajudou algumas vezes. Sou grato por isso e o papo com o tio é sempre muito pai d’égua.

Pai de quatro filhos, avô de um lindo casal, marido da Lúcia, administrador de empresas, bacharel em Direito, maçom (foi venerável mestre), fazendeiro e conselheiro substituto do Tribunal de Contas do Estado (TCE/AP), Pedro Aurélio é um cara que admiro muito meu tio por ele ser quem é.

“…E a gente vai tomando que também sem a cachaça Ninguém segura esse rojão…

Se gostar de você, é um puta dum amigo. Um cara Phoda mesmo! Se não der valor em ti, é encrenca certa. Após sete décadas de existência, ele segue forte defensor de suas opiniões. Nem sempre certas, claro.

Há alguns anos, sofreu um acidente muito sério e quase embarca para outra jurisdição. Ainda bem que não fez a “subida tridimensional”, como diz nosso amigo Fernando Canto, e continua nesta jornada conosco.

Tio é um cara que me apoia, me aconselha, me defende e, se preciso, me esculhamba. Sou grato pela sua amizade. Pedro Aurélio é um cara que marca presença. Tem coragem e atitude. Ele é um homem inteligente, astuto, experiente, combativo, leal e honesto. É uma das pessoas que tenho orgulho de ter o mesmo sobrenome, o mesmo sangue, de ser do mesmo clã.

Pedro Aurélio entre eu e meu irmão, Emerson.

Pedrão, que nossos encontros sejam como sempre foram, com muito mais motivos para sorrirmos, cheios de histórias para contar e um copo pra brindar, porque nossa vida só tem sentindo se a amizade e amor estiverem em nós.

Tio, que tenhas sempre saúde, mais sucesso (se é que isso é possível), paz de espírito e paideguices que aqueçam teu coração. Que vivas mais umas décadas, pra gente seguir a brindar na jornada. Tenho sorte de ser teu sobrinho e mais ainda de te ter como amigo. Graças a Deus tua existência orbita a minha. Te amo. Feliz aniversário!

Elton Tavares

A CASA DO EZEQUIAS – Por do Fernando Canto

Crônica de Fernando Canto

A metade dos anos 80 trazia a grande expectativa de mudanças no caminho político do Brasil. Após a anistia de 1979 restava ainda o término do Governo Figueiredo e a transição democrática que se estabeleceria com a eleição de Tancredo e a posse de Sarney.

No Amapá tudo isso era motivo de conversa e os jornais emitiam opiniões bem diversificadas sobre o destino de nossa terra, causando certo frisson entre os leitores. E com a possibilidade de transformação em estado o antigo Território Federal cedeu espaço a centenas de aproveitadores políticos que para cá vieram em busca de uma vaga no parlamento. Foi nesse contexto que ressurgiu o Amapá Estado, fundado por Haroldo Franco, Silas e Ezequias Assis.

Governador Henning – Foto blog Repiquete no Meio do Mundo

Esse jornal havia sido editado pela primeira vez durante o governo de Henning, que segundo eles, quando leu o primeiro número o amassou e jogou fora dizendo que a pretensão dos jornalistas não passava de um engano,de uma utopia. Foi, também, nesse contexto que posteriormente foi lançado o jornal Fronteira, onde trabalhei com uma coluna informativa, ao lado de grandes expressões do jornalismo local como Alcy Araújo, Luís Melo, Jorge Herberth e Wilson Sena, por sinal o primeiro presidente da Associação dos Jornalistas do Amapá. Antes disso o Silas fechou o Amapá Estado e foi se estabelecer em Belém com um jornal maior.

Humberto Moreira – Foto: Blog Porta Retrato

Mas os grandes assuntos da pauta semanal do Fronteira eram discutidos na casa do Ezequias. Todos os sábados ele nos recebia com aquele jeito brincalhão, mostrando um exemplar que o Ricardo, seu filho, pegava no aeroporto (Naquela época era impresso em Belém.) e não economizava o orgulho de ver editado mais um número. E o que era para ser apenas informação virava celebração, pois nunca faltava uma boa dose do melhor uísque, uma carne de caça que o Baleia fornecia para o dono da casa desde que ele fora chefe de Gabinete da Secretaria de Obras e a viola do Nonato Leal, às vezes em duo com a do Sebastião Mont’Alverne. Ao lado disso, apreciadores da boa música, como o Alcy, se deleitavam ouvindo o Humberto Moreira interpretar Taiguara. Artistas e intelectuais chegavam como se estivessem ligados a uma rede invisível e automática, num tempo em que não havia celulares. Aimorezinho era um espetáculo tocando bossa nova com a sua escaleta e o inesquecível bandolim do Amilar parecia pousar em uma partitura mágica vinda das Brenhas de Mazagão. Ritmos se fundiam numa democracia musical crescente que só acabaria quase no início da noite com o sorriso sempre aberto da ilustre e querida amiga Nazaré Trindade. Antes, porém, Ezequias, Nonato e Sebastião faziam um coral com a música “Saci Pererê” de autoria dos três. Depois cantavam “Tauaparanaçu”, de Nonato, e arrematavam com “Rio Amazonas”, de autor desconhecido. A audiência não poupava elogios ao trio e se despedia de mais uma seresta tropical que a todos encantava.

Ezequias Assis, Jorge Herberth e Fernando Canto. Professor Munhoz ao fundo – Foto encontrada no blog da Sônia Canto.

Tanto Ezequias como Nazaré já se despediram deste mundo. Mas o dom da generosidade que neles havia fica na memória e na eterna gratidão pelo que ensinaram e pelo que foram.

Certa vez, num tempo de vacas magras do jornal, Ezequias me chamou e disse que não podia me pagar naquele mês, mas que iria dar um jeito. Falou que estava querendo “ajeitar” seu carro e que decidira deixar para o outro mês. Foi lá dentro e voltou com quatro pneus novos e 120 dólares e me disse: – Toma. Troca os pneus carecas do teu carro e fica com esse dinheiro pra quebrar o galho. No mês que vem a gente se acerta.

Depois ele me abraçou e pediu ao Ricardo para preparar uns uísques. Ficamos bebendo em silêncio.

*Fotos: 2-Governador Artur de Azevedo Henning (o que amassou o jornal) – encontrada no blog da Alcilene. 3 – Jornalista e cantor Humberto Moreira (blog Porta Retrato).

Humanista e militante das causas nobres, Alzira Nogueira gira a roda da vida. Feliz aniversário, querida amiga! – @Alzira50123

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Neste décimo dia de abril, Alzira Nogueira gira a roda da vida e rendo-lhe homenagens

Alzira é militante das causas sociais – com uma importância ímpar nos movimentos de mulheres e afrodescendentes -, servidora do Ministério Público do Amapá (MP-AP), membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Amapá (NEAB-Unifap), assistente social, mestre em sociologia, presidente da Central Única das Favelas (CUFA/AP), além de mãe da linda Maria Cecília.

Sou suspeitosíssimo para falar da Alzira, pois ela já me ajudou e sou eternamente grato por isso. Além do mais, essa mulher é inteligente, engajada em nobres causas, trabalhadora, competente, articulada, temporizadora, entre outras tantas paideguices que possui. Ela é reconhecidamente uma profissional competente, lutadora imparável (como diz o amigo Fernando Canto, no sentido de nunca parar) e responsável com tudo que se propõe a fazer.

Alzira é doce, bem-humorada, educada, carinhosa, simpática e brincalhona. Só assim, pra ela dar conta de tudo a que se propõe fazer. Como disse a Pat Andrade: “a Alzira é de uma amorosidade ímpar”. É é mesmo!

Ah, e se garante! A mulher é uma máquina em organizar, explicar, convencer e planejar. Tudo que ela põe a mão, gera excelentes resultados. Alzira é tão Phoda, que a Revista Cláudia (veículo tradicional e muito lida em todo o Brasil) a escolheu entre as cinco mulheres brasileiras que mais fizeram a diferença para tornar 2020 menos traumático, em publicação de dezembro de 2021. Muito justo, pois ela botou pra quebrar na ajuda às vítimas da pandemia e apagão no Amapá.

Tenho meu respeito, admiração, consideramento, amizade e amor por Alzira Nogueira. Como diz o clichê, mas no caso dela é isso mesmo, “a gente não conhece a Alzira, nos apaixonamos por ela”. De fato.

Alzira, minha amiga, que teu novo ciclo seja ainda mais paid’égua. Que sigas com essa sabedoria e coragem, pisando forte em busca de seus objetivos. Que tudo que couber no teu conceito de sucesso se realize. Que a Força sempre esteja contigo. Que tua vida seja longa com muita saúde. Te amo! Parabéns pelo teu dia, queridona. Feliz aniversário!

Elton Tavares

Jornalista Marcelo Guido gira a roda da vida. Feliz aniversário, amigo! – @Guidohardcore

 

Com o mano Marcelo Guido, no passado.

Sempre digo aqui que gosto de parabenizar neste site as pessoas por quem nutro amor ou amizade. Afinal, sou melhor com letras do que com declarações faladas. Acredito que manifestações públicas de afeto são importantes. Quem roda a roda da vida neste décimo dia de abril é o querido Marcelo Guido e lhe rendo homenagens.

É o 44ª abril do Guido. Um cara fiel aos seus ideais e suas pessoas. Ele é pai da Lanna e Bento, jornalista e radialista, ateu (daqueles chatos) ex-blogueiro, vascaíno calejado (com muito amor por esse time e resignado pelo sofrimento), remista, colaborador deste site (onde assina a sessão “Discos que Formaram o meu caráter” e escreve crônicas sobre futebol), amante de rock and roll e futebol, fã nº 1 dos Ramones.

Eu, o escritor Fernando Canto e Marcelo Guido

De uns anos pra cá, o Guido trabalha na Rádio Difusora de Macapá como repórter, apresentador e comentarista esportivo de vários programas. Fico feliz por vê-lo feliz profissionalmente.

Marcelo vive como quer, nos seus próprios termos. Quando a gente se encontra, fazemos piada de tudo, de todos e até da gente mesmo. Aliás, podemos ficar até um tempinho sem nos encontrarmos, mas quando rola, é sempre festa.

Marcelo é um baita cara porreta. Um irmão de vida e parceiro de doidices. Apesar de ele não acreditar em Deus, se não fosse ELE, nem eu e nem Guido estaríamos vivos, de tanto que a gente aprontou nessa vida.

Com Marcelo, na cobertura de pautas

O papel mais Phoda desempenhado pelo Guido é o de pai. É lindo ver como ele fala e age com seus filhos. A gente era nó-cego, mas nos tornamos caras legais. Faz tempo que não quebramos ninguém na porrada – e nem estamos com saudades disso (risos).

Volto a dizer: o Guido é uma força da natureza. Se gostar de você, é um puta de um amigo. Um cara Phoda mesmo! Se não der valor em ti, é encrenca certa. Com os parceiros, é um malandro engraçado e 100%. Além de forte defensor de suas opiniões. A gente segue a jornada da vida junto, na ajuda mútua e com muito humor ácido, paixão pelo underground e brodagem. E sem perder a ternura.

No trampo com o Guido.

Guido, obrigado por aturar minhas “eltontavarisses” (termo inventado por ele para minhas frescuras e etecéteras). Tu és um cara que posso contar para qualquer coisa. Aqui é na reciprocidade sempre, tu saaaabes. Que teu novo ciclo seja ainda mais porreta. Que tu tenhas sempre saúde e sucesso junto aos seus amores. Te amo, manão! Parabéns pelo teu dia e feliz aniversário!

Elton Tavares

Memória da cultura amapaense: discurso do professor Antônio Munhoz, no dia da inauguração da Galeria de Arte que leva seu nome, em 2002

Antônio Munhoz Lopes – Foto: site Repiquete no Meio do Mundo

No dia 22 de março de 2002, foi inaugurada no Sesc Araxá, em Macapá (AP), a Galeria de Artes Antônio Munhoz Lopes. Naquela data, o saudoso professor (falecido em 2017) homenageado fez um discurso memorável. Leiam:

“A lei da morte é o silêncio, o esquecimento. E a libertação de tal lei é tornar-se vivona memória dos pósteros. Não almejo tanto. Mas tenho certeza que no futuro alguém lendo esta placa, vai perguntar, com certeza: Quem é? Quem foi? Será uma prova de que não estarei morto completamente, como no verso do poeta (A. Munhoz Lopes)

Dos meu 70 anos de vida, 43 foram vividos, ou estão sendo ainda vividos em Macapá. E desde o início, estive envolvido com a educação e a cultura. E esse envolvimento sempre foi tão grande que, mesmo quando fui delegado da DOPS, diziam que eu dava á polícia local, “um clima de cenáculo literário, pois, segundo uma crônica do Cônego Ápio Campos, no jornal A Província do Pará, “meu escrivão era quase um poeta” e meus auxiliares “aproveitavam as folgas para ler contos e romances” e por incrível que pareça, “os próprios encarcerados eram obrigados a ler, em obediência a portaria baixada, várias páginas de antologia por semana”.

Antônio Munhoz Lopes – Fotos encontradas no blog O Canto da Amazônia

Essa história ficou, por muito tempo, no inconsciente de muitas pessoas, de tal forma que certa vez falando no assunto, disse que tinha sido uma brincadeira do Cônego Ápio e alguém à parte, decepcionado, afirmou: “Ainda prefiro a lenda à verdade”. E não vamos muito longe: no dia 15 de janeiro de 1998, uma carta de Campo Grande, Mato Grosso de Sul, o professor João Antônio Leal Filho me escrevendo dizia: “Lembro-me sim da passagem do Munhoz pela polícia como delegado, um dos melhores que Macapá já teve”. Repetia a história contada pelo Cônego Ápio, com a variante de que, “naquele tempo, todo policial tinha de andar com um romance embaixo do braço. E o mais interessante é que, melancólico e saudosista, o missivista encerra sua carta com uma exclamação: “já não há mais delegados de polícia como antigamente”. Estes fatos mostram que a minha preocupação com a cultura não é de hoje. E também não esqueço as reclamações que sempre fazia, principalmente nas apresentações de exposições de arte e ainda faço quando autoridades estão presentes: de que precisamos de um museu ( o prédio da antiga Intendência está se acabando), uma pinacoteca, uma galeria de arte e um arquivo público para acervos a memória deste pedaço do Brasil.

No antigo Conselho de Cultura chegamos a fazer uma proposta que não foi levada a diante e seria o gérmen da pinacoteca: o levantamento de todas as telas que existem nas repartições públicas, muitas precisando de restauração. Ainda no Conselho de Cultura foi grande o esforço que se fez para a inauguração da Galeria Vicente de Sousa, o pintor nascido no Amapá e que fez da cana-de-açúcar o seu signo por excelência. A galeria foi aberta com uma bela exposição de Manoel Bispo. Mas com a derrocada do Conselho, a galeria desapareceu. Todavia, para mim, o mais importante foram as realizações dos salões de arte, tendo sido o primeiro em setembro de 1963, portanto, há 39 anos, como parte dos festejos comemorativos do 20º aniversário de criação desta unidade federativa. E vale recordar que, em 29 de Setembro de 1963, na Folha do Povo, comentando num artigo denominado “Paleta, Amor e Alma”, a participação de Vicente, no I salão de Artes Plásticas, Isnard Lima dizia: “Vicente, esse moço promete”.

Professor Antônio Munhoz Lopes – Foto: Memorial Amapá

E, de fato, o prognóstico do articulista se cumpriu, pois Vicente foi um nome importante no cenário artístico brasileiro, com a sua fase denominada de canacultura. O II Salão foi aberto no dia 15 de Dezembro de 1966, no térreo do Colégio Amapaense e, no livro de Walmir Ayla sobre Manoel Costa, aparece uma foto do acontecimento. O III Salão foi inaugurado em 13 de Setembro de 1967, com a presença do Governador Ivanhoé Gonçalves Martins. E por este salão recebemos um ofício do Diretor da Divisão de Educação, citando a mostra como “um dos pontos destacados na comemoração do 24º aniversário de instalação do Território Federal do Amapá”. Lembro de que participaram da exposição R. Peixe, Paulo Leite, Fulvio Giuliano, hoje um nome internacional com o seus ícones, morando atualmente em Monza; Carlos Nilson, Manoel Bispo, com dois quadros muito bons: “Retrato de mulher” e “Mulher com flores”; Irenilda Almeida, Donato dos Santos e Paulino do Rosário.

Foto: Sesc AP

Em Setembro de 1983, 16 anos depois, quando éramos diretor do Conservatório Amapaense de Música, hoje Escola de Música Walkíria Lima, realizamos o último salão, que foi uma retrospectiva de 35 quadros de Fulvio Giuliano, ainda como parte dos festejos comemorativos do 40º aniversário do Território, fazendo uma análise da obra do artista italiano, que por muitos anos viveu entre nós.

Por sinal, esta retrospectiva é lembrada num livro que saiu na Itália em 1995 e que tem por título “La Bellezza Salverà il Mondo”. Éramos citados exatamente quando recordamos que o pintor retratava a nossa terra, sem fantasia, mostrando o homem carente de tudo, o homem em sua miséria e solidão, cujos exemplos sofridos mais flagrantes, eram os quadros denominados “Assim Morreu Pracapa” e “Benedito Acabou de Sofrer.” Meus amigos, o tempo foi passando e aqui estamos. Voltando de Belém do jantar dos meus 70 anos, onde consegui juntar meus nove irmãos, Regina Valente e Graça Viana, na abertura da exposição de Flávio Damm, me intimaram: não pode sair de Macapá agora neste mês de março. Não liguei, pois, na verdade, nunca me passou pela cabeça homenagem de tal jaez, o que às vezes remotamente pensava era de que um dia talvez fosse nome de escola, mas quando estivesse morto. Mas nome de galeria de Arte, não, nunca pensei, mesmo porque acho chique demais.

Antônio Munhoz Lopes – Foto: Paulo Tarso Barros

De público e de coração agradeço aos meus amigos do SESC, e é um agradecimento especialíssimo, sobretudo, porque estou vivo. E outro fato que me surpreende é que, muitas vezes, na minha vida de professor, lendo e relendo o poema de Manoel Bandeira, “A Morte Absoluta”, do seu livro “Lira dos Cinquent’anos”, meditei inúmeras vezes nos versos finais do poema, quando o poeta afirma: “Morrer tão completamente / que um dia ao lerem o teu nome num papel / perguntem: “Quem foi?… e ele continua: Morrer mais completamente ainda, sem deixar sequer esse nome”. Agora, posso dizer até com uma ponta de orgulho ou vaidade, que morro, mas não de todo, porque meu nome ficará gravado numa placa com mérito ou sem mérito, não sei mas ficará. E recordo ainda outro poeta, Camões nos Lusíadas, quando fala daqueles “que por obras valorosas / se não da lei da morte libertando”. A lei da morte é o silêncio, o esquecimento. E a libertação de tal lei é tornar-se vivo na memória dos pósteros. Não almejo tanto. Mas tenho certeza que no futuro alguém lendo esta placa, vai perguntar, com certeza: Quem é? Quem foi? Será uma prova de que não estarei morto completamente, como no verso do poeta. E mais uma vez, para os meus amigos do SESC, como para todos os meus amigos aqui presentes, o meu muito obrigado”. 

Professor Antônio Munhoz Lopes
22.03.2002
*Contribuição de Fernando Canto (presidente da Academia Amapaense de Letras).

Verdade seja dita – Crônica de Ronaldo Rodrigues

Crônica de Ronaldo Rodrigues

Sim, eu não sou o dono da verdade, pois a pessoa que me vendeu a verdade, em suaves prestações, mentiu pra mim. A verdade, na verdade, pertence a todo mundo que quiser ostentar o título de dono da verdade. A verdade tá pouco se lixando pra quem ainda a leva a sério, pra quem ainda dá importância a esse conceito volátil e volúvel.

No fim da negociação, antes que a pessoa que me vendeu a verdade partisse para suas férias num paraíso fiscal qualquer (deve ter vendido a mesma verdade pra muita gente e enriqueceu), compreendi que as prestações, que eu achava tão suaves, de suaves nada tinham. Eram massacrantes. Fui eu, euzinho, que fiquei inebriado pela ideia de ser o detentor da verdade, e agora tenho que pagar por isso infinitamente. Fui eu que me iludi achando o preço razoável. Eu me machuquei de verdade com aquela miragem que se dizia verdade. Depois, apareceu outro sujeito querendo me vender uma verdade de segunda mão, arranhada, meia-boca, mas ainda ostentando fumaças de grandeza, restos de um esplendor do fim do século XIX, quando ainda tinha algum valor no mercado, nem precisava de tantos documentos para que fosse comprovada. Aí eu disse não! Eu não precisava de ninguém para ter a verdade, eu mesmo invento a minha verdade, que, para existir, basta apenas que eu acredite.

O conceito atual da verdade foi caindo tanto que agora cada um tem a sua, é dono da sua verdade, como se fosse um pet, e dane-se se essa verdade tem a ver com qualquer resquício de coerência. Pode ser contrária a qualquer lógica, mas, se o sujeito quer acreditar mesmo, é capaz de criar todo um contexto em que sua verdade se encaixe e ganhe ares oficiais.

Outro dia vi um leilão online em que várias verdades estavam expostas. Nestes tempos em que a eleições se aproximam, como um círculo de tubarões cercando o náufrago à deriva no oceano, milhares de verdades estão à venda. Pode-se até alugar uma verdade pra usar em alguns momentos. Uma verdade – quase – absoluta é ótima para algumas situações.

Encontrei uma verdade perdida na rua e levei pra casa. Estou alimentando essa verdade com muitas mentiras e adestrando na base do ódio. Quando estiver bem grande e robusta, vou soltar a minha verdade em cima de qualquer um que venha com uma verdade que se pretenda mais verdadeira que a minha. Quando estiver cansado e insatisfeito, vou passar a verdade adiante ou sacrificá-la. Já estou de olho em outra verdade, uma bem tecnológica, o lançamento mais recente do mercado. Vou comprar pela internet direto da China. Os fabricantes me garantiram que nessa verdade eu posso acreditar, mas é bom ter um estoque de verdades de menor calibre para usar no dia a dia.

Vejo autoridades corruptas reivindicando sua verdade. Vejo pastores vendendo sua verdade. Vejo grupos armados defendendo sua verdade. Vejo marqueteiros maquiando sua verdade. Vejo candidatos espalhando sua verdade. Até sou capaz de ver a verdade, sim, a própria, a legítima, a única. Ela está deitada, dormindo tranquila, ao lado da minha cama.