Abreu o senhor do tempo – Crônica de Marcelo Guido

Crônica de Marcelo Guido

Dois de junho de 2010, local Soccer City, Joanesburgo, Copa da África, quartas de finais.

Poderia ser mais um dia comum, mas não era, tempos de Copa não existem dias comuns, os Deuses da Bola se inspiram e realizam as mais estupendas façanhas para os amantes do futebol.

No menu, Uruguai e Gana, um duelo inesperado na historia dos mundiais de um lado a celeste olímpica, trajando azul clássico , comandados por Diego Forlan, o homem que domou a jabulani. Do outro o selecionado de Gana, jogando em seu continente com seu uniforme listrado, avermelhado como sangue dos nativos e comandados pelo craque de marca maior Boateng.

Jogo corrido, a saga dos dois times em busca do apogeu do titulo estava começando e cada minuto que se passa o objetivo parece esta mais longe. O equilíbrio é constante, não se chega a toa em tal fase de torneio, erros podem custar caro e se arriscar demasiadamente não é uma opção.

Gana sai na frente a os 47 do primeiro tempo, nos acréscimos da etapa inicial em chute forte de fora área Muntary vence Muslera e coloca os africanos em vantagem, Gana 1×0.

No segundo tempo, o Uruguai parte para cima e logo a os 10 minutos uma falta cobrada na área por Forlan não encontra ninguém, a bola milagrosamente descansa nos fundos das redes, Uruguai 1×1 Gana.

Depois desse lance, o protocolo. As duas seleções buscando a vitória na raça, mas o tempo não para e o continua a correr, cansaço vem para os dois times a prorrogação era o destino.

Destino esse que necessariamente poderia ser escrito por poetas, escribas que fossem não teriam a originalidade ambígua dos Senhores do Futebol. Parecia estar tudo desenhado como pensado, nos os mortais só poderíamos observar e contemplar o inesperado.

No final do tempo complementar, falta para Gana, bola na área novamente Boateg desvia de cabeça, Muslera divide no alto , a bola sobra para Appiah soltar uma bomba certeira a queima roupa, Suarez defende com as mãos de Deus em cima da linha. Mas Suarez é centro avante não goleiro, decreta sua expulsão e pênalti para Gana.

Gyan, camisa 3 o responsável pela cobrança, o tempo acaba não tinha mais o que ser feito era a cobrança e fim de papo. Chute forte no meio, a bola beija a baliza superior e o tempo acaba, a vaga vai para as derradeiras cobranças finais.

Quis o destino para quem acredita, os Deuses da Bola se regurgitam com nossa aflição, nada está decidido e o mundo espera o resultado, azuis e listrados quem vencer será o merecedor da gloria. E pênaltis não tem favorito.

O semblante de todos estava lá, olhos atentos. Jogadores, nervos a flor da pele, o gramado magico suspira suor, lagrimas.

Abreu, o Loco vai para a cobrança final, podendo levar o Uruguai sua pátria para mais uma semifinal de Copa. Nos ombros cansados a esperança de milhões de uruguaios, o mal agouro de milhões ganeses, o caminho ate a marca é longo e seu caminhar é lento.

O tempo, ah o tempo algoz dissimulado o ponteiro que nunca para coisa que não se mede. Lôco Abreu, por suas veias abertas corre um sangue frio, parte em direção da bola, cavadinha, o tempo para o mundo respira, um capricho único, bola encontra o seu destino. O sublime gol que encerra tal peleja.

Os uruguaios comemoram, ganeses choram, vitória justa? Não existe justiça. As leis da física foram vencidas, o tempo foi parado e Abreu é o seu senhor.

O Uruguai voltaria a carimbar o respeito mundial no futebol, anti-jogo proporcionado por Luizito se valeu, Gana desperdiçou sua chance e a celeste olímpica foi em frente.

Os Deuses da Bola comemoraram como nunca.

Esta foi uma das maiores partidas de futebol de todos os tempos.

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