FRED E O CARISMA DA CARÊNCIA (meus parabéns aos tricolores)

Por Fabrício Carpinejar e Mário Corso

Fred é um Heleno de Freitas das Laranjeiras. Executou uma metamorfose lendária. É uma garça que virou pelicano. Não existe bola ou peixe perdido. Caça, cata, cava. 

Com uma insistência incomum, mistura-se aos feitos do Fluminense, a ponto de não imaginá-lo com brasão diferente. Ele não é um virtuose, seu dom é a garra, verticaliza o lance, aproveita o máximo de cada situação, explora exaustivamente sua mortalidade. Age como um fanático pela vitória.  Não provoca o oh de espanto, o meu deus  da comoção, não intriga o espectador, não gera exclamações incrédulas. Suas jogadas são explicáveis, oportunas, felizes. Sua coragem é executar o óbvio e não se extraviar em firulas.

Sem a bola, seu olhar é triste, melancólico, não brinca, não se diferencia da aparência desinteressada e profissional de quem recebe o salário em dia.

Com a bola, ele enlouquece. Retira o carisma da mais absoluta carência. 

Fred faz questão de pagar os juros exorbitantes da torcida. Não reclama da cobrança, devolve o tempo perdido, triplica a alegria em minutos.  

É um sujeito que dá a ideia que pode morrer no gramado, que não desistirá até o último minuto, que brigará com o juiz em nome de seus companheiros, que buscará a bola na rede em vez de renunciar valiosos minutos comemorando o gol.

Não é rei como Pelé, não é príncipe como Neymar, Fred é um cavaleiro que comanda o exército nas manobras de terra. Entende que o matador requer humildade. Todo centroavante é um mendigo na grande área, esmolando cruzamentos, pedindo passes e se posicionando para receber – a sorte unicamente acontece para aquele que está bem posicionado. 

Fred superou a si mesmo. Era para ter sido apenas competente, foi extraordinário. Porque ele é profundamente apaixonado pelo Fluminense.

Vem se tornando um mártir: um santo eleito pelos homens, intruso humano e raçudo do templo, incomodando a paz dos santos indicados pelos deuses.

* Meus parabéns aos amigos tricolores pelo tetracampeonato nacional de futebol. Em especial ao meu tio Vadinho, torcedor fervoroso do Fluminense, que hoje está hospitalizado em uma UTI, mas logo se recuperará e vai comemorar esse título. Mas lembrem-se sempre, do Flamengo, vocês são e sempre serão fregueses. Congratulações!

Elton Tavares

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