Crônica de Ronaldo Rodrigues
O ostranauta é um cara ensimesmado, circunspecto, sorumbático, meditabundo, que viaja sem rumo ao redor de seu umbigo.
O ostranauta é todo aquele que segue a vida dentro de sua carapaça de tartaruga. Ele ouve os sons ao seu redor, está conectado com o mundo, mas prefere o seu próprio planeta, a sua ostra. Por isso, ele é um ostranauta.
A bordo de sua ostra, ele se imagina dentro do útero, da caixa de fósforos, da gaveta, da concha… Há uma multidão de inadaptados, esquecidos, marginalizados, banidos. Mas o ostranauta, mais do que ser um exilado, é um exilado por opção, um autoexilado. Ele não quer mesmo papo com o mundo exterior. Só o que interessa é o seu grupinho das redes sociais. Ele tem milhões de horas de internet grátis à sua disposição. Tempo e assunto são coisas que não faltam. Não se sabe se os assuntos são interessantes. Na maioria das vezes, quantidade é uma inimiga terrível da qualidade. Alguns aproveitam a modernidade da internet para disseminar ideias racistas, homofóbicas, xenofóbicas, claustrofóbicas… Outros ostranautas ficam apenas se divertindo com piadas bobas, que não precisariam de toda essa tecnologia para existir. Ou postando / compartilhando / curtindo vídeos idiotas. Ou sacaneando saudavelmente seus amiguinhos (reais e virtuais). Ou…
Entre num ônibus e você verá vários ostranautas guardados no seu mundinho. Vá ao shopping e encontre o maior número de ostranautas por metro quadrado. Eu estou me esforçando para ser um ostranauta. Preciso acompanhar os tempos, senão vou acabar falando sozinho. Que nem os ostranautas.