Crônica de hoje: A morte, o universo e tudo mais


Então, Kléber percebeu que estava pensando sobre a própria morte. O que seria sentir a morte? Como seria a sua? Derretendo? Apesar do calor, sentiu um arrepio. Foi este o grandioso momento em que decidiu que o que quer que seja que os filósofos fazem, é total e extremamente importante para cada um de nós.

Já que estava pensando no fim, foi simples colocar-se a imaginar em que consistia, como funcionava, como cheirava e que som fazia o começo de tudo. Mas se sentiu idiota em tentar colocar lógica em algo que, bem, se era o começo da lógica, não havia muito sentido em tentar colocá-la ali. Não daria muita credibilidade em qualquer coisa que pensasse sobre este ponto da questão, dali pra frente. 

Humildemente, se concentrou no universo após ter sido criado. Pensou no tamanho. Pensou bastante. Imaginou quarteirões. Não era um bom parâmetro de comparação. Lembrou que uma das formas de medir distância no universo era chamava anos/luz. Anos/luz. O tempo que a luz leva pra percorrer durante um ano. Mas… a velocidade da luz não é algo tão escalafobético que nem sabemos se um dia poderemos, através de qualquer arte que ele pôde imaginar, alcançá-la? Que diabos de cálculos os caras fizeram pra chegar a essa medida? Algo que não pode ser alcançado pode facilmente ser chamado de impossível, então como caralho eles conseguiram medir um ano do impossível? Mas então pensou que estava se desesperando à toa, porque existem experimentos científicos que revelam de forma inquestionável estes números. Não podia se deixar levar assim pelo desespero.

Mas isto não retirava o pasmo que deve ser o tamanho da coisa. Lembrou de um trecho do Guia do Mochileiro das Galáxias que dizia sobre a população do universo ser zero. Zero. Porque a divisão do infinito com a população existente nele é algo tão perto de zero, um número tão pentelhesimal, que poderia tranquilamente ser descartado. Zero. Algo tão grande, que a sua própria existência deixava de ser o que ele achava que era. Descartável.

Sentiu um incômodo grande.

Mas era realmente Kléber insignificante a ponto de ser considerado tão pequeno quanto um pouco ínfimo de nada? Não podia ser: havia algo que o assegurava de que não era tão minúsculo assim e era nada mais que o simples fato de estar raciocinando sobre algo tão complicado de raciocinar. 

Voltou a pensar nos filósofos e na importância de seu trabalho. Iria com toda certeza estudar um pouco mais sobre o universo e tudo o mais. Iria pesquisar sobre isso imediatamente. Quem sabe, com uma boa pesquisa na Internet e uma grana investida em livros, isso daria uma boa diversão. Aprenderia coisas novas. Talvez chegasse longe mesmo. 

Quis ir visitar um dia um observatório com telescópio daqueles bem aloprados, ia ser muito bom. Nem fazia ideia de como era que funcionava, mas ia ser mesmo muito divertido descobrir. A que agradecer? Sentiu-se muito feliz. Sentia-se na vibração de agradecer. Como foi mesmo que havia começado tudo aquilo, toda a viagem? Kléber olhou no relógio. Estava parado ali, esperando um ônibus há tanto tempo, nem havia percebido. Mais de hora e meia, e nada de ônibus. Isso o abalou um pouco, mas não conseguiu vencer a vontade de agradecer. Mas não conseguia lembrar. Só sabia que o que quer que aconteça dali por diante, iria querer estar bastante bem, pronto e expectante para raciocinar com essa paixão toda de novo.

Você pode verificar como tudo começou, volte ao início. E foi assim que a ciência, com toda certeza, salvou uma vida.

Fausto Suzuki

Google Bribe. Ops, Drive

 
Medo. Abrindo a página do Google pra fazer pesquisa, eu vi um link curioso. Me fez lembrar o Megaupload, Easyshare, Mediafire, ou outros sites de compartilhamento de arquivos. Já viu o Google Drive?
 
É a mesma coisa. Te dão uma mixaria de espaço pra guardar arquivos, 5GB. Tu podes aumentar esse espaço por “menos de R$ 2,50 por dia”, e ganha 25GB. Aquela coisa: teu celular pode passar pra um dono indesejado, vulgo ladrão. Teu notebook pode dar pau, teu HD pode levar o destempero, qualquer outra coisa bizarra pode acontecer e tu podes perder teus arquivos mais importantes. E agora, quem poderá me ajudar? O Google resolve com seu novo programinha. Escolha os arquivos, e faça o upload. Tudo com a beleza e facilidade de acesso que os nerds do Google conseguem fazer. Beleza, belezinha. Parece legal, parece ótimo. Mas aí, a maldita pulga atrás da orelha dá uma comichão.
 
Tenho certeza de muita gente já nem lembra mais, mas houve uma guerra na Internet. Guerra. Duvidam? Pesquisa sobre a briga entre o Megaupload e o FBI. É interessante, porque vai explicar porque tu encontras com muito mais dificuldade teus *.mp3 favoritos, o novo disco internacional da novela das sete, o CD imperdível do Fulaninho e Fulanão, a nova dupla sertaneja do momento, os Rappers Irmãos Brothers, ou qualquer outra coisa da moda. Ou filmes. Ou jogos. Ou qualquer outra coisa que realmente interesse. É difícil, cada vez mais difícil. Se tu fores tentar entrar no Megaupload, vais ver isso: 
 
Que eu leio assim:
Até onde iria o meu interesse em entrar em um nicho do mercado que é marcado pela repressão de um governo como o Americano? Sei que é rentável: com a quantidade de usuários que a Internet tem no mundo inteiro, e a quantidade de usuários que o Google possui, esses “menos de R$ 2,50 por dia”, de sei lá, 5% dos que acabem por utilizar o serviço de forma mais abrangente, resultam em uma dinheirama DESTROÇANTE. Mas é um nicho, repito, marcado pela repressão. É algo como traficar: bacana, dá status de malandro, rende uma grana alta, mas… A casa sempre cai.
 
Não acredito que o Google tenha entrado nessa pra cair.
 
Vamos aos fatos: O legado do Megaupload é grande, mas vem de um passado mais tenebroso, mais longínquo. Lembra-se de Metallica X Napster? O Napster é o “pai” dos programas do tipo “peer to peer – P2P”, aonde todos os usuários logados compartilham o mesmo arquivo. Vou tentar deixar mais claro… e-donkey, Kazaa, iMesh… Ah, sim! Esses programas que tu baixas bagulhada pela Internet através de um arquivo aglutinador chamado “torrent”. O Napster compartilhava músicas. 
 
Era legal: tu colocavas na caixa o nome da banda que queria, e clicava num botão. Ploft. Centenas de músicas disponíveis. Facinho, sem burocracia e com uma baralhada de vírus pra você. Mas os Rockers do Metallica não gostaram muito. O Lars, figura que não gosta muito de ganhar dinheiro, ficou com muito medo de que as pessoas parassem de comprar seus disquinhos, e botou o Napster na justiça. E ganhou. Jawera Naps. 
 
O personagem bonitão do filme “Rede Social”, aquele que dá a dica pro Mané de tirar o “The” do nome “The Facebook” é o tal criador do Napster (há um tempo, estava correndo o boato de que ele iria comprar a gravadora do Metallica. Doce vingança. Eu não sei no que deu, só sei que o Metallica está sem gravadora hoje em dia). Mas o que aconteceu depois é isso: você não usa o Naps, mas qualquer outro programa que faz o mesmo. E vai contra a lei. E nem se preocupa muito. Porque não é você quem vai pagar o pato… é a casa. Nesse caso, a casa sempre cai. Mais dia, menos dia, ela cai.
 
Eu só ouço Metallica em mp3. Sad, but true.
 
E então, o Google entrou nessa. Pare e pense na empresa que é o Google. Você realmente acha que esta empresa entra numa pra perder? O mundo é dos nerds, é bem claro isso. Os nerds que se autointitulavam “Anonymous” perderam, no caso do Megaupload. Mas fizeram uma grande bagunça: colocaram o site do FBI e seus serviços principais fora do ar por um bom tempo. Mas estes são os marginais da rua de trás… Chama a polícia ou dê uns tiros pra cima, e todo mundo corre. Mas o Google, mano velho. Google. Porque ele entraria nessa? Onde está a brecha? Aonde é que o dinheiro vai? E cadê  a minha fatia do filé? Vai se resumir à 5GB? Espero que sim. Não quero pagar pra ter 25GB. E, pra ver como a coisa vai acontecer de verdade, vamos utilizar este serviço da melhor forma possível: Compartilhem discos do Metallica.
 
Porque quando eu fui ver mais sobre a coisa chamada Google Drive, eu vi que já possuo arquivos guardados no tal sistema. Na boa, eu estava vendo o que a coisa fazia, e já estava nela. Tem arquivo meu de 2009. Sinistro. Se você já usou o Google Docs, vai ver que seus arquivos estão no Drive. Se for assim, sem pedir licença, caramba: não peça licença. Faça a festa, e o Google que pague suborno ou faça o que quiser pra manter a coisa funcionando.
 
E nós, vamo que vamo.
 
Fausto Suzuki

Elogio ao “não”


Estava pensando em algo para discorrer em meu post de “estreia” neste De Rocha. É um pouco sofrível tentar fazer com que as palavras corram assim. Prefiro deixar essa porta sempre aberta para que fluam, quando por bem quiserem. Mas não estou aqui de brincadeira, apesar da diversão que vou ter com toda certeza neste trabalho. Enquanto pensava, me veio à mente coisas que serão recorrentes eu falar sobre: Rock, teorias da conspiração, um artigo científico extremamente bizarro, uma crônica ou uma reclamação sobre política ou coisa que o valha.

Não. Não, não e não. Já que vou, posteriormente, discorrer sobre todas estas coisas, ah, não, não.

Não.

Então é isso. Vamos fazer um elogio ao não. Ou ao menos ver aonde isso vai dar.

Vou pretender um questionamento de leve, algo pra ser mastigado e saboreado, lenta e cancerigenamente. Lá vai: você diz “sim!” pra tudo?

(Espaço reservado para lembrar-se do nome do filme com Jim Carrey).

Certo, criatura inteligente. Ninguém pode dizer sim para tudo. Dizer sim é fácil demais, passivo demais, insosso demais, e raramente vai levantar algum questionamento, raramente vai te fazer crescer e desenvolver como uma bela e frondosa árvore. Prova: em qual lugar o “sim” é mais recorrente? Qual é o clube que exige o sim, a aceitação do que é imposto, sem explicação mais plausível do que um simples “porque é assim que as coisas são e é assim que sempre vão ser”? Isto mesmo. Tenta dizer NÃO dentro de uma igreja/templo/seita/culto. E, se for tentar, me chama, que eu quero ver. Não estou dizendo pra você não ter fé, nem nada tão drástico. Só diz não. Vai. Experimenta.

Seguindo esta mesma linha de raciocínio: Qual o período da história que conhecemos em que a humanidade mais parou no tempo, e se matou com mais gosto por conta de simplesmente não conseguir espaço pra dizer uns “não” bem gostosos? Idade Média. Quem era quem mandava neste período histórico? A igreja. Vai lá. Diz não pra eles ainda hoje e vê no que dá. Vai. Experimenta.

Portanto, o não. Cada evolução do conhecimento vem de uma posição negativa frente à antiga. Giordano Bruno – e não Galileu Galilei – tentou provar, em resumo, que a terra não era o centro, e sim o sol. Morreu queimado. Ninguém te questiona quando tu dizes sim, sim, sim pra algo que está imposto. Se é “sim”, você simplesmente concorda, não tem que explicar nada, é o que é, e pronto. E a preguiça mental vence. Agora, se você sente a comichão atrás do ouvido, e não consegue aceitar, e acaba por dizer “não”, tenha medo: vão perguntar o motivo. Sempre perguntam. Experimente passar uma vida inteira dizendo não toda vez que você vê razão para isto. É o mesmo que passar esta mesma vida sendo questionado por cada coisa que você vê ou faz. Acha chato? Pode ser, às vezes. Mas o resultado disto é que você vai passar – terceira vez – esta vida inteira exercitando o seu cérebro, abrindo umas mentes aqui e ali, e se tornando cada vez mais dono do espaço que você ocupa, e mais consciente deste espaço. 

É importante lembrar-vos disto, meus caros: porque quem é consciente de sua existência sabe questionar de forma mais contundente os responsáveis por fazer com que nossa vida seja um pouco mais decente, e que, na maioria das vezes, pra não dizer sempre, falham de forma horrorosa neste quesito e nos demais. Eles se sentem à vontade pra falhar em tudo de propósito, e cada vez mais medonhamente, e descaradamente, porque você só diz sim, sim, sim. E, alguns anos depois, vêm bater nas tuas costas, e pedir teu voto. E você, de forma tristemente esperançosa, acaba fazendo o que eles mais querem: diz sim, sim, sim.

Ou não?

Fausto Suzuki