Cedo pra quê?

Crônica de Ronaldo Rodrigues


Ontem à noite estive num show que homenageava Cazuza. E isso veio ao encontro do que estive pensando durante o dia. Algumas opiniões asseguram que Cazuza morreu jovem, que Cazuza morreu cedo. Mas, penso eu, cedo pra quê? Como se delimitam essas coisas? A medida da vida de alguém. A experiência de um ser humano não é mensurável. Ou é? Pode-se viver mil anos a dez ou dez anos a mil. Confesso que fico perplexo diante dessas afirmações. Tipo: Cássia Eller morreu cedo. Renato Russo. Chico Science. Como morreram cedo, se deixaram seus nomes gravados, cravados, marcados na história de uma das maiores músicas deste planeta, que é a música brasileira?

Vamos além: Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison. Viveram pouco? Como, se até hoje falamos neles? Como, se ainda ouvimos suas músicas, suas mensagens? Elis Regina, Clara Nunes, Gonzaguinha. Talvez nós tenhamos morrido para eles, caso não os tenhamos compreendido.

Confesso que sou atraído pela ideia de que o sujeito chega, dá o seu recado e some. Como um cometa, um raio, um suspiro. Como alguém que nem teve essa notoriedade toda e nasceu e viveu e explodiu.

E aí vêm aquelas questões: se John Lennon não tivesse sido assassinado, o que teria produzido, o que estaria produzindo? E se a galera dos Mamonas Assassinas não tivesse feito aquela viagem de avião, o que teria acontecido com eles no decorrer de suas vidas? 

Não há resposta, a não ser que se procure a significação mística de tudo isso. Confesso estar sem paciência neste momento. Ainda mais que passam das quatro da madruga, estou parcialmente bêbado e preciso terminar esta crônica.

O Adelson me aconselhou a ler sobre Einstein para compor este texto. Mas não há tempo. Ou há tempo. Tudo é relativo. Não é, Adelson? Não é, Einstein?

Em todo caso, devo registrar: nunca usei tanto o sinal de interrogação. Mas o tema exige, precisa, quer. E se faz.

Para terminar, digo que cheguei aos 48 anos de idade e sinto que ainda não saí dos 15. Sinto que é tarde. Sinto que é cedo. Mas cedo pra quê?

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