Por Denise Muniz
Não achei que tornar-me a 69 de uma biografia de paixões de um cinqüentão fosse tão difícil de dirimir. O número, aparentemente inofensivo, entalou em meu tubo muscular. E somente atravessou minha epiglote quando me vi em meio às gargalhadas da minha trupe que, naquele memorável momento, assistia à revelação: “ELA foi a 69 de minha lista”.
Naquele segundo de manifestação de alguém que sarcasticamente me dispensara no ar, em rede de TV local, imaginei-me representando aquele algarismo. Caramba, tinha que ser o 69? De qualquer forma, está tudo bem, ao menos estou a oito à frente da 77ª, última posição do Kama Sutra.
É claro que, de “vento em popa”, preferia ter estado na posição 5. Assim, o teria ajoelhado sob meu mastro, fazendo manobras audaciosas como se fosse meu timoneiro levando-me ao estado de nirvana.
Não tenho certeza se naquele instante, em meio a toda aquela chacota, senti ira ou regozijo. Confirmei apenas que “a vida é uma comédia”, mas não como a de Vida Vlatt, em que todos os minutos são divertidos e hilários, afinal, protagonizamos as Luzinetes, Ofrásias, Saras Goldman, Carmelas e Madames Raymunda Clinton Abravanel (as cinco personagens interpretadas na peça) especialmente em seus momentos mais sinistros.
De qualquer forma, tenho de ver que não é de todo ruim. O 69 não atrai as minhas aspirações sexuais, mas, como as bundas, também é paixão nacional. Então, estou em confortável posição.
Até porque essa condição não levará muito tempo. Logo um novo Maru aterrissará em minha zona trancafiada e, então, habitarei novo arranjo.