Elogio ao “não”


Estava pensando em algo para discorrer em meu post de “estreia” neste De Rocha. É um pouco sofrível tentar fazer com que as palavras corram assim. Prefiro deixar essa porta sempre aberta para que fluam, quando por bem quiserem. Mas não estou aqui de brincadeira, apesar da diversão que vou ter com toda certeza neste trabalho. Enquanto pensava, me veio à mente coisas que serão recorrentes eu falar sobre: Rock, teorias da conspiração, um artigo científico extremamente bizarro, uma crônica ou uma reclamação sobre política ou coisa que o valha.

Não. Não, não e não. Já que vou, posteriormente, discorrer sobre todas estas coisas, ah, não, não.

Não.

Então é isso. Vamos fazer um elogio ao não. Ou ao menos ver aonde isso vai dar.

Vou pretender um questionamento de leve, algo pra ser mastigado e saboreado, lenta e cancerigenamente. Lá vai: você diz “sim!” pra tudo?

(Espaço reservado para lembrar-se do nome do filme com Jim Carrey).

Certo, criatura inteligente. Ninguém pode dizer sim para tudo. Dizer sim é fácil demais, passivo demais, insosso demais, e raramente vai levantar algum questionamento, raramente vai te fazer crescer e desenvolver como uma bela e frondosa árvore. Prova: em qual lugar o “sim” é mais recorrente? Qual é o clube que exige o sim, a aceitação do que é imposto, sem explicação mais plausível do que um simples “porque é assim que as coisas são e é assim que sempre vão ser”? Isto mesmo. Tenta dizer NÃO dentro de uma igreja/templo/seita/culto. E, se for tentar, me chama, que eu quero ver. Não estou dizendo pra você não ter fé, nem nada tão drástico. Só diz não. Vai. Experimenta.

Seguindo esta mesma linha de raciocínio: Qual o período da história que conhecemos em que a humanidade mais parou no tempo, e se matou com mais gosto por conta de simplesmente não conseguir espaço pra dizer uns “não” bem gostosos? Idade Média. Quem era quem mandava neste período histórico? A igreja. Vai lá. Diz não pra eles ainda hoje e vê no que dá. Vai. Experimenta.

Portanto, o não. Cada evolução do conhecimento vem de uma posição negativa frente à antiga. Giordano Bruno – e não Galileu Galilei – tentou provar, em resumo, que a terra não era o centro, e sim o sol. Morreu queimado. Ninguém te questiona quando tu dizes sim, sim, sim pra algo que está imposto. Se é “sim”, você simplesmente concorda, não tem que explicar nada, é o que é, e pronto. E a preguiça mental vence. Agora, se você sente a comichão atrás do ouvido, e não consegue aceitar, e acaba por dizer “não”, tenha medo: vão perguntar o motivo. Sempre perguntam. Experimente passar uma vida inteira dizendo não toda vez que você vê razão para isto. É o mesmo que passar esta mesma vida sendo questionado por cada coisa que você vê ou faz. Acha chato? Pode ser, às vezes. Mas o resultado disto é que você vai passar – terceira vez – esta vida inteira exercitando o seu cérebro, abrindo umas mentes aqui e ali, e se tornando cada vez mais dono do espaço que você ocupa, e mais consciente deste espaço. 

É importante lembrar-vos disto, meus caros: porque quem é consciente de sua existência sabe questionar de forma mais contundente os responsáveis por fazer com que nossa vida seja um pouco mais decente, e que, na maioria das vezes, pra não dizer sempre, falham de forma horrorosa neste quesito e nos demais. Eles se sentem à vontade pra falhar em tudo de propósito, e cada vez mais medonhamente, e descaradamente, porque você só diz sim, sim, sim. E, alguns anos depois, vêm bater nas tuas costas, e pedir teu voto. E você, de forma tristemente esperançosa, acaba fazendo o que eles mais querem: diz sim, sim, sim.

Ou não?

Fausto Suzuki

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