Sobre a exposição “Jango – a nossa breve história”, em Macapá

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Depois de cinquenta anos do golpe militar a Prefeitura de Macapá, apresenta, na sede do IPHAN na capital do Amapá, a exposição “Jango: a nossa breve história”,produzida pelo Arquivo Nacional com cerca de 80 fotografias, reproduzidas ou projetadas, um vídeo de 32 minutos e cinco vitrines contendo 20 documentos originais e publicações dos anos 1960.

Composta exclusivamente com o acervo da instituição, a mostra é dedicada ao governo de João Goulart, sem esquecer sua trajetória pessoal, chegando até as imagens de exílio.

O circuito da mostra divide-se em cinco módulos, começando pelo desfecho, em 1964: uma série fotográfica com os eventos tidos como detonadores da crise militar, os conspiradores como Lacerda e Magalhães Pinto, as lideranças de Brizola e Arraes; o dia após dia de março daquele ano que continua nos meses seguintes com a leitura do AI-1, as prisões, as invasões de residências, os inquéritos, o deputado cassado Rubens Paiva a caminho do exílio; e ainda, lembrando e homenageando a agitação cultural de então, cenas de Deus e o diabo na terra do sol, o show Opinião, e já em 1965 uma manifestação estudantil contrária ao regime.

A trajetória de Jango é retomada a partir de seu mandato de deputado federal, da posterior ocupação da pasta

da Justiça no segundo governo Vargas, do cargo de vice-presidente no governo JK, de sua eleição como vice-presidente no governo Jânio Quadros, até se tornar presidente em 1961, no sistema parlamentarista.

Dos palanques de campanha à renúncia de Jânio, até a crise em torno da posse de João Goulart, chega-se ao terceiro módulo, voltado para os anos de seu governo, incluindo a campanha pelo retorno ao presidencialismo.

Esses breves anos são retratados pelo gabinete parlamentarista, sobretudo, o do primeiro-ministro Tancredo Neves, a assinatura de importantes atos como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, a Estados Unidos com a chuva de papel picado em Nova Iorque e com Kennedy na Casa Branca.

No Brasil, a agenda política alterna encontros com trabalhadores e estudantes; com líderes como o governador Arraes, o economista e responsável pelo Plano Trienal, Celso Furtado, o sempre lembrado embaixador norte-americano Lincoln Gordon; a seleção bicampeã de 1962, essa, uma das poucas notas festivas em meio a muitas greves e conflitos.

Há lugar também para lembrar as inaugurações de grandes obras que seguiam a trilha do desenvolvimentismo de JK.

Personagens da cena cultural e política do início da década de 1960 dão o tom da inovação radical que se anuncia na música, no teatro de Nelson Rodrigues, no Cinema Novo. E no mundo, Lennon, Martin Luther King, manifestações pacifistas contra a bomba atômica, o 1º de maio na Praça Vermelha, a construção do Muro de Berlim, a Guerra Fria.

O quarto módulo é voltado às manifestações e protestos nos quais eclodiu de fato a campanha pelas reformas de base: trabalhadores rurais armados, famílias de posseiros, o líder das ligas camponesas, Francisco Julião discursando na assembleia da UNE, as greves, as multidões; o cenário da cidade do Rio de Janeiro, ainda uma capital em sua centralidade; no Recife as faixas que gritavam “o Brasil não é quintal de Kennedy”. Não faltou o protesto de estudantes e trabalhadores contra a proposta de Jango de decretar estado de sítio para viabilizar as reformas.

Esse clima de inédita e expressiva participação popular se apresenta pelos filtros da Agência Nacional, órgão do governo e do jornal Correio da Manhã, além de outros fundos de natureza privada como a Campanha da Mulher pela Democracia (Camde), o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes), Santiago Dantas. Arquivos de imagens em movimento como da TV Tupi do Rio de Janeiro e César Nunes foram pesquisados para a edição do vídeo que acompanha a mostra.

O último módulo, Exílio, projeta imagens dos primeiros banidos do regime, ainda em 1964. Mostra também, inclusive com retratos do arquivo privado de João Goulart o exílio de Jango e sua família. Documentos do SNI se mesclam nessa projeção e estão ainda em vitrines, nas quais serão expostos originais como a minuta de carta de João Goulart a Kennedy sobre a crise de mísseis em Cuba, de 1962, ou o Aviso do chefe do SNI encaminhando informe sobre as atividades do ex-governador Miguel Arraes no exílio, de 1972.

A exposição oferece ao público, além de registros do golpe militar de 1964, a oportunidade de conhecer o perfil de João Goulart, uma janela de acesso à política brasileira das décadas de 1950 e 1960, chave para acompanharmos rumos partidários, movimentos sociais, o papel dos estudantes, o cenário do pós-guerra, o clima de irreversível mudança que se respirava no país, de bossa nova e democracia.

O Instituto Presidente João Goulart, a Prefeitura de Macapá, o Arquivo Nacional, o Senador Randolfe Rodrigues, o IPHAN brindam esta oportunidade histórica aos estudantes, sociedade civil e demais integrantes da comunidade macapense a conhecerem um pouco melhor a trajetória deste homem, que sendo presidente do Brasil, morreu no exílio para não provocar no país uma sangrenta guerra civil.

(Texto transcrito do portal do Instituto João Goulart)

Fonte: Blog da Alcinéa Cavalcante

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